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"It-barbudos" conquistam as passarelas; será que a moda vai pegar?

Barbudos na passarela da Iceberg para o Inverno 2011. O mais barbudo de todos (dir.) é o modelo grego Paraskevas Boubourakas - Getty Images
Barbudos na passarela da Iceberg para o Inverno 2011. O mais barbudo de todos (dir.) é o modelo grego Paraskevas Boubourakas Imagem: Getty Images

JULIANA LOPES

Colaboração para o UOL, de Milão

10/02/2011 07h00

Não se viam tantos barbudos desde os hippies da década de 70. A década de 80 trouxe os yuppies, que podemos chamar de “homens-escritório”, feitos para vencer num mundo capitalista arrumadíssimo, de terno e gravata. A década de 90 trouxe homens malhados que começaram a se permitir “curtir a vida”. O século XXI misturou realmente tudo, e o que se viu nas ruas (e na moda, já que rua e moda são ao mesmo tempo causa e consequência) foram homens de todos os estilos, sem tantos preconceitos. Quando a internet dominou o mercado, uma nova geração surgiu: a dos jovens-homens-de-negócio. E desse jeito, até a tatuagem invadiu as empresas mais importantes. Os barbudos, até então, ainda eram símbolo de desleixo.

A (por enquanto) grande novidade da segunda década do XXI são os homens barbudos. Barbudos mesmo, estilo homens da caverna. Nada a ver com o hippie dos anos 70, em geral simbolizado por um homem “fora da sociedade”. O último barbudo da moda era um misto de quem se negava ir para a guerra, ou então aquela imagem do típico americano que voltava mutilado (física ou psicologicamente) do Vietnã – vide Tom Cruise em “Nascido em Quatro de Julho”. Não, esse homem de hoje não tem esse approach comportamental rebelde hippie dos anos 70, mesmo que algumas informações estéticas tenham sido pescadas dali. “Acredito que não exista a vontade de ser vintage, embora alguns detalhes técnicos das roupas, como a modelagem skinny, venham dessa época”, comentou com a reportagem do UOL, depois do desfile masculino da marca, o diretor criativo da Salvatore Ferragamo, Massimiliano Giornetti. A Ferragamo, uma das grifes italianas mais tradicionais do mercado, abriu o desfile masculino com o modelo Hampus Lueck, barbudo. “A moda está mais relaxada e mais ‘wild’ (selvagem)”, completou Massimiliano. Os homens barbudos, para a marca, representam um look que é sofisticado mas ao mesmo tempo real. O rosto procurado é um rosto com uma beleza “intensa” e “interessante”.


A grife italiana Roberto Cavalli também abriu o desfile com um barbudo, o grego Paraskevas Boubourakas. Podemos apostar que Paraskevas não deixou a barba crescer só para pisar na passarela milanesa: em seu book apresentado pela agência Mega Models, ele ostenta uma vasta barba em todas suas últimas fotos mais importantes. Outro "it-barbudo", o americano William Lewis foi destaque na temporada parisiense de moda, desfilando para Jean Paul Gaultier. “O Lewis usa essa barba há um bom tempo, ele é um personagem único. Mas hoje pode ser visto como um dos símbolos dessa tendência”, diz Almerina Colzada, booker da I Love, que agencia William Lewis em Milão. Lewis, há dois anos, já estrelava campanhas da Calvin Klein e Diesel e em 2010 foi escolhido para um editorial na Vogue Itália. Sempre com barba.

“Percebemos essa tendência fora do Brasil e achamos que hoje em dia o homem pode ser elegante e barbudo ao mesmo tempo. A inspiração da nossa coleção foi o filme ‘Into the Wild’, por isso a presença de barbudos foi perfeita”, comenta Ricardo Bräutigam, diretor criativo e sócio da marca Äuslander, que apresentou, no Fashion Rio, uma passarela só com modelos de barba. Apenas um dos modelos era “barbudo de verdade”: Breno Votto, da agência 40 Graus, do Rio de Janeiro. “É difícil pedir para um modelo ficar barbudo. A maioria precisa ser versátil. Por isso contratamos um profissional especializado para fazer e colar as barbas nos meninos”, diz a maquiadora e hair-stylist Carla Biriba. “A barba nas últimas décadas era considerada sinal de desleixo. Hoje está voltando a ser sinal de personalidade. Existem até linhas específicas para cuidados com barba e bigode”, comenta Carla. O novo homem, então é barbudo? “O novo homem é um ‘novo-selvagem’!”, comenta o estilista Ricardo Bräutigam. "Que gosta da natureza, que sai para mochilar, mas não fica, jamais, desconectado da internet", completa.

História

  • Reprodução

    Da esquerda para a direita, Pedro Álvares Cabral, Padre Clemente 7º, Dom Pedro 1º e a rainha egípcia Hatshepsut com as barbas ao longo da história

A barba já teve destaque na história da humanidade, como símbolo de poder ou rebeldia. A rainha egípcia Hatshepsut (1478 A.C.), que se tornou faraó, usava uma barba falsa em cerimônias, como símbolo de seu poder. Uma de suas esculturas, presente no Metropolitan Museum of Art de Nova York, reproduz busto da rainha com sua barba fake. Muito depois do nascimento de Cristo, o Papa Clemente VII, em 1527, quando Roma foi gravemente saqueada, parou de fazer a barba em protesto à tragédia. A primeira e importante revista internacional de fotografia, Camera Work, de 1903, mostra retratos de inúmeros barbudos socialmente importantes, entre eles o escultor August Rodin. Mas poucos anos depois da publicação, a barba começou a sair de moda. Um homem de barba feita passou a ser considerado um homem asseado, organizado. “Mas hoje, finalmente, os homens entenderam que dá para ter uma barba bem cuidada”, diz a maquiadora Carla, que dá dicas.

Como manter a barba limpa e brilhante

Barba tem que ser cuidada como se cuida dos cabelos. A maquiadora e hair-stylist Carla Biriba dá os seguintes conselhos:

1) Depois que lavar os cabelos com xampu, passar também na barba e no bigode.

2) Quem tem cabelo compridos e usa condicionador, aproveite para colocar um pouco do creme (o restinho que sobra nas mãos) na barba, para deixá-la macia.

3) Aparar sempre a barba e o bigode. Bigode que fica em cima da boca, além de feio, não é higiênico.