Design brasileiro se afasta da cópia e desperta interesse pelo "artesanal"
O Brasil, especialmente nos últimos anos, tem figurado com maior intensidade e profissionalismo nas feiras, mostras e eventos relacionados ao design criativo mundo afora. Não é à toa que grandes empresas do setor, como Edra, Cappellini ou Arper, olham com mais interesse para o “material” brasileiro.
Joaquim Tenreiro, Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha, Sergio Rodrigues – entre outros - são expoentes de uma geração pioneira, que traçou os primeiros passos da produção nacional. Os irmãos Campana, vindos do interior e moldando seu trabalho com materiais pouco usuais, talvez sejam a “marca” mais recorrente na boca de quem conhece pouco ou muito do que é desenhado em termos de mobiliário e objetos, atualmente, no Brasil. Humberto e Fernando consolidaram o país como sinônimo de inventividade em um período que o mercado interno passou a pensar e a produzir conceitos, mas engana-se quem pensa que o design nacional neles se bastou.
“Existe um interesse gigantesco, muita curiosidade pelo que está sendo feito no Brasil. A geração de que faço parte tem orgulho de retratar o país. Nos desvencilhamos do carma da cópia”, pontua Zanini de Zanine, designer que em pouco mais de dez anos de carreira figura no catálogo de marcas que ditam tendência - como a italiana Cappellini -, tem mais de uma dúzia de prêmios no currículo e participações em exposições nos EUA e Europa.
Filho de José Zanine Caldas, arquiteto, designer e maquetista, “herdou” o talento do pai e, de quebra, ganhou “apuro” de Sergio Rodrigues, com quem estagiou e produziu seu primeiro móvel no início dos anos 2000. Pra ele, o design brasileiro é rico em referências e formação, assim como a música ou a geografia do país, e essa polaridade criativa interpreta de forma interessante e não óbvia o cotidiano.
O que há de bom no Brasil
Zanini de Zanine, designer brasileiro
“As grandes marcas procuram a diferença e o Brasil se diferencia. A escola [de design] europeia, de modo geral é mais ‘fria’ que a nossa, o que interessa é essa ‘quentura’ do trabalho brasileiro, quem vem em parte das técnicas artesanais. Veja os Campana, por exemplo”, afirma Zanine.
Segundo o designer - que no incío da carreira trabalhava com madeira, acredita na retratação da cultura nacional através de seu desenho, bem como o pai, e cultiva um processo criativo “sem regras” -, a proposta de produção artesanal no país é muito forte e o respaldo industrial ainda recente. Tais características, porém, na visão de Zanine, devem ser adicionadas: “Essa é uma conjunção de fatores rica. O caminho é incorporar o artesanato ao industrial, aliá-lo ao enfoque na pesquisa de novos materiais”.
Atento à repetição periódica e inevitável da forma, Zanine defende que a expertise nacional deveria cada vez se voltar mais para a questão da plataforma, do material em si. Design não é só arte, é a união da estética com a tecnologia em busca da melhora do cotidiano das pessoas.
Enfim, o dinheiro
De todo modo, a poesia que envolve as profissões criativas não as exclui de um sistema que é regido pelo dinheiro. Móvel de qualidade é caro e, no Brasil, essa questão é ainda mais pronunciada. Zanine vê muito dos problemas de custo como culpa da carga tributária e da dificuldade logística do país.
Por outro lado, salienta que o mercado vem olhando para o design como algo necessário, um caminho de fomento para os negócios. Com um número maior de escolas formando profissionais, há mais mão de obra qualificada, mas nem tudo o que acaba sendo produzido é bom, como em qualquer outra área.
Recentemente, teve lugar em Bento Gonçalves (RS) a Casa Brasil, feira de design e decoração de alto padrão, que uma vez a cada dois anos acaba por determinar muito do que será consumido em termos de mobiliário e objetos no país.
Uma das subdivisões do evento reuniu 24 estúdios, outra os projetos finalistas do Salão Design. Por elas é possível ter uma ideia do que de melhor se produz no Brasil e em outros países da América do Sul. Entre os novíssimos nomes, Zanine aponta para o do carioca Gustavo Bittencourt, que – segundo ele – “tem uma proposta interessante em relação à madeira e outros materiais”. Parece que os ventos devem continuar generosos para as pranchetas brazucas.
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