Clichê, Allure Homme Sport, da Chanel, poderia ser vendido como commodity em Chicago

por Chandler Burr, do "The New York Times" *
Notas Perfumadas

  • Criadora: Chanel Avaliação:

Os aromas são construídos a partir de filosofias e estéticas muito diferentes e acabam diferindo fundamentalmente uns dos outros. O trabalho de todos os meios de expressão artística, da pintura à literatura, se encontram nesta posição. A música, por exemplo, pode ser pura arte (Bach), arte intelectual (Schoenberg), filosofia política (Dylan) e um produto comercial (Ashlee Simpson).


 





Allure Homme Sport ilustra esta afirmação, talvez melhor do que qualquer outra fragrância. A Chanel ainda usa matérias-primas excelentes e caríssimas em seus perfumes: o Chanel No. 22, criado por Ernest Beaux em 1922, reeditado pelos perfumistas Jacques Polge e Chris Sheldrake e reintroduzido no mercado no ano passado, é uma das maiores expressões de pura arte. (É um floral).

Rossy de Palma, de Antoine Lie e Antoine Maisondieu para Etat Libre d'Orange, é arte intelectual (os cheiros de rosa mais sangue), e L'Eau d'Hiver, de Jean-Claude Ellena para Frederic Malle é filosofia política (utopia provocadora).

O Allure Homme Sport, de Polge, é um produto comercial.

Que a Chanel lance uma fragrância cuja única razão de existir é o lucro não é um excesso. Chanel é uma empresa que busca o lucro. E Allure Homme Sport é, em todas as normas técnicas - difusão, estabilidade, estrutura -, uma máquina precisa. Este é exatamente o problema: é uma máquina, de um tipo muito singular.

Esta é a versão da Chanel para o clichê masculino, o odor equivalente ao "Homem-Aranha 2" e uma fórmula infinitamente reembalada. O clichê masculino tem, sempre, cheiro de um cítrico genérico e de condimento genérico com um toque metálico de alumínio.

Como os ingredientes de um blockbuster de ação de Hollywood, os ingredientes não mudam: jogue um pouco de acetato de linalil para simular a bergamota, di-hidrogeraniol para imitar o limão, diidromircenol para sabão em pó (o tenista no chuveiro) e galaxolide para o almíscar sintético e barato. Pronto. (Não há nada de errado com os materiais sintéticos; a falha aqui está na falta de imaginação).

O clichê vende - homens o compram como robôs -, então os marqueteiros adoram. É barato para fazer, então os contadores adoram. É fácil, então o pessoal da criação adora. Kenzo Pour Homme, cheio de metil-benzodioxepinona para acrescentar um falso cheiro de brisa do mar, está permanentemente no alto da lista dos mais vendidos na França, gerando muito dinheiro. O L'Homme, de Yves Saint Laurent, pode ser encontrado na Bloomingdale's de Lexington, o Acier Aluminium, da Creed, é encontrado na Bergdorf Goodman da 5ª Avenida, Derek Jeter Driven pode ser encontrado no Walgreen, em qualquer canto. Todos eles têm exatamente o mesmo cheiro.

E o Allure Homme Sport, de Chanel? Sem dúvida, ele tem as versões mais nobres das matérias-primas que estão na fórmula, é uma das versões com mais qualidade do clichê masculino no mercado. Mas não interessa.

Não é um perfume, na verdade. Os clichês masculinos são qualquer coisa. São um produto olfativo inteiramente substituível e poderia ser comercializado no mercado de commodities de Chicago, ao lado do trigo, das tripas de porco e do aço.

Allure Homme Sport é um best-seller. Ele garante milhões de dólares para a maison Chanel. É uma escolha lógica vendê-lo. Mas não é um motivo para admirar esteticamente esta escolha, e certamente não é um motivo para usá-lo.

Allure Homme Sport
Chanel
uma.chanel.com
 

Tradutor: Érika Brandão

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