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Casa pensada em detalhes tem lareira "tatuada" e mictório no estar

No living, a poltrona e a mesa de centro são assinadas pelo designer brasileiro Ricardo Fasanello - Matthew Millman/ The New York Times
No living, a poltrona e a mesa de centro são assinadas pelo designer brasileiro Ricardo Fasanello Imagem: Matthew Millman/ The New York Times

Steven Kurutz

The New York Times, em San Francisco, Califórnia (EUA)

01/06/2013 08h59

Ao andar pela casa moderna e de cores frias de Henry Urbach e Stephen Hartman, um visitante rapidamente percebe que não houve nenhuma decisão tomada quanto ao design – nenhuma mobília comprada, nenhum bibelô permitido – sem uma análise minuciosa.

Você admira as paredes suaves e fica sabendo que os vários tons de cinza foram escolhidos porque combinavam com as tonalidades do nevoeiro observado em uma caminhada de Stephen Hartman e Henry Urbach perto da Estação Point Reyes, na Califórnia.
 
 
“Aquele desenho aplicado na lareira é bonito”, você diz para iniciar uma conversa e descobre que ele foi inspirado nas árvores do outro lado da rua, no Parque Buena Vista e que um tatuador o gravou sobre a moldura enegrecida da lareira.
 
“O arabesco de folhagem aplicado na lareira prolonga o motivo da banqueta customizada e se dispersa através do núcleo da estrutura como filamentos de fumaça”, Urbach esclarece. “O padrão faz referência às densas, quase selvagens, árvores do outro lado da rua”.
 
Urbach, de 49 anos, até pouco tempo atrás curador de arquitetura e design no Museu de Arte Moderna de São Francisco e seu companheiro, Hartman, de 52 anos, psicanalista, cuidaram do design da casa como se fosse uma exibição de arte conceitual para dois.
  • Matthew Millman/ The New York Times

    No living, um mictório assinado pelo artista Alex Schweder foi instalado para "perturbar as convenções da vida doméstica"

 
Os muitos espelhos do apartamento não são para inspecionar pelos perdidos de nariz. Eles “dificultam as relações espaciais”, explica Urbach. E os armários não são lugar para guardar velhos suéteres de faculdade. Eles “exageram e atenuam a relação entre mostrar e guardar coisas”, acrescenta.
 
Reforma duchampiana
 
E o que dizer sobre o elemento mais extravagante do apartamento, um mictório de porcelana pendurado em uma parede muito distante de um banheiro masculino de estádio? 
 
Trata-se de uma escultura do artista Alex Schweder, pendurada junto à cozinha para “atrapalhar as convenções da vida doméstica”, Urbach argumenta. “Isto talvez soe um pouco provocativo, e foi, mas também não foi. Nós brincamos com estas ideias. É parte de como curtimos estar em casa”, conclui.
 
Os rapazes compraram o apartamento no segundo andar de uma casa em uma área montanhosa que há muito tempo admiravam ao sul de Haight-Ashbury, juntamente com um estúdio - separado do apartamento – ambos por US$ 950 mil em 2006, pouco depois de terem se mudado de Nova York para San Francisco. Nos cinco anos seguintes, trabalharam com Douglas Burnham, um arquiteto local, e gastaram outros US$ 140 mil para transformar o interior da casa construída em 1880.
 
Durante as intervenções, paredes em amarelo vibrante se tornaram cinzas e brancas e a lareira que ocupava muito espaço foi substituída por um modelo menor e mais fino. Um armário do chão ao teto foi adicionado à sala de estar, inteligentemente projetado com uma porta pivotante. 

Casa-instalação nos EUA; veja!

  • Tony Cenicola/ The New York Times
 
A história
 
Ávidos colecionadores de arte e design, o casal encheu o apartamento com trabalhos de Mauro Restiffe, Tobias Wong e Ryota Aoki, juntamente com mobília da metade do século passado como uma luminária dos anos 1960, de Carlo Scarpa, que está pendurada sobre a mesa de jantar Kartell.
 
Com as excelentes obras de artes e o novo “layout” – dois quartos, uma cozinha eficiente, um estúdio pequeno construído à partir de um closet, quase 130 m² no total – Hartman pensa no espaço do segundo andar como “um robusto apartamento de Nova York numa cidade verde”.
 
O psicanalista falava com tanto entusiasmo sobre o assunto que não conseguia parar de interromper Urbach. O casal se mudou para San Francisco depois de duas décadas em Nova York, quando Urbach aceitou o cargo no museu. No primeiro ano, Hartman permaneceu no leste dos EUA e eles viajavam de costa à costa, até que cederam ao estilo de vida da Califórnia e se mudaram permanentemente.
 
Agora eles estão, novamente, trabalhando e morando separados na maior parte do tempo. “Às vezes digo que nós temos uma casa na cidade e outra no campo,” Hartman brinca. “Elas apenas estão a 9.600 km de distância uma da outra”.
 
Mas depois de cinco anos considerando cuidadosamente todos os detalhes para criar o lar que tanto desejavam, o casal não tem planos de deixar San Francisco. Mas não chame o que eles fizeram de “reforma”. Nas palavras de Urbach, foi “uma série de microintervenções que se identificaram umas com as outras como um todo e que nos deram exatamente o que precisávamos”.