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Imponente: conheça os cômodos da Casa Branca abertos à visitação

A Sala de Jantar do Estado está entre as mais grandiosas salas abertas à visitação do público - Luke Sharrett/The New York Times
A Sala de Jantar do Estado está entre as mais grandiosas salas abertas à visitação do público Imagem: Luke Sharrett/The New York Times

William Grimes

Do The New York Times, em Washington, Distrito de Columbia

05/07/2012 07h08

Washington, Distrito de Columbia - Existem algumas maneiras de entrar na Casa Branca. A primeira é vencendo a eleição presidencial americana. Difícil. Há também o jeito fácil: você se inscreve para um tour pela Casa Branca, um passeio gratuito e auto-guiado através dos oito cômodos disponíveis para visitação pública.

Na verdade, não é mais tão fácil assim. Em épocas mais calmas, os turistas simplesmente faziam uma fila na Casa Branca e entravam. Como a demanda aumentou, foi criado um guichê, em 1976, para entregar tickets para os que chegassem primeiro.

Depois de 11 de setembro, o sistema mudou radicalmente. Agora, qualquer um que queira conhecer a Casa Branca deve fazer uma solicitação através de seu representante no Congresso, que encaminha os nomes para a Casa Branca para liberação. E como o passeio é muito procurado, os formulários devem ser encaminhados com no mínimo 21 dias e no máximo seis meses de antecedência. Os solicitantes que obtiveram a liberação recebem um email com a data e o horário da visita. 

Permissão para entrar

Depois de obter a permissão, os visitantes devem aparecer no horário marcado na rua 15, entre as ruas E e F e entrar na fila do portão sudeste. 

Qualquer um que tenha voado de avião recentemente vai reconhecer o postos de identificação e escaneamento eletrônicos, embora aqui você não precise tirar os sapatos. No começo da fila, soldados do Serviço de Parques Nacionais verificam as fotos das identidades e a lista de nomes. Mais à frente, um agente do serviço secreto repete o procedimento. Enquanto isso, outro soldado entrega folhetos históricos para as crianças. Alguém, em algum lugar, avalia o público (crianças e adolescentes) com precisão. 

“Pai, escuta isso”, disse um garoto atrás de mim, enquanto estudava o documento: “Benjamin Harrison foi o primeiro presidente a instalar eletricidade, mas ele tinha tanto medo que tinha eletricistas para acender e apagar as luzes”.

Uma enxurrada de perguntas sobre os presidentes veio a seguir. O pai parecia resignado. Ele deve ter encorajado o filho a fazer algum trabalho missionário com um grupo de adultos atrás de nós, que estavam debatendo animadamente uma das maiores questões sem resposta da história: Grant liderava o exército da União ou dos Confederados?

Depois de passar pelo scanner em um prédio pré-fabricado e com jeito de frágil, os visitantes seguem em seu próprio ritmo. Não há guias. Ao invés disso, os oficiais do serviço secreto ficam à disposição para responder perguntas históricas. Mais sobre eles em breve.  

Cômodos reformados e redecorados

O piso térreo, onde começa o tour, acaba com as expectativas. O corredor é mal iluminado. Os cômodos são pequenos e pouco utilizados. Uma corda de veludo veta a entrada. É frustrante.

Eu teria gostado de ver os livros da biblioteca, mas não consegui decifrar os títulos. A Sala de Porcelanas, organizada pela esposa de Woodrow Wilson, Edith, para exibir pratos e copos usados pelos presidentes, também causou sofrimento. Ali estavam eles, os pratos presidenciais, mas muito além do alcance visual. O mesmo acontece com os objetos na Sala Escarlate, sedutoramente brilhante em tons dourados, dedicada a prataria acumulada ao longo dos anos.

  • A Sala Vermelha foi redecorada por Jacqueline Kennedy nos anos 60

Mas no corredor os visitantes podem se aproximar de um retrato em tamanho natural de Hillary Rodham Clinton, vestida em um terninho preto e sorrindo radiantemente.

Suspeito que visitantes estrangeiros, especialmente os que acham que a Casa Branca é o equivalente ao Palácio Elysée, vão embora com a impressão que o centro nevrálgico da nação mais poderosa do mundo é um projeto desorganizado e quase em ruínas no que diz respeito à arquitetura e decoração, além de uma interpretação  inexplicavelmente humilde da glória e grandeza nacionais. Eles estão certos.

Muitos dos cômodos foram usados para variadas propostas ao longo dos anos. Presidentes e primeiras-damas envolveram-se em reformas, anexos e transformações.

A Sala Escarlate, para tomarmos como um dos muitos exemplos, já foi uma sala de bilhar.

Teddy Roosevelt demoliu os jardins de inverno em 1902 e encomendou uma reforma geral da Casa Branca, para tirar o lugar da era vitoriana e desmantelar o trabalho de Louis Comfort Tiffany, quem Chester A. Arthur contratara para uma reforma em 1882.

Roosevelt também acrescentou alguns toques pessoais. Ele pendurou uma dúzia de troféus de caça - adquiridos em grandes safáris – na Sala de Jantar do Estado, todos os quais foram removidos instantaneamente por Edith Wilson quando seu marido assumiu a residência.

Qualquer um interessado nos meandros da redecoração e da reforma deveria fazer uma parada no Centro de Visitantes da Casa Branca, na ala norte do prédio do Comércio. Um documentário que é exibido continuamente em um canto do hall espaçoso e repleto de colunas traça a história visual da Casa Branca, inclusive o ritual de retirada das caças de Roosevelt.

Várias exibições esclarecem assuntos como “As Primeiras Famílias na Casa Branca”. Na área para as crianças, jovens visitantes são convidados a estudar um pôster que exibe todos os presidentes, de George Washington a Barack Obama, e depois, olhando em um espelho, a perguntar a si mesmos: “você consegue se enxergar como presidente?”

A resposta correta é “claro, por que não?” Este é o sonho igualitário que ajuda a explicar o estilo arquitetônico da Casa Branca, um clacissismo imponente traduzido em discurso plenamente democrático.

  • Entre as mais grandiosas salas abertas ao público, a Sala Leste é destinada às grandes recepções

O efeito completo é percebido conforme o tour sobe ao Piso do Estado, um andar acima do térreo. Mesmo as mais grandiosas salas abertas ao público, particularmente a Sala Leste, local de grandes recepções, e a Sala de Jantar do Estado, onde a porcelana presidencial é utilizada, exibem comedimento e modéstia. As salas para recepções menores, redecoradas por Jacqueline Kennedy no começo dos anos 60 e conhecidas pelas cores, como a Sala Azul, a Sala Vermelha e a Sala Verde, exalam um ar de sala de visitas de vovó.

Aqui as contingências simplórias se refinam notadamente. As salas são mais acessíveis, apesar das cordas de veludo manterem os visitantes longe do mobiliário e das louças. Talvez ainda perdurem lembranças da recepção pós-inaugural de Andrew Jackson, quando apoiadores entusiasmados quebraram milhares de dólares em louças e tiveram que ser removidos da área, atraídos por jarras de ponche estrategicamente colocadas na grama da Casa Branca.

É difícil dar uma boa olhada nos quadros, e há alguns muito bons. Os esperados retratos formais, como o quadro de Dolley Madison feito por Gilbert Stuart, dividem espaço na parede com trabalhos de Albert Bierstadt, George Caleb Bingham, Martin Johnson Heade e duas pinturas assustadoramente modernas de John Marin e Jacob Lawrence, ambas adicionadas à Sala Verde por Laura Bush.

Binóculos de ópera podem ser uma solução. A tela que achei que fosse uma natureza morta com uma ostra gigante era, na verdade, um retrato de John Singer Sargent de uma mulher da sociedade em repouso, usando um chapéu envolto por uma tela contra mosquitos.  

No lado positivo, não há nada que impeça os visitantes a virar as costas para a mobília Duncan Phyfe e olhar através das janelas para vistas únicas. Da Sala Azul, para dar o melhor exemplo, os olhos fazem uma sedutora jornada através da grama e de uma fonte até o Memorial a Jefferson e o Monumento a Washington. É uma visão que traz paz e serenidade, em forte contraste com as sujas realidades da vida política, e que tem a Casa Branca como símbolo nacional.     

O agente-guia e Bo

Agora, sobre os agentes do serviço secreto. Eles são bons. Na verdade, eles têm uma performance que poderia muito bem ajudar a melhorar a imagem da agência, um tanto manchada.

Para lidar com o público, os funcionários recebem um kit com informações e duas semanas para dominá-las, o que realmente fazem. Particularmente impressionante foi o oficial Hagerman na Sala de Jantar do Estado.

Ele contou a um visitante, sem hesitação, que o grande espelho que está em uma das paredes, cheio de manchas de idade, viera da Inglaterra nos anos 1790. Quando outro visitante perguntou sobre uma misteriosa inscrição na cornija da lareira, ele cresceu como um rebatedor depois de uma bola em curva.

 “Quer que eu fale a respeito e recite para vocês?”, ele perguntou para um grupo de curiosos. O voto foi  bipartidário e unânime: sim!

Depois de explicar que a oração havia sido escrita por John Adams e inscrita na cornija por Teddy Roosevelt em 1902, o oficial Hagerman pegou fôlego e orou: “Peço aos céus para conceder as maiores bênçãos nesta casa e sobre tudo que possa a partir de agora habitá-la. Que ninguém além de homens honestos e sábios jamais governem sob este teto.” Um silêncio refletido seguiu-se.

O passeio, que leva cerca de meia hora, desemboca os visitantes através da entrada e atravessa os halls da frente da Casa Branca. Quando você sai, não pode mais voltar. A maioria dos visitantes aproveita o momento para tirar fotos, e neste momento eles tiveram uma surpresa. Não, não é o presidente ou a primeira-dama. Sejamos realistas. Entretanto, o primeiro-cão, Bo, fez uma aparição surpresa. 

Dezenas de visitantes, que tiravam fotos históricas um do outro tendo a Casa Branca como fundo, cercaram e se aglomeraram ao redor do cão como ratos reais querendo ver o Príncipe Harry. Bo, perfeitamente bem tosado e pronto para receber carinhos, aceitou o tributo na forma de afagos na cabeça. Ele até posou para uma ou duas fotos antes de voltar para a refeição do primeiro-cão, deixando atrás de si uma nuvem de estrelato.

Um tour gratuito. Um dia ensolarado de primavera no final da temporada das cerejeiras em flor. E Bo. Deus abençoe a América.

Tradutor: Erika Brandão