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Mulher de 84 anos realiza sonho e compra moderna casa de "vidro" com escada em espiral

A fachada da casa parece uma grande caixa de vidro - somente a cobertura para o carro é feita de tijolo - Ethan Pines/The New York Times
A fachada da casa parece uma grande caixa de vidro - somente a cobertura para o carro é feita de tijolo Imagem: Ethan Pines/The New York Times

Sarah Amelar

Do The New York Times, em Los Angeles, Califórnia

02/07/2012 14h00

Los Angeles, Califórnia – A caixa de vidro com sua escada em espiral não é uma escolha óbvia para uma octogenária. Mas quando Patricia Marks pisou ali pela primeira vez, cerca de um ano atrás, não quis mais sair.

Marks, agora com 84 anos, visitou a casa na região por curiosidade e lembra, “fiquei embasbacada”.  

Naquela noite, Marks escreveu um email para sua filha. Começava com: “A vida não é justa”.

“Aqui está a casa mais moderna de todas que já vi e amei”, escreveu, descrevendo o mosaico de cerâmica azul turquesa, a cozinha compacta de última geração, a vista das luzes da cidade ao longe, a proximidade da casa da sua filha e a escada em espiral que ela sentiu ser, infelizmente, muito velha para usar.

“Acho que não dá para esperar ter muitos sonhos realizados”, ela concluiu. “Pelo menos tive a oportunidade de ver a casa, de saber que ela existe.”

Sua filha, Michelle Marks, ainda não consegue ler aquele email sem chorar. “Pensei, isso não pode acontecer: é algo tão próximo do que a minha mãe sempre quis”, disse recentemente.

Como se fosse uma colegial em Los Angeles, Patricia Marks sonhava acordada com arquitetura moderna. Rabiscava plantas baixas e se lembra de assistir, fascinada, a construção de uma escola pelo arquiteto austríaco Richard Neutra.

Como recém-casados em 1954, Marks e o marido queriam comprar uma casa do programa Case Study House, mas não tinham dinheiro. Eles acabaram encontrando uma casa estilo Tudor dos anos 20, onde criaram os três filhos e permaneceram por 51 anos.

Na época em que ficou viúva, em 2008, a propriedade ficou grande demais para ela. Mas nenhuma das alternativas “sensatas” que sua filha propôs a inspirou a se mudar. Então Michelle Marks e seu marido se ofereceram para comprar a casa de Silver Lake com ela. “A ideia de uma mulher de 83 anos morando ali pode ter parecido bem maluca”, disse a filha. “Mas se estava ao meu alcance proporcionar este recomeço para ela, não ia deixar passar a oportunidade.”

  • Ethan Pines/The New York Times

    Patricia Marks, com a neta, na casa Allyn Morris Studio, em Los Angeles

A arquitetura, como a disposição de sua mãe de abraçá-la, era arriscada. Allyn Morris, um arquiteto pouco conhecido nos círculos locais, projetou a casa de 95 metros quadrados como seu escritório e apartamento de solteiro. Mas antes de terminá-la em 1958, se casou, e em 1962, seu filho, Howard, nasceu, o que fez a família a se mudar.

Escondida quando tentamos vê-la da rua, a casa revela somente a cobertura para o carro, feita de tijolo, até que você atravesse a soleira e entre numa caixa de vidro de três andares presa em uma ladeira íngreme. A porta da frente dá para o quarto, um mezanino que fica sobre a sala de pé direito duplo.

Morris, que também estudou engenharia, divertiu-se com suas invenções mecânicas e estruturais. A fachada dos fundos, como uma janela gigante, é operada manualmente com contra-pesos amarelos e uma correia de bicicleta. A cama é presa em balanço sobre um pedestal com a largura de um tijolo, e a chuva cai dentro da casa, em uma bacia que fica abaixo do piso no andar térreo.

Quando o jovem cineasta que comprou a casa em 1995 - e então a reformou -, colocou-a no mercado em 2011, tinha a intenção de encontrar um comprador que iria cuidar do legado de Morris (que morreu em 2009, aos 87 anos). O preço pedido, de US$659 mil, atraiu muitos interessados, mas somente a família Marks recebeu uma entusiasmada referência da colega de escola de Michelle: o mesmo Howard Morris.

Até os móveis de Patricia Marks pareciam ter sido destinados para a casa. A mesa lateral que ela construiu nos anos 50 combinava com os mosaicos azuis. Sua louça azul, dos anos 50, e seu Prius vermelho repetem a paleta da construção. As cadeiras Saarinen que nunca combinaram com sua antiga casa ficaram perfeitas aqui. 

Embora a mudança tenha estarrecido alguns de seus amigos, ela segue ali, observando a lua através da clarabóia que fica sobre sua cama, observando os grandes outdoors do deck suspenso e acordando todos os dias na casa de seus sonhos.

Tradutor: Erika Brandão