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Com 370 m², casa torna-se "porto seguro" de casal australiano que trabalha viajando

Na sala de jantar, a grande mesa "de fazenda" está sobre o piso de ladrilhos que reproduzem os originais  - Bruce Buck/ The New York Times
Na sala de jantar, a grande mesa "de fazenda" está sobre o piso de ladrilhos que reproduzem os originais Imagem: Bruce Buck/ The New York Times

Rima Suqi

Do The New York Times, em Mérida, México

30/09/2012 09h10

Escrever sobre viagens, como qualquer profissão, tem suas vantagens. A mais óbvia é o trabalho em si: explorar lugares distantes com o dinheiro dos outros. Uma desvantagem, entretanto, é que os jornalistas/escritores raramente conseguem fazer uma exploração mais profunda em um único lugar.

Mas há seis anos, depois de uma semana trabalhando em Mérida, capital do estado mexicano de Yucatán, Adam McCulloch e Emma Sloley resolveram que aquele era um lugar para o qual voltariam.

O casal australiano - que mora em Nova York e escreve para revistas como Departures e Travel & Leisure - se apaixonou pela cidade. Cerca de um ano depois, quando quiseram fugir de Manhattan por várias semanas para trabalhar em projetos de livros, Mérida acenou.

“Não desejávamos ir para um lugar desconhecido, porque passaríamos nosso tempo explorando a região”, conta McCulloch, de 41 anos. “Queríamos um lugar para onde já tivéssemos ido, gostado e que nos oferecesse a possibilidade de trabalhar”, conclui.

Tal visita fora produtiva, então o casal voltou outras três vezes, alugando casas diferentes no centro histórico da cidade, relembra Sloley, de 42 anos, “onde fica a agitação, onde expatriados americanos e canadenses estão comprando e restaurando todas aquelas casas”.

Criando raízes

Dois anos atrás, o casal fez o mesmo e gastou US$ 85 mil em uma casa térrea que permanecera na mesma família desde o século 19 e ficava em um quarteirão tranquilo, onde os ônibus haviam sido proibidos de circular. A construção possuía vários aspectos que os viajantes profissionais amaram, inclusive um terreno extraordinariamente comprido (cerca de 75 m), piso com ladrilho original e pé-direito altíssimo. 

  • Bruce Buck/ The New York Times

    Na entrada da casa mexicana, em Mérida, ladrilhos coloridos e originais dão personalidade ao espaço

McCulloch e Sloley resolveram assumir a reforma sozinhos (o que levou quase um ano e cerca de US$ 150 mil), sem a ajuda de arquitetos ou designers. Mas o casal não era totalmente novato quanto à questão do design: Sloley já foi sócia de uma loja de móveis modernos – de meados do século 20 –, em Melbourne, e McCulloch é diplomado em design industrial e direção de cinema, além de ter trabalhado na direção de arte de filmes como “Matrix”.

Trabalhando com uma equipe de construção maia - cujos membros não usam máquinas ou carrinhos de mão, mas ferramentas produzidas por eles mesmos, além de carregar os materiais de construção (até mesmo sacos de cimento de 35 kg) nas costas - o casal eliminou cerca de um terço da casa, acrescentou um andar, um anexo para hóspedes e uma piscina. 

75 metros além

O novo design enfatiza o que McCulloch considera o ponto forte do projeto – seu terreno comprido – substituindo paredes sólidas por cortinas de vidro em lugares estratégicos. Assim, da porta de entrada o visitante pode ver tudo, até o jardim nos fundos, onde plumérias crescem no pátio do anexo para hóspedes. “Isso fez com que tivéssemos a sensação de ter um espaço enorme”, avalia.

O espaço certamente não é pequeno. A residência de cores fortes agora tem 370 m², quatro quartos (cinco, se contarmos com a casa de hóspedes), uma sala de projeção, uma cozinha generosa e uma sala de jantar, um terraço no telhado e um espaçoso jardim com uma piscina envidraçada e lareira externa.

O espaço é mobiliado com uma mistura de peças trazidas de Nova York e de antiquários locais, entre elas um busto do ex-presidente Lázaro Cárdenas, a quem a casa homenageia ao ser batizada de “Casa Cárdenas”.

Quando questionado sobre sua filosofia estética, McCulloch ressalta que os mesmos princípios se aplicam ao cinema e à arquitetura.“Os bons personagens assumem grande importância em boas condições”, argumenta. “O ponto de vista do local é mais importante que na planta. E sempre é importante deixar espaço para a decoração”.