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Objetos interessantes e bizarros compõem decoração de loft em NY

A grande coruja de pelúcia vigia o living e, em uma mesa próxima, cabeças de cera em domos de vidro - Trevor Tondro/ The New York Times
A grande coruja de pelúcia vigia o living e, em uma mesa próxima, cabeças de cera em domos de vidro Imagem: Trevor Tondro/ The New York Times

Joyce Wadler

Do The New York Times, em Nova York (EUA)

04/03/2013 07h01

É difícil apontar um estilo de design para uma casa que ostenta em seu hall uma perna artificial, onde sobre a mesa de jantar Le Corbusier está um enorme modelo anatômico de orelha e uma cabeça de palhaço feita em metal faz as vezes de cama para gatos. 

No loft do fotógrafo de arte Arne Svenson, em Tribeca, há várias peças que se referem a animais, inclusive caixas de cigarros recobertas com peles de zebra e leão. Há, também, a parte de uma perna de zebra usada como acessório decorativo.  “Ganhei da filha do Stewart Granger [ator britânico]”, conta  Svenson, um homem misteriosamente divertido cujo novo livro, “Strays”, exibe fotos de gatinhos – vivos, felizmente. “Ele fez todos aqueles filmes aventureiros em lugares como a África e, quando terminava, fotografava tudo o que estivesse a sua frente”, contextualiza o artista.

De toda forma, quando você pesquisa mais a fundo o loft de 185 m² que Svenson divide com Charles Burkhalter, um designer de interiores, as coisas ficam ainda mais interessantes. Há cabeças de cera de um casal chinês em domos de vidro (Svenson é fã de domos); um filhote de foca empalhado em um diorama de paisagem marítima, dentro de uma caixa de vidro - no que Svenson chama de posição “por favor não me acerte” - e várias outras criaturas taxidermizadas, entre elas um wallaby [espécie menor de canguru], uma águia com um coelho em suas garras e uma imensa pata de leão, com as garras assustadoramente intactas. 

Há pelo menos uma dúzia de dioramas de animais na casa, muitos deles verdadeiras antiguidades. Svenson gosta do visual maltrapilho, embora algumas peças estejam desgastadas demais até para ele. “A gente tinha um gatinho francês taxidermizado”, relembra. “Mas pequenos pedaços de jornal começaram a sair do peito dele e neles estava escrito ‘MAIS NON!’  [não mais!]. Então guardei o pobrezinho em um saco tipo ziploc”. 

Fotografia

casa nos EUA é experimento artístico; clique e veja!

  • Tony Cenicola/ The New York Times

Pergunte a Svenson, de 60 anos, sobre seu trabalho e ele vai se descrever como retratista. Mas isso não é verdade se pensarmos no sentido convencional do termo. Suas fotografias, que foram exibidas em galerias, incluem imagens feitas a partir de negativos descartados sobre criminosos do começo dos anos 1900, brinquedos de animais mastigados e crianças autistas.

Seu trabalho mais desafiador, ele afirma, foi fotografar reconstruções faciais forenses, feitas para ajudar na identificação de vítimas cujos corpos ficaram irreconhecíveis. Svenson fotografou 50 dessas reconstruções.

Quando este difícil projeto terminou, Svenson precisava de mudanças. Seu merchant de arte, brincando, sugeriu gatinhos. Svenson ficou incrédulo no começo, mas mudou de ideia depois de tentar algumas fotos na casa de um amigo gateiro. (Seu livro de fotos sobre o assunto recentemente foi publicado pela Siman Media Works, com uma tiragem de mil exemplares.)

O loft

Svenson e Burkhalter, de 59 anos, estão juntos há 34 anos. Eles compraram o loft como um espaço bruto, em 1993, por US$ 100 mil. Agora a morada tem dois banheiros, um escritório para Burkhalter, um estúdio para Svenson, duas salas e um quarto. Não há animais mortos no quarto, uma concessão feita para Burkhalter, que conta que houve uma época em que ele dormia com um olho aberto.

O que nos faz voltar ao gosto peculiar de Svenson: “Gosto de pensar em meu estilo como algo minimal / escasso”, teoriza, aparentemente sério. Seu parceiro retruca: “Você está tentando se convencer disso”. E Svenson continua: “Charles é o melhor designer. Ele permite que eu realize todos os meus desejos e depois deixa tudo esteticamente agradável”.

Mas por que colocar uma perna mecânica na entrada? Ou uma orelha gigante na mesa de jantar?  “São curiosidades para mim”, justifica-se Svenson. “Posso inventar histórias sobre tudo o que tem aqui. Aquela perna sempre me fascinou. Porque acho que é dos anos 1940 e, certamente, é uma perna de mulher”, ele divaga. 

“Quando olho para a perna, vejo uma mulher em uma foto tirada por, talvez, Helen Levitt [fotógrafa americana]. Vejo uma mulher em Nova York em um apartamento subindo as escadas com dificuldade porque ela vive no terceiro ou quarto andar, e está sozinha porque só tem uma perna. Eu a vejo subindo e descendo as escadas, subindo e descendo as escadas. Essa é a história dela e é o bastante. Eu gosto de extrair pequenas partes da vida. O resto é muito opressivo.”