Escale à Pondichéry, da Dior, cheira a coisa barata

por Chandler Burr, do "The New York Times" *
Notas Perfumadas

  • Criadora: Dior Gênero: Feminino Avaliação:

A primeira questão - na verdade, possivelmente a única - a ser feita sobre Escale à Pondichéry é: Como isso pode acontecer a uma maison como a Dior? A coleção de fragrâncias da Dior inclui obras clássicas criadas pelo lendário perfumista Edmond Roudnitska (Diorella e Diorissimo); perfumes contemporâneos maravilhosos e exclusivos, considerados obras de arte tanto quanto qualquer outro criado para uma marca de nicho (Bois d'Argent, de Annick Menardo ou Eau Noire, de Francis Kurkdjian); triunfos modernos e luxuosos para as massas como J'adore, de Calice Becker; sequências que evoluem e, surpreendentemente, melhoram (como o excelente Pure Poison, que lembra um pedaço de vidro da garrafa de Coca-Cola, que foi polido ao longo de décadas, até se transformar em algo suavemente translúcido no fundo de um riacho). Como pode uma maison como esta produzir algo como Escale à Pondichéry?



O primeiro da série, Escale à Portofino ( "escale" pode significar escala, porto de escala ou estação de reabastecimento), que Dior lançou há exatamente um ano, foi uma bela água-de-colônia padrão, cítrica e condimentada ao estilo do século 19 que - como quase todas as novas águas-de-colônia - implorou pela resposta à questão: "Muito bem, mas por quê?" Colocar mais uma água-de-colônia no mercado é como a acrescentar mais um tipo de cereal matinal às prateleiras do supermercado. Portofino, publicamente atribuída ao perfumista da maison Dior, François Demachy, era, pelo menos, um alfabetizado funcional e, com certo esforço, conseguiria manter uma conversa agradável até o fim.

Não era um bom prognóstico para os Escales futuros, mas ele nunca nos prepararia para nada minimamente parecido com o desastre que é Escale à Pondichéry.

Pondichéry é a tradução para o francês de Pondicherry, uma cidade litorânea no estado indiano de Tamil Nadu, que já foi colônia francesa: o lugar não traz absolutamente nenhuma relevância palpável para o perfume. A fragrância cheira coisa barata, e se colocarem dinheiro na fórmula, ela vai continuar tão imperceptível quanto qualquer ligação geográfica com o perfume homônimo - e é uma cópia descarada do Eau de The Vert, da Bulgari, guarnecida com a casca de um limão. Acrescente sal de frutas e gelo, e depois de 15 minutos ele se transforma em um refrigerante-nada de limão antes de sumir pelas frestas do chão do bar.

De acordo com o comunicado de imprensa da Dior, Demachy selecionou óleos de específicas plantações indianas de jasmim-árabe e chá preto, "originado de um extrato que apresenta um longo processo de fermentação no qual o chá é trabalhado com uma abordagem de 'folha', sugerindo uma densa vegetação e?" bom, ele continua nessa linha. Sério?

Eu não ficaria nada surpreso se Demachy tiver pouco a ver com o perfume. Suponho que, entre reuniões, ele supervisionava, apressadamente, o perfumista júnior, que foi quem realmente construiu o cheiro. E suponho que o "diretor criativo", crédito atribuído a John Galliano - estilista da grife Dior -, é designação obrigatória de um escritório de relações-públicas. O até então herdeiro de Chanel, Demachy é um dos verdadeiros peritos na arte da perfumaria trabalhando no momento. O chefe executivo, Bernard Arnault, nomeou-o diretor de desenvolvimento olfativo de todos os aromas da Louis Vuitton Möet Hennessy em 2006. E acho que o que estamos cheirando aqui é a prova do quanto o império do luxo de Arnault o levou ao limite do aceitável. Alguém dormiu no ponto.

Das sete pessoas que se sentam perto de mim no "New York Times", nenhuma gostou de Pondichéry. Um disse que o acorde de fundo tem o cheiro do sabonete Ivory (verdade), outro disse que o cheiro era do sabonete Irish Spring (também verdade), e outra foi ao banheiro feminino e lavou o braço até o perfume ir embora. Eu não sei qual foi o sabonete que ela usou.

Escale à Pondichéry
Por Dior
www.dior.com/
 

Tradutor: Erika Brandão

UOL Cursos Online

Todos os cursos