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Movimento contra xampus industrializados ganha expressão; veja alternativas

Óleos vegetais e chás são alternativas aos xampus convencionais  - Thinkstock
Óleos vegetais e chás são alternativas aos xampus convencionais Imagem: Thinkstock

Suzel Tunes e Rita Trevisan

Do UOL, em São Paulo

25/03/2014 07h10

Na onda da sustentabilidade, está despontando um movimento contra o uso de produtos químicos nos cabelos. As donas de fios cacheados --em geral, mais secos, pois a oleosidade não consegue chegar até as pontas-- foram as primeiras a levantar essa bandeira, pois sofriam para manter os cachos hidratados e brilhantes com os produtos convencionais. Agora, muitas mulheres, com cabelos de todos os tipos, têm abolido os produtos industrializados ou optado por marcas que trazem formulações mais suaves.

O movimento que nasceu nos Estados Unidos por iniciativa da cabeleireira Lorraine Massey, autora do livro "Curly Girl" (garota cacheada, em tradução livre do inglês), já tem até nome: "no poo", um trocadilho com as palavras shampoo e poo (fezes, em inglês). Dessa expressão, nasceu outra, "low poo", para designar o uso reduzido de xampus (low, em inglês, significa baixo) ou a troca por produtos com menos ingredientes considerados agressivos ao cabelo. No Brasil, o grupo do Facebook denominado No/Low Poo já conta com mais de 14.000 integrantes.

As adeptas da técnica de não usar xampus costumam lavar os cabelos simplesmente com água ou com uma solução de água e bicarbonato de sódio, que faz as vezes de agente de limpeza. No lugar do condicionador, usam vinagre de maçã para dar brilho. Já as adeptas do "low poo" trocam o xampu convencional por produtos livres de sulfatos, substâncias que deixam os cabelos mais ressecados.

Adeptas
Mariana Morena, de 22 anos, aluna do curso de Gestão Ambiental da Universidade de São Paulo, testou e aprovou as novas técnicas. “Meu cabelo é enrolado e os fios cacheados são naturalmente mais ressecados. A técnica de 'no' e 'low poo' são perfeitas para esses casos", diz. E continua: "Mas também pode funcionar em cabelos oleosos, porque ajuda a manter a quantidade de óleo em equilíbrio”. Ela ainda conta que tentou usar vários produtos considerados de qualidade e o cabelo continuava desidratado. Então, partiu para o "co-wash", lavando os fios apenas com o condicionador, que costuma ter menos sulfatos que os xampus.

Em poucas semanas, obteve um ótimo resultado.“Já não preciso mais gastar rios de dinheiro com xampus que não funcionam. Eu aprendi a ler os rótulos, passei a entender a função de cada ingrediente e hoje eu consigo decidir se ele é realmente eficaz para mim ou não. Acho meio bizarro pensar em colocar algum produto em contato com o meu corpo sem ter a menor ideia do que existe lá dentro”, completa Mariana.

Já a designer Marcela Mölk, de 32 anos, mudou a forma de lavar os cabelos para ter coerência com um estilo de vida que busca saúde e sustentabilidade ambiental. “Quando engravidei do meu primeiro filho, há cinco anos, decidi que não colocaria na cabeça ou na pele nada que não pudesse comer”, diz Marcela. Ela começou usando sabão de coco e, ainda assim, tinha dificuldade em encontrar um produto feito apenas com o óleo da fruta, sem perfume ou corante. Hoje, tem usado uma solução de água com bicarbonato de sódio. “Meu cabelo fica limpo sem agredi-lo”, diz.

De fato, sempre que tem vontade, Marcela Mölk adiciona duas gotinhas de algum óleo essencial ao vinagre que utiliza para enxaguar os cabelos. Os óleos essenciais (que não devem ser confundidos com perfumes) são substâncias naturais que podem ser adquiridas em farmácias de manipulação. Mas ela garante que a adição de aroma pode ser dispensada tranquilamente: “Ao secar, o cabelo não fica com cheiro de vinagre”, garante.

Natural nem sempre é saudável
Na internet, proliferam diversas receitas caseiras para tratamento capilar, que incluem misturas com mel, óleos e frutas. Contudo, nem todas recebem o aval dos especialistas. O tricologista --dermatologista especializado em cabelos e pelos-- Valcinir Bedin, presidente da Sociedade Brasileira do Cabelo, destaca que o fato de uma substância ser natural não a isenta de riscos. E a engenheira química Sônia Corazza, pesquisadora há 40 anos na área cosmética, também reforça o alerta: “A maioria dos casos de emergência dermatológica, no Hospital Universitário da Unicamp, é provocada por preparações caseiras”.

Na lista negra dos especialistas, figuram as frutas cítricas --em especial, o limão--, que costumam ser incluídas nas receitas para fios oleosos. Quando entram em contato com o Sol, elas podem provocar manchas escuras e até queimaduras. Alguns vegetais usados em preparações domésticas, como a erva-cidreira, também têm ação fotossensibilizante, explica Sônia. “Na dúvida, evite os ingredientes que têm aroma cítrico”.

Quanto a outros ingredientes alternativos, Bedin afirma que muitos desses produtos nada mais são do que variações de substâncias químicas já utilizadas nos cosméticos industrializados. É o caso, por exemplo, do bicarbonato de sódio, um sal com ação similar ao do sulfato de sódio. A única vantagem do preparado caseiro, em relação ao produto oferecido nas gôndolas, poderia ser, talvez, um maior controle da dose do ingrediente utilizado.

O dermatologista não se diz particularmente contrário ao uso de produtos sintetizados em laboratório. “Devemos nossa longevidade à Química”, afirma. Por outro lado, reconhece que as indústrias de cosméticos, às vezes, exageram na dose. “Quanto mais agente limpante o xampu contém, mais eficiente ele parece. Só que o excesso da substância detergente retira o manto hidrolipídico que protege os cabelos, deixando-os mais frágeis”. Para evitar o problema, reduzir ao máximo a quantidade do produto e lavar os fios em dias alternados são os principais conselhos do médico.

Para a engenheira química Sônia Corazza, uma boa alternativa aos industrializados seriam os sabões artesanais, feitos de óleos vegetais. “O processo de saponificação não é tão simples para se fazer em casa, mas bons produtos são encontrados facilmente em lojas de cosméticos naturais”, diz. Mas, para quem quer testar produtos caseiros, os especialistas sugerem algumas receitas que podem ser utilizadas sem prejuízos à saúde. Veja a seguir:

Para limpar: use uma colher de sopa de bicarbonato de sódio (15 ml) para cada copo de água, no caso de cabelo oleoso. Quem tem cabelo seco pode usar uma colher de chá (5 ml) de bicarbonato. Basta massagear todo couro cabeludo com a solução e enxaguar.

Para finalizar: o vinagre deixa os cabelos mais brilhantes. Para cada xícara de água, use uma colher de sopa de vinagre. Prefira o de maçã, que tem menor índice de acidez. Não precisa de enxague.

Para tratar: no caso de fios secos, faça uma máscara de banana. Junte uma banana, três colheres de sopa babosa (a folha pode ser comprada na feira; basta cortá-la e extrair a goma com uma colher) e bata no liquidificador. Massageie, deixe agir por 20 minutos e lave com água em seguida. No lugar da banana, você também pode usar abacate. As duas frutas contêm óleos naturais. Já a babosa (aloe vera) entra com sua ação hidratante.

A máscara de mel também serve para fios secos. Junte uma clara de ovo, uma colher de sopa de azeite (ou outro óleo vegetal, como o de coco) e uma colher de sopa de mel. Deixe agir por 20 minutos e enxague bem. Além de hidratar, o mel tem ação antisséptica, que auxilia na prevenção da proliferação de bactérias e fungos.

No caso de cabelos oleosos, os especialistas recomendam o chá de camomila. A planta remove o excesso de oleosidade e tem ação calmante, diminuindo a eletricidade estática e o efeito frizz do cabelo. Para tirar proveito, basta fazer um chá com a planta, deixe o líquido esfriar e massageie o cabelo com o produto. Depois, enxágue com água. Outra alternativa é o chá de alecrim: ferva a água, desligue, mergulhe um raminho de alecrim fresco e espere esfriar. O alecrim tem ação antioxidante e ajuda a equilibrar a oleosidade.