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Os móveis externos evoluíram: invista em peças ousadas para decorar o jardim

Desenvolvida pela Pfeiffer para a Council, a linha de móveis para exteriores "Plank" usa madeira tratada - Divulgação
Desenvolvida pela Pfeiffer para a Council, a linha de móveis para exteriores "Plank" usa madeira tratada Imagem: Divulgação

Julie Lasky

Do The New York Times, em San Francisco, Califórnia (EUA)

08/09/2012 10h24

Não é só o calor do verão que está ditando a onda do design para ambientes ao ar livre – é a avidez. “Todo mundo está investindo nisso”, afirma Henry Andrew Hall, fundador da fábrica de móveis para espaços externos Henry Hall Designs, em San Francisco, referindo-se aos muitos negócios que foram fechados recentemente. 

O fabricante B&B Italia lançou sua primeira coleção para áreas externas muitos anos atrás e, desde então, vem construindo um portfólio de espreguiçadeiras, mesas e acessórios - itens como uma versão à prova d’água da cadeira Husk, assinada por Patricia Urquiola, que transborda de almofadas macias e segmentadas.

Outras empresas estão buscando repensar seu mobiliário clássico de interiores e adaptá-los para os ambientes ao ar livre. A Herman Miller, por exemplo, retrabalhou as peças de alumínio Eames, trocando o couro do assento e encosto por malha plástica.

A Cassina lançou peças Le Corbusier, Pierre Jeanneret e Charlotte Perriand com espuma de poliuretano envolta em tecido à prova d’água. E, este ano, a Knoll apresentou um “novo” clássico do mobiliário externo: uma espreguiçadeira projetada por Richard Schultz, em 1966. A recamier saiu do catálogo da Knoll quando a empresa foi vendida, nos anos 80. Schultz retomou os seus direitos e a produziu, junto com outras de suas peças, quando - em março - a Knoll comprou o negócio do designer. 

Em meio a uma indústria moveleira que movimenta cerca de US$ 80 bilhões, o mercado para mobiliário de exteriores “não é imenso”, avalia Raymond Allegrezza, editor-chefe da Furniture Today e diretor editorial da publicação-irmã Casual Living. “O valor total é de US$ 3,8 bilhões, mas se você for um varejista em uma economia em estado de alerta, uma fatia dessas não é nada desprezível”, pondera. “As pessoas estão correndo atrás disso.”

O quintal: o descanso e a recessão

Parte da população tem sido encorajada, garantem os experts da indústria, por uma confluência de fatores. Consumidores - influenciados por programas de TV como “Indoors Out” ou “The Outdoor Room” - querem decorar seus quintais e terraços não só para relaxar e se divertir, mas para atividades comumente realizadas dentro de casa como cozinhar, tomar banho e trabalhar.

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    Mesa Rubber, do designer Thomas Schnur

Segundo uma pesquisa publicada em abril pela revista Casual Living, 87% dos cerca de 5 mil americanos entrevistados disseram que um espaço ao ar livre em suas casas era “importante ou muito importante” e mais da metade possuía um. Outros 15% disseram que estavam em processo para a criação de um.

Certamente a recessão tem um papel aqui. Quintais foram forçosamente utilizados como alternativa aos destinos turísticos nos feriados,  Allegrezza, e com a quebra dos créditos imobiliários, os proprietários tiveram que aproveitar suas propriedades ao máximo. “Muitas vezes as pessoas não conseguem empréstimos para a compra de novos imóveis, então se sentem presos”, teoriza. “A população acabou por tomar atitudes para fazer da experiência de ficar em casa a mais prazerosa possível”, conclui.

Mais perto da natureza

Há também o desejo de se conectar com a natureza. Nathalie Karg - a paisagista que fundou o Cumulus Studios, em Nova York, para produzir versões de obras de arte funcionais para exteriores, assinadas por artistas como Jim Drain e Ugo Rondinone - enxergas as atuais iniciativas que se beneficiam do ar fresco - como os telhados verdes e a High Line - como evidência de uma consciência ambiental.

“Há, com toda certeza, um onda dos objetos para ambientes externos”, afirma a paisagista. “Espero que um dia as pessoas entendam que aquilo de que você se cerca em um jardim é mais importante do que as plantas e o deck”, filosofa.

O designer Jasper Morrison, que tem estúdios em Londres e Paris e vem criando mobiliário para a fábrica espanhola Kettal, diz que o ambiente externo também está fazendo sucesso do outro lado do Atlântico. “Acho que, inicialmente, tinha alguma coisa a ver com a proibição do cigarro em restaurantes”, escreveu em um email. “Mas, em paralelo, surgiu uma nova apreciação do prazer em se estar ao ar livre e em utilizar qualquer espaço possível nos telhados. Trata-se de qualidade de vida”.

Até mesmo em Minnesota, onde Allegrezza diz que as pessoas podem “piscar e acabar perdendo o verão”, o mercado para móveis externos está prosperando. “Quando as pessoas têm suas duas, três ou quatro semanas de tempo bom, querem aproveitar”, teoriza. “E gastam muito para obter esse conforto”.

O fato de que o mobiliário externo, em diversos lugares, não é utilizável o ano todo pode contar como incremento no alto valor de algumas das peças mais vanguardistas, como a cadeira Vana. O móvel é um dos últimos a incorporar a coleção criada por Karim Rashid para a empresa italiana Talenti, distribuída por Henry Hall Designs nos EUA. A Vana é um retrato em 3D da esposa do designer, Ivana, e - também  -  como Rashid descreveu em um email sua “ode à era Picasso”.

Mas o verdadeiro valor de Vana, disse Hall, está em sua flexibilidade – especialmente no inverno, quando ela deixa de ser uma cadeira “excêntrica” e vira uma escultura. A Vana pode ser “incomum”, mas não é frágil. Como muitos exemplares externos, a cadeira foi criada para suportar climas severos. Nela, as linhas delgadas são barras de aço cobertas por oito camadas de tinta cerâmica.

Tecnologia contra intempéries

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    Bebedouro para passarinho criado por Ugo Rondinone e feito de bronze

Até algumas peças mais “básicas” possuem uma história que conta com alguma aventura tecnológica por trás de sua feitura. Um exemplo é o Perenial Wood, um tipo de pinho do sul, modificado pela Eastman Chemical Co. para evitar a umidade e a  deterioração. A madeira é utilizada em uma coleção restrita de peças para ambientes externos chamada “Plank”, criada pelo laboratório Pfeiffer para a Council, uma empresa de San Francisco.

Outro exemplo é a cadeira empilhável ilusoriamente simples de Jonathan Olivares para Knoll, a qual o designer passou quase quatro anos desenvolvendo. Depois de experimentar moldes de plástico injetado, Olivares rejeitou todos, porque tinham uma textura de “bolo fofo”, assegura. Além disso, elas não eram “peças de herança tradicionais o bastante” e poderiam ter se degradado sob a luz de um sol causticante. Cadeiras com corpo de metal, por outro lado, foram descartadas por serem desconfortáveis, “feitas de estruturas semelhantes a ossos”.

Finalmente, Olivares chegou a uma solução: uma casca de 3mm de espessura constituída de alumínio moldado, que se ajusta ao corpo e fica confortável e fresca nas varandas durante o verão. Algumas versões da cadeira estão cobertas por duas camadas de tinta resistente à ação dos raios UV, como nos carros de corrida. É o tipo de história que parece agradar tanto os vendedores quanto os consumidores.

Allegrezza, o editor de revistas especializadas em descoração, observa: “os móveis para ambientes externos têm uma ligação histórica com resistência de tecido, com o novo alumínio prensado, etc etc. Assim, você vai pagar mais por eles”. Consumidores que poderiam pechinchar com o vendedor por um grande desconto em uma mesa de jantar para dentro de casa, ele afirma, estão mais propensos a pagar o preço de tabela por produtos especializados.

E como Margaret Russell, editora-chefe da Architectural Digest, ressalta, muitas das peças para “o lado de fora” de casa parecem “móveis que você poderia ter e, sua sala”. Podem mesmo ser melhores do que os móveis que exigem cobertura, pela abundância de tecidos resistentes e fáceis de limpar. “São também muito mais confortáveis que no passado”, arremata.

Mas para designers como Rashid, o melhor é que móveis para jardim não são mais uma extensão do jardim em si. “Podem alegar que já se fez tanto dentro de casa que as oportunidades para originalidade estão ficando cada vez mais escassas”, teoriza. “Enquanto isso, o ambiente externo é um novo território, uma nova fronteira a ser explorada.”