Decoração e design

Como usar móveis "com design" sem cair na mesmice?

Marcel Steiner

Marcel Steiner

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    A poltrona e o pufe Barcelona, criação do arquiteto alemão Mies van der Rohe, de 1929

    A poltrona e o pufe Barcelona, criação do arquiteto alemão Mies van der Rohe, de 1929

Decoração é como a moda. As tendências vão e voltam. O que está em alta hoje pode ficar ultrapassado em alguns anos. Não gosto, porém, de modismos. O bom design é aquele que não envelhece, que acompanha a casa ao longo do tempo. Mas o design moderno voltou. E com toda força.

Acho engraçado quando ouço que uma cadeira é de design, ou assinada. Na verdade, todas as peças têm um design, ou desenho, e foram assinadas por alguém ou alguma empresa. Geralmente, quando uma peça é “de design”, significa que é uma peça moderna, desenhada entre 1920 e 1970. E que já virou um clássico da decoração.

Mas será que ter a casa cheia de peças assinadas é a solução para uma decoração bacana? Nem sempre! O maior risco é deixar o espaço com cara de showroom, sem personalidade. Por esse motivo, resolvi listar alguns conselhos para usar o design a seu favor, valorizando a decoração:

• Houve uma época em que o chique era ter uma sala bem carregada, com muito dourado, cheia de detalhes, forro de gesso rebuscado e mobiliário de época. Ou réplicas de peças clássicas, como se fosse um salão de château francês ou uma biblioteca inglesa do século 19. Hoje em dia, esse tipo de decoração virou brega. Chique agora é ter móveis leves, com linhas retas, muito cromado. Vai entender... Uma casa elegante é aquela que tem a personalidade do dono, independente do “tema” da decoração.

• As peças modernas que estão nas vitrines das principais lojas de decoração do Brasil nasceram da necessidade de mobiliar apartamentos populares na Europa na primeira metade do século 20. Tinham de ser baratas, produzidas em série e pequenas, para caber em qualquer tipo de apartamento. Essa ideia não deu muito certo e os móveis com design limpo caíram no gosto da elite a partir dos anos 1950.

• Ter móveis de design moderno é básico em qualquer projeto de decoração. Sempre uso na casa de meus clientes. Atualmente, existem réplicas bem executadas, com desenhos que já caíram em domínio público. Se você quer ter peças desse tipo em casa, o importante é que o desenho seja fiel ao original.

• Cuidado com o excesso de metais (foscos ou cromados) dentro da sala. Eles deixam a casa fria, com cara de escritório. Para contrapor, peças em madeira são a solução.

• O mesmo vale para tampos e prateleiras de vidro. Apesar da leveza, o vidro pode deixar o ambiente sem aconchego. O importante é equilibrar.

• Cadeiras Barcelona, desenhadas em 1929 por Mies van der Rohe, já viraram “carne de vaca” na decoração. Se você quer surpreender, evite. Senão sua casa vai ficar com cara de recepção de agência de propaganda. A menos que você já tenha uma maravilhosa, com um couro de qualidade, meio envelhecido. O que é bom dura para sempre. Se você tem que comprar uma nova, melhor optar por uma poltrona contemporânea, de designers jovens (e de preferência brasileiros).

• As grandes lojas de decoração, dessas onde encontramos de tudo, oferecem quase todos os clássicos do design moderno a um preço razoável. Mas não adianta comprar tudo combinando, tudo certinho, porque não vai dar certo. Prefira misturar estilos.

• Um bom exemplo do uso de peças modernas é a decoração da Casa de Vidro, onde morou o casal Lina e Pietro Maria Bardi, no bairro do Morumbi, em São Paulo. Na sala de estar, móveis desenhados pela arquiteta e por mestres do modernismo convivem em harmonia com outras peças antigas, pesadas e rebuscadas, da coleção particular do casal.

• Pode soar como se eu não gostasse do minimalismo. Não é verdade. Admiro arquitetos que sabem criar ambientes minimalistas com bom gosto, sem ficar com cara de escritório ou revista de decoração. O que dá certo são ambientes onde a arquitetura e o mobiliário dialogam com fluidez, onde um complementa o outro.

• O bom design não deve estar restrito apenas aos móveis. É preciso ter um bom desenho nos acessórios e eletrodomésticos. Adoro uma boa torradeira, uma escadinha bem desenhada, um escorredor de louças elegante. Essas peças fazem a diferença na sua casa. Pode apostar!

Marcel Steiner

Marcel Steiner é designer de interiores e mestre em história e crítica da arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP

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