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Declaração de Gisele sobre protetor solar divide opinião de médicos

Gisele Bündchen na campanha de sua marca de cosméticos naturais, Sejaa Pure Skincare - Divulgação
Gisele Bündchen na campanha de sua marca de cosméticos naturais, Sejaa Pure Skincare Imagem: Divulgação

DANAE STEPHAN

Colaboração para o UOL

16/02/2011 12h34

No lançamento de sua linha de produtos de beleza no Brasil - a Sejaa, em janeiro -, a top Gisele Bundchen criou polêmica ao declarar que não usa filtro solar. Segundo a modelo, ela não tem necessidade por não se expor mais ao sol como costumava. "Há muito tempo não tomo banho de sol. Chego à praia às cinco da manhã e saio às oito", diz.

Bastou para causar a indignação de dermatologistas, consumidores e twitteiros Brasil afora. No último domingo (13), o jornal americano "NY Post" publicou um artigo em seu site em que mandava a top "calar a boca", e aproveitava para compilar algumas das "besteiras" ditas por ela em outras ocasiões.
 
No caso específico do protetor solar, porém, nem todos os especialistas condenam a posição da top model. A esteticista e cosmetóloga Roseli Siqueira, adepta do uso de recursos naturais para cuidar da saúde e beleza da pele, vibrou com a declaração de Gisele. "Amei o que ela falou. As minhas clientes, que atendo há mais de15 anos, não usam filtro nem na praia. Elas usam chapéu, têm a pele muito bem hidratada, uma alimentação saudável e são conscientes", diz. Para ela, a principal proteção solar é a proteção natural da pele. Tratamentos invasivos, como peelings e clareadores, e o uso constante de cosméticos sintéticos desvitalizariam e acabariam com essa proteção natural. Essa seria uma das explicações para o crescente número de casos de câncer de pele, já que a pele ficaria mais suscetível.
 
"Pegou mal"
 
Coordenador da Campanha Nacional Contra o Câncer da Pele, o dermatologista Marcus Maia acredita que Gisele tenha prestado um "desserviço" ao público em geral. "O problema é a influência que uma declaração como essa pode ter sobre outras pessoas. Passamos anos dizendo que as pessoas precisam de proteção solar, e ela diz o contrário", afirma. Isso porque, para o público geral, proteção solar é sinônimo de filtro.
 
Embora, para efeito de prevenção geral, Gisele tenha sido infeliz no que falou, no dia-a-dia, o comportamento da modelo parece, para surpresa de todos, estar certo. "Se ela realmente não se expõe nos horários de maior insolação e usa camiseta e chapéu, para quê o filtro?",  declara Maia.
 
Então, por que tanta polêmica? "Porque as pessoas acham que proteção solar é só o filtro. Ao afirmar que o filtro não é necessário, as pessoas pensam que a proteção também não é necessária. Ninguém prestou atenção ao fato de que ela usa outros tipos de proteção, tão ou mais válidas, como evitar o horário de maior insolação e usar camisetas e chapéu", afirma. "Ela quis justificar que existem outras formas de se proteger do sol e está correta. Mas a declaração, como foi feita, pegou mal, e ainda foi de mau gosto no sentido comercial, de querer justificar o produto dela, que não contém FPS", completa.
  • Proteção física, como chapéus e camisetas, é uma das recomendações para quem quer manter a pele saudável

 
Chapéu protege mais
 
Ao contrário do que muitos podem pensar - e do que certamente uma boa parcela dos dermatologistas recomenda - o filtro solar, ou seja, a loção passada no corpo e no rosto, não é considerada, nem do ponto de vista médico, nem do estético, a proteção mais relevante contra o sol. "Hoje consideramos a proteção solar um conjunto de atitudes, nesta ordem de importância: evitar a exposição nos horários de maior insolação [entre 9h e 15h], ficar na sombra a maior parte do tempo, usar proteção física, como chapéus e camisetas e, em quarto lugar, aplicar protetor solar nas áreas expostas".
 
Além dos filtros
 
Para o dermatologista, Gisele Bündchen perdeu a oportunidade de criar uma discussão saudável e bem-vinda sobre o papel do filtro solar na proteção como um todo."O filtro talvez seja a pior das proteções. Primeiro, porque não é aplicado como deveria. A quantidade recomendada é de 2 mg por centímetro quadrado, mas vários estudos mostram que os brasileiros aplicam até 0,5 mg", diz Maia. E, o que é pior: por estarem usando um creme, as pessoas acreditam que estão 100% protegidas e deixam de lado outras atitudes necessárias.
 
A reaplicação também não é feita da forma correta. "O filtro deve ser reaplicado a cada duas horas, no máximo. E se entrar na água ou transpirar, tem que repor. Uma pessoa só deve repousar a proteção exclusivamente no protetor se for absolutamente dedicada em fazer a aplicação e a reposição adequadas."
 
Luz de escritório
 
Maia também é contra a obsessão pelo filtro solar. "É claro que uma pessoa que trabalha na rua não pode abrir mão do protetor, nem de chapéu e camiseta como proteção. Mas alguém que trabalha em um ambiente fechado e não se expõe de forma prolongada em nenhum momento não tem necessidade de usar diariamente, como pregam alguns", diz.
 
Ele também lembra que curtas exposições ao sol não são prejudiciais. Ao contrário, são essenciais para estimular a produção de vitamina D e ajudar na fixação do cálcio.  "A vitamina D só é fabricada no horário bravo mesmo e a exposição tem que ser sem o filtro", lembra. Por isso, para quem pega sol durante poucos minutos para ir almoçar, por exemplo, o filtro não é obrigatório. "A não ser que a pessoa precise andar 15 minutos para ir ao restaurante, ou se tiver uma pele extremamente clara e sensível".
E quanto à indicação de alguns médicos de usar filtro à noite, para proteger da radiação emitida por computadores e lâmpadas fluorescentes? "Na Santa Casa de Misericórdia [em São Paulo, onde Maia trabalha], temos os fotômetros de medição de UVB, e medimos tudo isso: lâmpada, monitor... Eles não produzem nada que possa trazer qualquer tipo de problema para a pele. Nem com relação ao câncer de pele, nem com relação a manchas ou envelhecimento precoce", diz.
 
Cálculo de exposição solar para produção de vitamina D
 
O tempo de exposição solar necessário para a produção de vitamina D varia de acordo com o tipo de pele. Primeiro é preciso descobrir qual a sua dose eritematosa mínima, ou seja, em quanto tempo de exposição a pele começa a avermelhar. Se pessoa que leva 15 minutos para ficar vermelha expuser 15% de sua área corporal (equivalente a um braço) por cinco minutos vai obter 1000 unidades de vitamina D. Se essa exposição se repetir por três vezes na semana, ela vai estar saturada de vitamina D. "No nosso cotidiano, a gente consegue uma exposição que produza a vitamina D necessária", diz Maia.