Design ambientalmente responsável e atraente: como resolver essa equação

Alice Rawsthorn

04/09/2011 10h00

LONDRES – O design deveria ser ambientalmente responsável? A única resposta sensata para esta questão é “sim”. Mas se você pedir para um grupo de designers definir o que significa o termo, cada um provavelmente dará uma resposta diferente. Mas há um ponto em que eles devem concordar: os exemplos que mais fazem sucesso no design ecologicamente responsável sempre são os mais desejados.  

Há alguns anos, a revista Harvard Design pediu-me para explorar o assunto escolhendo um grupo de projetos contendo projetos que fossem ambientalmente responsáveis, mas que não fossem desejáveis, outro que fosse o contrário (com projetos desejáveis, mas não responsáveis), e um terceiro que combinasse as duas qualidades. Foi um modo tão interessante de enxergar o assunto que resolvi fazer isso de novo. 

1- Responsável, mas não desejável

Celular: Poucos produtos sintetizam melhor o lado irresponsável e descartável da cultura do design do que os celulares. Eles são dados, gratuitamente, na esperança de que isso faça com que a gente assine contratos de serviços lucrativos. Novos estilos de telefones são então produzidos às pressas para nos incitar a assinar ainda mais contratos. Telefones quebrados invariavelmente são repostos e não consertados, e é por isso que os aterros sanitários estão entupidos de corpos plásticos dos modelos indesejados.

Parabéns para a empresa sul-coreana Samsung por ter criado o Replenish, um smartphone feito com 82% de material reciclável, inclusive um case feito com 35% de plástico reciclado. A embalagem é totalmente reciclável e impressa com tinta à base de soja. Você pode também comprar a capa da bateria que duplica o tempo de uso, por ser um carregador solar. A mancada? A beleza, claro, está nos olhos de quem vê, mas para os meus olhos o Replenish parece horrendo: suas formas são grosseiras, suas cores são espalhafatosas, sua tipografia é cafona. E ainda há mais uma mancada: usar o Replenish é irritante e complicado devido ao teclado pequeno e apertado e ao sistema operacional trabalhoso.

Cadeira: cadeiras, cadeiras, cadeiras. Revistas de design, livros e museus estão entupidos delas, a maioria escolhida pela aparência, às vezes pelo modo como foram feitas, mas raramente pela sensibilidade ecológica. A indústria dos móveis tem sido decepcionante e morosa na tentativa de abraçar suas responsabilidades ambientais. Magis, a fábrica italiana, deu um primeiro passo ao trabalhar com o designer francês Philippe Starck e seu colaborador catalão Eugeni Quitlet na Zartan, uma cadeira cujo assento e estrutura serão feitos de um material orgânico especialmente formulado que será tanto reciclável quanto biodegradável.

O material ainda está sendo desenvolvido, mas a Magis revelou um protótipo da Zartan na Feira de Móveis de Milão, em abril. Assim como o celular Replenish, da Samsung, ela ganha vários eco-pontos, mas muitos poucos pontos quando se trata do visual. Vamos torcer para que o Starck e o Quitlet tenham dado um jeito no seu visual quando ela entrar em produção. Há, afinal, várias outras cadeiras menos responsáveis para o consumidor escolher, muitas delas criadas pelo próprio Philippe Starck.

2- Desejável, mas não responsável

Infelizmente há uma longa lista de coisas que são tentadoras e desejáveis, mas que não são ambientalmente responsáveis. Carros, por exemplo. Por que os designers de veículos econômicos parecem insistir em impor a falha estilística dos modelos beberrões de gasolina sobre aqueles? E quando poderemos dirigir um carro elétrico ou movido a hidrogênio que seja tão atraente quanto um belo exemplo, como o Citröen DS19?

O mesmo pode ser dito sobre muitos outros produtos, inclusive a humilde lâmpada. Ambientalmente falando, a lâmpada incandescente tradicional é um caso perdido: somente 15% da energia que ela gera é utilizada para produzir luz. Os outros 85% são gastos na forma de calor. Apesar das vultosas quantias investidas no desenvolvimento de fontes de luz com energias eficientes, até agora nenhuma delas se equiparou à luz morna e cheia de alma da incandescente.

3- Responsável e desejável

Até bem recentemente, os designers dedicavam muito do seu tempo produzindo coisas: objetos, imagens, espaços, veículos, e assim por diante. Agora que muitos de nós já possuímos mais coisas do que precisamos e que a crise ambiental está piorando, os designers estão usando cada vez mais suas habilidades para criar modos engenhosos de nos ajudar a usá-las com mais responsabilidade. Um exemplo é o WhipCar, um clube de carros online através do qual você pode alugar o seu carro para outras pessoas quando não estiver precisando dele, assim como pode alugar o carro dos outros.

Para alugar um WhipCar, você digita o seu código postal no site para descobrir quais os veículos disponíveis na sua região, nas datas especificadas. O WhipCar ganhou vida como um programa piloto, em Londres, em abril do ano passado e, desde então, vem crescendo e já representa 2.500 proprietários de automóveis por toda a Grã-Bretanha. O conceito original é continuamente recriado à medida que a equipe do WhipCar aprende mais sobre esse mercado. Hoje ele permite que os donos dos carros ofereçam descontos para clientes regulares, por exemplo, e oferece dicas para quem está planejando comprar carros com a intenção de alugá-los. 

O troféu

O objeto tem uma orgulhosa tradição na história do design, dos restos de metal com os quais Richard Buckminster Fuller construiu o primeiro dos seus domos geodésicos para servir de abrigo nos anos de 1940, ao assento de trator que Achille Castiglioni transformou na elegante banqueta Mezzadro, nos anos de 1950. Fazer novos objetos a partir de outros, antigos, hoje em dia está tão na moda que se tornou um clichê contemporâneo, exceto quando executado com a habilidade do designer italiano Martino Gamper.

Nos últimos meses, Gamper vem explorando as ruas, caçambas e mercados de pulgas de Turim, numa busca por móveis antigos e adequados para completar seu projeto mais ambicioso até o momento, “Condominium”, uma exibição que abre em setembro na Galeria Franco Noero. Será a primeira exposição de design na galeria, um dos espaços de arte contemporânea mais influentes da Itália. Todos os nove andares de prédio do século 19 (conhecido pelos locais como o Fetta di Polenta, ou “fatia de polenta”) serão recheados com novas obras do desejado mobiliário reciclado de Gamper.

Tradutor: Érika Brandão

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