Perfume Clinique com mais de 30 anos supera maioria dos lançamentos

por Chandler Burr, do "The New York Times" *
Notas Perfumadas

  • Criadora: Clinique Gênero: Feminino Avaliação:

O contexto histórico talvez seja o problema mais complexo e persistente em qualquer tipo de crítica. Em que era, e sob que estética determinado objeto foi criado? Como podemos criticá-lo, uma vez que foi concebido para pessoas cujas sensibilidades diferem das nossas? Ele faz sucesso porque dialoga conosco hoje ou porque ele dialogava com eles no passado?



Os perfumes clássicos enfrentam tal dilema. Evidência 1: os Guerlains da pré-guerra. Se os clássicos são - para usar um termo da indústria - "reorquestrados" (atualizados para se enquadrar ao estilo olfativo contemporâneo e assim vender mais em 2009), então esqueça. Estas fragrâncias são equivalentes às sonatas de Beethoven recriadas como um mash-up [ténica que junta elementos de duas músicas diferentes pra criar uma terceira] produzido pelo Jay Z. O que não é um problema, pois têm apelo entre os mais jovens e acabam vendendo, mas deixam de ser Beethoven.

Por outro lado, com o nível de fidelidade às suas versões originais do século 19 ou 20 que estas fragrâncias carregam, o problema do contexto histórico vem à tona. Digamos que vamos usá-los hoje como eram no passado, e tomemos o Aromatics Elixir, da Clinique, como caso de estudo.

Lauder, que criou e é dona da marca Clinique (Evelyn Lauder me disse em certa ocasião que ela e seu marido, Leonard, estavam dirigindo por uma pequena cidade na França quando viu a placa de uma farmácia, "Clinique", e o foco e a forma da marca lhe surgiram instantaneamente), lançou Aromatics Elixir em 1971. Para contextualizarmos, Diorella é de 1972, Opium de 1977 e Beautiful, de 1985. A fragrância teve direção criativa da co-fundadora da Clinique, Carol Phillips, e foi construída pelo lendário perfumista da IFF Bernard Chant.

Eu nunca gostei. Ela saía do frasco falando francês - em alto e bom tom, e com uma solene formalidade. Naquela época, ainda se usava abertamente cheiros animais - como o cheiro de axilas peludas, considerado feminino - tome como exemplo o Miss Dior, de 1947, que eu considero impossível de ser usado hoje em dia. Borrife um pouco de Aromatics Elixir, e seu caráter floral não é o que reconheceríamos hoje em dia como tal, com o jasmim extremamente marcante, como o cheiro corporal, e com a rosa se afogando em sálvia e musgo de carvalho. O frescor do vetiver e da verbena acabou se rendendo incondicionalmente à mistura obscura. Passe um pouco e volte instantaneamente aos tempos de sua avó.

Então espere um pouco, e algo acontece. No verão passado eu estava no Isham Park, em Nova York, quando senti um perfume extremamente sedutor. Era magnífico. Passava muito longe das tropas neon, pop e doces que andam em voga atualmente, assim como do frescor cítrico ou da anorexia oceânica dos anos 90. Era um floral, rosa e jasmim, com um toque de uma maravilhosa madeira envelhecida, pesada e cheia de substância - completamente coerente, com sombras, luzes e pontos negros. Eu segui o cheiro por cerca de 70 metros e finalmente me deparei com uma mulher de uns 50 anos, que me olhou com ceticismo quando lhe perguntei o que estava usando. "Aromatics Elixir", ela disse.
- Quando você o passou?
- Há pouco mais de uma hora.
Ele era perfeito: construído com perícia, mais profundo e bem cuidado que 90% dos lançamentos do século 21. Ao julgar somente pela sua primeira hora, eu daria, no contexto atual, dois frascos. Mas ao julgá-lo depois de ter saído do frasco, entrado em contato com o ar e de ter suas sombras dissipadas, ou seja, quando ele começa realmente seu trabalho, ele tem que ganhar cinco.

Aromatics Elixir
Clinique
www.clinique.com

 

Tradutor: Erika Brandão

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