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Entenda por que alguns móveis e eletrodomésticos são tão caros

Assinada por Brunete Fraccaroli, a sala da estar do ambiente Mil Tons de Cinza, exposto na Casa Cor SP - Montagem/ UOL
Assinada por Brunete Fraccaroli, a sala da estar do ambiente Mil Tons de Cinza, exposto na Casa Cor SP Imagem: Montagem/ UOL

Karine Serezuella

Do UOL, em São Paulo

08/07/2013 07h02

Ao se deparar com os altos preços dos objetos de decoração, móveis e luminárias, o custo de fabricação e a margem de ganho são fatores lembrados com facilidade pelo consumidor como influenciadores das cifras. Entretanto, o valor de um produto, em especial desses bens duráveis, é definido e impactado por um conjunto de componentes variáveis e complexos, tais como matéria-prima, valor agregado pelo design e/ou pela marca, encargos tributários e, claro, lucro.

O custo do design e do luxo
 
No levantamento dos valores monetários de alguns itens em quatro ambientes da Casa Cor SP, realizado pelo UOL Casa e Decoração, é notável o preço elevado dos móveis, equipamentos, revestimentos e eletrodomésticos empregados na composição dos espaços. De acordo com o economista Gilberto Braga, elementos aplicados à decoração de interiores têm um valor implícito que ultrapassa o de fabricação e que também compõe indiretamente o custo da produção: o do design. “Quem vai a Casa Cor não espera pelo item mais barato, mas por um produto criativo e exclusivo”, opina.
 
A banheira de R$ 12 mil ou o sofá de R$ 8.000, expostos na mostra paulistana, podem ser classificados como peças de luxo. “Este é tipicamente o que chamamos de mercado de variação de preços, onde a margem de lucro é maior se comparada a de uma grande loja de varejo. Empresas que se dedicam à decoração de alto luxo trabalham com a exclusividade do produto. O lucro está diretamente relacionado a essa diferenciação e à marca, enquanto os grandes varejistas têm seu ganho baseado no volume de venda”, explica o economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), Fabio Bentes.

Impostos na nota fiscal

  • Carlão Limeira/UOL
Conforme a pesquisa de doutorado da especialista em mercado de luxo pela FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis da Universidade de São Paulo), Renata Fernandes Galhanone, o preço se compõe por elementos tangíveis: a matéria-prima, o design (considerando cor e forma) e a tecnologia de produção; e por outros intangíveis, por exemplo, a marca associada. 
 
Galhanone diz que, em termos genéricos e com base nesse estudo, a aquisição de determinados produtos pode ser associada a uma conquista, determinar um status social, agregar um estilo ou uma imagem que o consumidor deseja mostrar. Esses aspectos psicológicos e sociais podem inferir na diferenciação da peça e por consequência, na composição do preço. “Por outro lado, os produtos para casa - em essência - tendem a perdurar, por isso, fatores como durabilidade, qualidade do material e desempenho são levados em conta durante a valoração do objeto, assim como a satisfação do desejo de bem-estar e conforto”, pondera.

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  • Fábio Zanzeri/ Divulgação
O peso dos impostos
 
Ao avaliar o que impacta nos preços desses produtos quando fabricados no Brasil, o chamado custo Brasil deve ser considerado. De acordo com informações da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), encontradas no site da entidade, o termo se refere “às deficiências dos fatores sistêmicos da economia brasileira que se traduzem em maiores custos internos em comparação com outras economias”. 
 
Conforme o presidente executivo do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), João Eloi Olenike, tal fator pode ser desmembrado em outros tantos de ordem político-econômica: “O custo Brasil envolve a má eficiência dos portos, do transporte rodoviário, de logística, a burocracia, os altos encargos trabalhistas e tributários e a falta de investimentos em infraestrutura no país”.
 
Dentro deste cenário, Olenike explica como os impostos sobre o consumo, tributados sobre todas as etapas de produção, são pagos pelo consumidor final. “No Brasil, impostos como IPI, ICMS e Cofins incidem sobre o faturamento da empresa e são repassados no preço da venda do produto”. 
 
Ainda segundo Olenike, 37,48% do valor de um sofá ou de uma cama, de origem nacional, são impostos, enquanto que de uma geladeira e um fogão, 36,98% e 39,06%, respectivamente, são tributação. “A Lei Federal 12.741, que obriga informar impostos na nota fiscal, resolve o problema da transparência, mas não soluciona a alta taxação do sistema brasileiro”, conclui. 
 
Com relação aos importados, esses números aumentam. De acordo com Lygia Antonialli Bruni, do marketing da empresa Elettromec, o imposto de importação do forno elétrico Friendly, de fabricação 100% italiana, corresponde a 60% do produto. 
 
Olenike esclarece que essa alíquota é alta, porém variável dependendo do tipo de bem trazido do exterior. “E o tributo pode mudar a qualquer momento. O governo pode taxar para mais ou para menos influenciado pela conjuntura nacional da produção e pelas ações de estratégia política, considerando o cenário interno e externo”, completa. Os tributos de importação podem ser consultados no site da Receita Federal, na tabela de Tarifa Externa Comum (TEC).
 
Vendas em alta
 
Até final de 2012, o preço médio dos móveis ficou estável ou caiu, conforme aponta o economista da CNC, Fabio Bentes. “Além da redução do IPI, a abertura de empresas nacionais e os produtos de importação fizeram com que os preços fossem reduzidos. Com a ampliação do crédito, o setor vendeu muito. No ano passado, houve deflação de 3,2% em móveis”. Todavia, os valores finais de eletros, móveis e produtos da construção civil deixam um gosto amargo na boca do consumidor final.