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Esmaltes das novelas: saiba como é feita a caracterização das personagens

Catarina Arimatéia

Do UOL, em São Paulo

21/08/2015 07h00

As loucas por esmaltes já sabem: a cada novela, novas cores vão frequentar as unhas e fazer a alegria das aficionadas por beleza. Afinal, as produções lançam tendências e fazem a moda acontecer. Mas nada é escolhido por acaso --das peças de roupas e cortes de cabelo às tonalidades de esmaltes-- e quem decide o que as personagens vão usar, em geral, é a direção de caracterização das emissoras.

“As cores que vão nas unhas são definidas de acordo com a personalidade de cada papel”, diz a caracterizadora Dayse Teixeira, da novela “Verdades Secretas”, da TV Globo, ao UOL Beleza. “E são levados em conta vários dados. Por exemplo, se ela vai ser rica, pobre, brega. É muito importante fazer esse trabalho em parceria com o figurino, mas normalmente a cor é escolhida pelo caracterizador. Um ajuda o outro”, acrescenta.

Colaborador assíduo das novelas da TV Globo há 15 anos, o beauty artist Fernando Torquatto, cujo trabalho mais recente foi o de consultoria de beleza de “Babilônia”, exalta a importância do trabalho em grupo. “Posso até separar minhas referências, mas elas só terão relevância se combinarem com o figurino”, afirma.

Torquatto diz ainda que a escolha das tonalidades que vão nas unhas é um processo muito especial por causa da atuação. “[As unhas] Viram um arremate final. Em novela, as mãos falam”, diz ele. “As personagens gesticulam muito”, complementa Dayse.

Para criar os visuais, tanto o beauty artist como a caracterizadora ficam ligados em tendências internacionais e nacionais. Principalmente no caso de “Verdades Secretas”, em que a história se passa no mundo da moda. “Pesquisamos referências em desfiles e pegamos o que está em alta. Por exemplo, os esmaltes cintilantes, porém foscos, estão bombando em Nova Yorke estão na novela”, conta Dayse.

Ainda assim, alguns clássicos nunca perdem o seu lugar. “Nunca vou deixar de usar algum tipo de vermelho em uma personagem. Vermelho sempre vai contar uma história”, fala Torquatto.

Pluralidade
Nem sempre as atrizes usam a mesma cor de esmalte durante toda a novela. Há uma paleta a escolher, mas geralmente bem fechada, com não mais do que três ou quatro cores. A cor depende do desenvolvimento da personagem ao longo da novela, das situações pelas quais ela passa, dos eventos de que participa. 

No mês de julho, o esmalte vinho usado pela personagem Regina (Camila Pitanga), de “Babilônia”, estava entre os mais cobiçados pelas espectadoras. Na primeira parte da novela, no entanto, a personagem usava uma tonalidade metalizada de champanhe.

Cores do antigo Egito
No caso de “Os Dez Mandamentos”, da TV Record, a caracterização das personagens incluiu um estudo detalhado do historiador Maurício Santos sobre o antigo Egito. De acordo com o pesquisador, as unhas do faraó Pepi, da 6ª Dinastia, eram cobertas por finas folhas de ouro, fato comprovado quando sua múmia foi encontrada. Já a henna era utilizada para cobrir as unhas de outros nobres.

Marcelo Ancillotti, coordenador de maquiagem e visagista da novela, conta que as cores de esmalte foram definidas de acordo com o que as pessoas tinham à mão na época, como pó de ouro, pó de cobre, henna e pó de pedras preciosas em tons de azul e verde. “Ouro é ouro, dourado. Cobre também. Mas, a partir da henna pura, vamos para novas cores”.

A henna e os pós azulados e esverdeados eram diluídos em resina para obter outras tonalidades. Marcelo lança mão disso para fazer caracterizações diferentes ao longo das diversas fases das personagens. “Nada é aleatório, tudo é pensado. A personagem Henutmire (nos primeiros capítulos vivida pela atriz Mel Lisboa, depois por Vera Zimmermann), tinha unhas em azul mais claro no início, conforme foi envelhecendo o tom foi ficando mais escuro”, fala o visagista.

Tons que fogem de verdes, azuis, cobres, dourados e pretos foram abolidos, por não estarem de acordo com as informações da época. Só depois que todo o processo de descoberta de tonalidades é realizado, aí sim a equipe passa a procurar as tonalidades em esmaltes comuns. E é só nesse momento que o antigo Egito se cruza com o mundo contemporâneo.