Amado e odiado desde seu lançamento, Flowerbomb by Viktor & Rolf é o novo Angel
por Chandler Burr, do "The New York Times" *
Notas Perfumadas
- Criadora: Viktor & Rolf Gênero: feminino Avaliação:
Desde que foi lançado, em 2005, Flowerbomb tem sido um dos perfumes mais amados e odiados da nossa história recente, além de um dos maiores sucessos comerciais. Resumindo: ele dividiu e conquistou opiniões. O consultor da indústria de perfumaria Yves de Chris, que sempre sustentou que esses dois feitos andam de mãos dadas, criticou a abordagem padrão e universalista do mercado de perfumes.
Concordo que a estratégia seja estúpida. Os perfumistas são contratados para criar um produto que tenha apelo às jovens mulheres, mas também às mulheres mais velhas. Que fale com as mulheres européias, mas que fale também com as americanas e asiáticas. Que seja inovador porém imediatamente reconhecível. A ideia, claro, é que os perfumes sejam tudo para todos – o que significa que eles acabam não sendo nada, para qualquer um.
Coincidentemente, de Chris foi um dos pricipais diretores de criação do Angel, de Thierry Mugler, uma fragrância que adota como nenhuma outra a característica de ser divisora de opiniões. Angel não era nada para a maioria das mulheres, mas tudo para algumas poucas, cujo amor impetuoso (ou dependência) o manteve entre os perfumes que mais venderam na América do Norte e na Europa. Ele apresentou um novo modelo de marketing, e por acidente ou não, a L’Oreal – empresa licenciada pela marca Viktor & Rolf para produzir o perfume – usou a estratégia para criar o Flowerbomb.
Nem é preciso dizer que Flowerbomb é o novo Angel. Talvez o mais interessante sobre Flowerbomb seja o fato de ele ser um perfume relativamente convencional e adocicado, que tem o mérito de fazer um estardalhaço na hora em que surge. Aplique a fera na pele e em cerca de 15 minutos você vai sentir uma fragrância totalmente domesticada no lugar.
A equipe de criação que produziu o Flowerbomb é tão grande que sua lista parece com os créditos de “Avatar”: três diretores de criação (Karine Lebret, Pauline Zanoni e Patricia Turck Paquelier) trabalhando para dois designers (os epônimos Viktor Horsting e Rolf Snoeren), e com não menos que quatro perfumistas da gigante IFF (International Flavors and Fragrances): Carlos Benaim, Dominique Ropion, Domitille Michalon-Bertier e Olivier Polge.
Adequadamente, o perfume exibe um quê “avataresco” de tecnologia. Ele abre com um acorde sintético espalhafatoso e semi-metálico que pode impressionar muita gente, como uma versão olfativa do Axl Rose gritando ao microfone. Se a sua cabeça não for para trás pelo menos um pouco, talvez seja bom você procurar um neurologista. Quando Flowerbomb foi lançado, um dos meus editores no New York Times sentiu seu cheiro, empalideceu e o jogou para mim, dizendo: “Leve isso embora daqui!”
Fiquei bem feliz por ter levado o perfume embora. Ele é extraordinário.
Flowerbomb não tem cheiro de nenhuma flor de verdade. Bom, talvez de uma flor – copo de leite. Mas isso enfatiza um ponto: o copo de leite tem um cheiro tão forte, tão plástico e tão melodramático que se ela não existisse, ninguém acreditaria que uma planta poderia ter um cheiro daqueles. E então, depois que o Guns & Roses some, Flowerbomb rapidamente se acomoda em uma paráfrase – na verdade, quase uma paródia – de uma fragrância dos anos 70. Acrescente o odor de batom e da base da L’Oreal Bare Naturale, e ali está. O vidro de Flowerbomb foi projetado para parecer uma granada de mão, mas esta granada estava programada para explodir embaixo de um balcão de maquiagem cheio de gente na Saks.
Assim como Angel, a estratégia de dividir e conquistar é arriscada. Estudos de casos incluem o fracasso comercial Le Feu, de Issey Miyake, outro perfume amado por poucos e odiado por muitos apesar de ser uma das fragrâncias mais inventiva de todos os tempos – foi o trabalho particularmente magistral de Jacques Cavallier. Outro exemplo: M7, de Yves Saint Laurent, criado por Cavallier e Alberto Morillas, os James Camerons do mundo dos perfumes. M7 foi lançado com uma verba de marketing multimilionária, mas implodiu no mercado.
É significativo o fato de que versões mais leves e frescas surgiram a partir de cada um destes fracassos. Le Feu d’Issey Light e M7 Fresh foram feitos com primor: o último era um dos mais belos masculinos do mercado, mas que agora se foi, e ficamos todos mais pobres por causa disso. A L’Oreal também lançou algumas edições limitadas, como Flowerbomb Extreme em 2006 e Flowerbomb La Vie En Rose para a primavera (do hemisfério norte) de 2010, mas eles exaltaram o sucesso do original ao invés de eliminar seu fracasso, porque Flowerbomb lançou os dados e venceu todas as rodadas.
Isto se deve, em partes, ao fato de que é uma fragrância muito bem construída, com excelente intensidade, equilíbrio e com uma estrutura coerente até o fim. A percepção de Flowerbomb como absurdamente forte é incorreta, uma ideia equivocada que eu atribuo à sua embalagem e ao marketing muito perspicaz. Na verdade, é preciso pouco tempo para que ele vire um cheiro esplêndido e delicioso, gentilmente vanguardista e rosa neon na pele. Na verdade, o que há de mais engenhoso em Flowerbomb é seu modo esperto de ludibriar o consumidor, nos moldes do Angel: ele surge como Guns & Roses mas tem a performance da Beyoncé.
Extremamente inteligente. E as vendas comprovam isso.