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Com estruturas "humanizadas", canis contam até com ar-condicionado e sistema de som

A ecocasinha do bulldog francês Hugo é moderna e tem telhado verde, mas o cãozinho não liga muito pro canil - Drew Kelly/The New York Times
A ecocasinha do bulldog francês Hugo é moderna e tem telhado verde, mas o cãozinho não liga muito pro canil Imagem: Drew Kelly/The New York Times

Jennifer A. Kingson

Do The New York Times, em Nova York (EUA)

25/09/2012 07h03

Muitas têm carpete, aquecimento e ar-condicionado, iluminação interna e externa, sistemas elaborados de música e entretenimento. Algumas são até ecologicamente corretas, com painéis solares ou telhados verdes. Na verdade, parece o único supérfluo na moderna casa de cachorro deve ser o cachorro.

Pegue como exemplo a minimansão em forma de palácio que Glenna e Ed Hall compraram em um leilão beneficente há três anos, por cerca de US$ 300. Com colunas jeffersonianas que combinam com as da residência do casal em Roanoke, Virginia, a casinha de cachorro com 60 cm de altura traz um “sotaque” à área externa. E ninguém parece se importar com o fato de que o jardim é território proibido para Maggie May - a cadela meio whippet, meio borzoi de 12kg –, muito menos ela própria.

“Compramos a casinha porque se parece com a nossa casa”, afirma Glenna Hall, 66, designer de interiores aposentada. “A Maggie nunca entrou ali. Ela é uma cachorra acostumada a ficar dentro de casa”, declara.

Durmo na cama do (meu) dono

Tradicionalmente, casinhas de cachorro eram onde os cães realmente moravam, separados dos humanos. Mas agora com os pets sendo considerados, cada vez mais, membros da família, suas antigas moradas estão se tornando “segundas casas” e, em alguns casos, não passam de elementos ornamentais.

Claro, ainda há muitas casinhas de cachorro que são feitas para que os cães morem. Mas há também um número impressionante de tocas feitas nos mesmos moldes que Christian Loubotin faz sapatos: você pode calçá-los, mas fica claro que essa não é a questão. 

Como observou Michelle Pollak, uma designer de interiores que cria casinhas para cães customizadas sob o nome La Petit Maison: “metade de nossos clientes diz ‘queremos uma réplica da nossa casa para o cachorro’, e metade diz ‘esta é a casa dos sonhos que a gente sempre quis, mas nunca pôde pagar na vida real’- como um palácio francês para um poodle”.

Nenhum detalhe é pequeno demais, muito menos o seria o retrato cão da família, pintado à mão. Para a admirável casa de cachorro encomendada pela modelo Rachel Hunter, na região de Los Angeles, Pollak decorou as paredes com marcas de patinhas e ossos e enquadrou fotos de cães. Seu sócio, o construtor Alan Mowrer, instalou luminárias de ferro ornamentado e um assoalho de terracota na pequena arquitetura. “O Alan teve que fazer à mão cada uma das telhas do telhado mediterrâneo”, relata Pollak.

Em La Petit Maison, o preço médio das casinhas fica entre US$ 5 mil e US$ 6 mil, a empresária informa, embora não seja novidade que algumas pessoas gastem mais de US$ 25 mil nesses pequenos mimos. (A de Hunter custou mais de US$ 16 mil, revela Pollak, embora ela não se lembre da cifra exata).

  • Divulgação/ The New York Times

    Como uma casinha de gnomo, o canil de Lucy, foi feito de um tronco resgatado de um pantano assolado pelo Katrina; mas ela não gosta do lar

Outro cliente, Guillermo Gonzales é um empresário de 43 anos que mora nas cercanias de Austin, no Texas - em uma casa de 465 m², em estilo vitoriano - com quatro porcos de estimação. Os “meninos”, como Gonzales se refere a eles, são porcos vietnamitas de 4 anos: Augustus (54kg) e Vito (43kg) - que têm presas de meter medo e temperamento dócil -, afirma o empresário. Os suínos vivem em um anexo da casa, especialmente construído para abriga-los, com 28 m², mobiliado com feno e cobertores. 

Mas as “meninas”, Cherry e Abby, micro-mini porcas de 6 meses de idade e que pesam não mais que 3kg cada, dormem em uma réplica de 0,5 m² da casa de Gonzales e que fica no canto da sala com tema “safári”, perto de cabeças taxidermizadas de uma zebra e de um impala.“No canto em que eu a coloco, parece a sede de uma fazenda no meio de um safári na África”, opina. 

Qual a história por trás dessa história? Gonzales tinha um sócio, dono de um buldogue chamado Tank e que desejava a tal casa de cachorro pela qual ele pagou US$ 2,5 mil em um leilão beneficente. Seria um presente, mas Tank morreu antes de conseguir se mudar, então a casa ficou com as porcas.“Originalmente eu só a colocaria no quintal”, justifica Gonzales, “mas ela é tão bonita que eu não quis que fosse destruída pelo tempo”.

Cães milionários, arquitetos experimentadores

Tamanho excesso pode ser um convite à crítica, mas Pollak oferece uma rápida réplica. “As pessoas podem dizer que isso é um desperdício de dinheiro e se perguntar ‘por que alguém faria uma coisa dessas?’ Só posso dizer que, se você tem dinheiro, qual a diferença entre gastá-lo com uma casa para o seu bichinho ou com uma joia”?

Além disso, a empresária conta que muitos de seus clientes constroem casas para os cães que foram resgatados ou adotados. Para um cãozinho com deficiência motora resgatado por um de seus contratantes, Pollak e Mowrer criaram uma casa com acesso para deficientes. “Alan ajustou todas as janelas e portas para permitir que o cachorro pudesse olhar pela janela, mesmo que estivesse deitado”, diz.

Projetos de casinhas de cachorros costumam ser populares entre arquitetos e construtores que, às vezes, se referem a eles como “cãoquitetura” e doam suas criações para leilões beneficentes em prol de abrigos para animais. Os designers afirmam que amam casas de cachorro porque elas são pequenas e divertidas e permitem que se use muita criatividade.

Como argumenta Brian Pickard, um arquiteto da Philadelphia: “se faço uma casa de cachorro e alguém imagina que ela vai durar dez anos no jardim, é diferente fazer uma casa que se espera durar 50 anos. Posso ser mais experimental”.

Pickard, 29 anos, começou, como estudante de arquitetura na Ohio State University, criando uma casa de cachorro modernista inspirada no trabalho do arquiteto suíço Mario Botta. Ele a chamou de Casa de Cachorro (Sub)urbana e deu de presente para seus pais, para que abrigassem seu labrador chocolate chamado Nash. 

“Começou como um exercício de design simples, olhando para algo que não tinha que se relacionar com códigos de construção ou clientes que não iriam mudar tudo no meio do processo”, conta o arquiteto. “Aquilo se tornou um modo de experimentar com estilos e métodos de construção”, acrescenta.

Para seu vizinho, Dave Sharihari, um diretor de escola de 31 anos, Pickard criou, recentemente, uma casa de cachorro para abrigar Thor, um buldogue de 40kg e a sua mãe, Lucy, que passa parte do dia fora. “Quando chove, eles precisam de um lugar pra ficar”, Sharihari afirma.

Para um pouco de inspiração, Sharihari contou a Pickard que admirava o trabalho de Tod Williams e Billie Tsien, cujo escritório havia criado a nova sede da coleção de arte da Barnes Foundation, na Filadélfia. “É muito clean e moderno”, constata, observando que sua casa de cachorro de 1,5m por 90cm ecoa tal estética.

Arquitetura e design caninos

Para os cães que não passam nem parte do dia fora de casa, ainda há muitas opções. FormaItalia, uma divisão da fábrica de móveis italiana Chiavari, vende canis laqueados para interiores e caminhas que podem ficar penduradas no teto. A Denhaus, uma empresa de Seattle, faz “gaiolinhas” disfarçados de mobília para gente: a Townhaus, uma mesa de madeira quadrada, pode ser também um cercadinho para filhotes bagunceiros e a BowHaus, uma mesa de redonda e prateada, pode funcionar como aparador para drinques e abrigar um totó em seu interior.

M. Brandon Smith, dono de uma vinícola chamada Small Cellars, adquiriu uma BowHaus para sua casa em Birmingham, no Alabama, e outra para sua casa do lago ao norte do estado, depois que ele e sua esposa, Kim, compraram um cachorrinho branco e peludo para o filho de 5 anos, Chance.

“Eu não tinha a menor vontade de colocar uma gaiolinha de plástico, normal, em nenhuma das casas”, desabafa Smith, acrescentando que a cachorrinha, Margaux -  uma Coton de Tulear -, volta alegremente para a casinha design que fica em espaços centrais nas duas casas, uma na sala de estar e a outra na sala de jantar.  

A família está sempre recebendo visitas e a casinha de cachorro sempre é assunto. “As pessoas acham que é uma mesinha de apoio”, conta Smith. “20 ou 30 minutos depois a Margaux entra ali, e só então s convidados percebem que é uma casinha de cachorro”.

Barbara Dalhouse, presidente da Roanoke Valley SPCA na Virgínia, mantém sua casa de cachorro em estilo Hobbit dentro de casa porque é “bonita demais”, segundo ela, para ser deixada ao ar livre. Esculpida a partir de um tronco retirado de um pântano em New Orleans depois do furacão Katrina, a cabana de 1,30m de altura tem, no seu topo, uma bolota, e “parece que um gnomo poderia morar ali dentro”, afirma. Mas o único morador é um esquilo empalhado.

“Os gatos olham ali pra dentro de vez em quando”, conta Dalhouse. “E Lucy, a beagle, passa sempre perto. Mas eles dizem: ‘Na-não, somos da turma do sofá’”, completa.

Hugo, um buldogue francês de Mill Valley, na Califórnia, tem uma atitude parecida com a sua ecocasinha, uma estrutura design que tem até telhado verde. “É duro fazer um cachorro gostar desta casa”, conta Eric McFarland, 37 anos, o vendedor imobiliário dono de Hugo, ao lado de sua esposa Brad Krefman, uma designer de interiores de 30 anos. “Ele prefere ficar na nossa cama”, confessa McFarland.

A casinha de cachorro, que foi feita por uma empresa chamada Modern Cabana, fica perto da piscina do casal, em uma casa moderna toda de vidro e madeira, seguindo o estilo do arquiteto Joseph Eichler, descreve McFarland. É normalmente vendida por US$ 650, mas um dos proprietários da Modern Cabana, Nick Damner, cuidou da reforma da casa do casal (casas de cachorro são um extra da empresa, especializada em casas pré-fabricadas),  os presenteou com a casinha.

“É uma peça bonitinha no jardim, então funciona pra gente”, valia McFarland, mesmo que não funcione para o cachorro.

Um latido para afastar a indesejada recessão

Enquanto o mercado para casas de cachorro de luxo é, compreensivelmente, limitado, aqueles que as vendem dizem que, apesar da recessão, os negócios permanecem estabilizados.

A Little Cottage Co., em Ohio, faz algumas das mais pitorescas casinhas de cachorro disponíveis online, incluindo a “Casa de Cachorro Estilo Vitoriano” (US$ 4.400, em média) e a “Casa de Cachorro Estilo de Cape Cod” (cerca de US$ 4.600. Os preços variam de acordo com o revendedor). Dan Schlabach, dono da empresa, estima que vende entre 10 e 15 unidades por ano, um número que se mantém constante.

Rockstar Puppy, uma empresa online que vende caros acessórios para cães, oferece tocas customizadas por até US$ 20 mil. Jessica Auria, gerente da marca, afirma que vendeu algumas para celebridades, inclusive uma delas tinha ar-condicionado e aquecimento controlados por iPad.

Trabalhando com Barbara Thulin-Joyce, uma designer de interiores, Auria criou uma casinha de cachorro para Jennifer Farley - mais conhecida entre os fãs de “Jersey Shore” como JWoww. A toca, que eles deram para Farley como uma ação de marketing, está à venda no site por US$ 12 mil, completa, com camas e minicortinas com presilhas de pedraria em cor de rosa.

As duas parecem mbicionar entrar no mundo do design das casinhas de cachorro. “Tenho muito boas ideias que quero aplicar nas casinhas”, disse Thulin-Joyce, que cuida de uma loja de decoração para animais de estimação chamada Decadent Digs.  

Tipo? “Músicas que começam a tocar quando o cachorro entra”, afirma. “E moinhos de vento no telhado.”