Apesar de maravilhoso, Rose Oud é um perfume tão sussurrado que fica difícil ouvi-lo

por Chandler Burr, do "The New York Times" *
Notas Perfumadas

  • O perfume Rose Oud by Kilian
    Criadora: Kilian Gênero: Unissex Avaliação:

Kilian Hennesssy é um jovem francês com a boa estrela de ser herdeiro de uma fortuna – é óbvio de qual fortuna estamos falando – e ele decidiu criar uma das coleções de perfumes mais suntuosas e elegantes que existem, uma reunião de materiais da melhor qualidade e custos que induzem à vertigem. A perfumista não-oficial para sua maison epônima é Calice Becker, uma das artistas mais talentosas que trabalham neste meio: ela criou oito das dez fragrâncias da coleção (as outras duas foram criadas por Sidonie Lancesseur). Embora as matérias-primas que Becker escolheu para construir os perfumes sejam primorosas, devo admitir que mesmo depois de várias tentativas de usar cada um deles, não entendi exatamente qual a intenção da coleção.


Talvez seja a sacada impraticável e pretensiosa de Kilian de usar barris de conhaque pretos-ônix como recipientes com refil dentre seus frascos extraordinariamente caros. Talvez seja a política igualmente pretensiosa de dar dois nomes para cada perfume. Ou talvez seja eu, que esperava mais das fragrâncias. Estou completamente aberto para a possibilidade de ser o problema. Dito isto, quando comparo os Kilians com os Byredos e com os Frederic Malles – coleções em que cada perfume possui uma personalidade forte e muito individual – eles se transformam em um grupo de fragrâncias pálidas, que se retraem, e cujos membros mais fortes deixam, quanto muito, uma memória indistinta.


Beyond Love, por exemplo, é néroli puro durante 10 segundos. Mas então, seu amargor desaparece feito um iceberg sob efeito do aquecimento global e dá lugar a uma tuberosa assexuada, como o seminal Carnal Flower, de Malle, em 2005, só que sem as garras. É adorável, certamente, mas não nos faz sorrir. A Taste of Heaven faz lembrar Pour Un Homme de Caron, sua lavandin (o primo tosco da lavanda) salpicada com cheiro de corpo. Mas ao usá-lo, sinto como se estivesse acampando em uma floresta de pinheiros. Prelude to Love é uma relativamente típica água-de-colônia com indícios de um ângulo floral. Muito néroli. Levemente amargo. Um amor casto, como o de um chefe pelo empregado favorito. Por outro lado, acredito que a crueldade do Cruel Intentions esteja na recusa em aceitar seu ângulo mais complexo – os aspectos da baunilha aparecem depois de cinco minutos. Conversar com uma altiva estrela do cinema dos anos 30 devia ser como usá-lo, com toda sua intocabilidade e isolamento.


Por outro lado, algumas fragrâncias são o oposto de fracas. Se fosse possível ter um choque diabético com rosas, Liaisons Dangereuses seria mortal. Se eu tivesse que adivinhar, diria que ele está carregado de lactonas e hidróxi-butil tiazoles, que apresentam um cheiro de leite artificial: o obcecado por panna cotta vai achar delicioso. A Starbucks poderia fazer um ótimo drinque com ele, seria um latte perfumado com rosa absoluta. Mas a doçura de Liaisons empalidece perto dos níveis açucarados de Love, que é mais alto que o nível do algodão-doce. Ultracalórico nem começa a descrever Love. Se copos de leite fossem comestíveis e você fizesse uma mousse com eles, somados a xícaras de açúcar, chegaria mais perto.


Os outros são só estranhos. Straight to Heaven, criado por Lancesseur, abre com palha e poeira em um celeiro numa noite de verão, passa pela névoa de um hospital e aterrissa na madeira – encharcada de álcool. Mas você não pensa em cedro, pensa numa madeireira.
 

Dois novos Kilians acabaram de ser lançados. Pure Oud é uma versão mais suja de Safran Troublant, do L’Artisan Parfumeur, um dos mais primorosos perfumes já criados: sedoso, translúcido, fumaça cálida: é a Índia idealizada. Pure Oud, entretanto, é açafrão com um pouco da fumaça vinda de uma fogueira de beira de estrada na Índia.


E temos também o Arabian Nights Rose Oud, mais conhecido somente como Rose Oud. Ele tem análogos no mundo real: Moxie, um refrigerante estranho, meio amarguinho, e sarsaparilla, outra mistura frisante e estranha. A rosa aqui é silenciosa e cristalina. É um perfume maravilhoso, mas é tão sussurrado que fica difícil ouvi-lo. Por que criar um perfume que murmura? Oud é um tipo de resina absurdamente forte, e talvez a brincadeira de Becker aqui tenha sido o de domesticá-lo para criar um acorde no qual a rosa saísse na linha de frente. Talvez os perfumes com oud tenham se tornado clichês, e estou sendo cínico. Afinal, Becker equilibrou rosa e oud. Só não sei por que ela construiu um acorde tão sussurrado. Talvez seja eu, que não consigo entender.
 

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