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Projeto eficaz ajuda a diminuir entulho e criar uma casa mais sustentável

Construções sustentáveis partem de um projeto sustentável, mas "ecoadequações" são possíveis - Getty Images
Construções sustentáveis partem de um projeto sustentável, mas "ecoadequações" são possíveis Imagem: Getty Images

Vinícius Abbate

Do UOL, em São Paulo

27/09/2013 07h02

Parece banal, mas o simples fato de pensar a construção de forma objetiva e consciente já ajuda na preservação da natureza. Como explica o arquiteto e urbanista Ormy Hütner Júnior, do escritório Tellus Arquitetura e Construções: “A redução do impacto ambiental começa na contratação de um arquiteto para aperfeiçoar a dinâmica da construção. A compatibilização de todos os aspectos da obra – arquitetônico, estrutural, hidrossanitário e elétrico, entre outros – é fundamental para reduzir o desperdício e minimizar a geração de resíduos”.

Saída da prancheta, a construção propriamente dita pode ser erigida com tecnologias que reduzam o desperdício de materiais e que tenham execução mais ágil. Isso é possível, por exemplo, através de sistemas construtivos “a seco” - como o “steel frame” ou “wood frame” -  e as alvenarias chamadas autoportantes (que se autossustentam).

O que faz o arquiteto?

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No primeiro caso a construção se baseia em um “esqueleto” constituído por colunas e vigas de aço ou madeira, respectivamente, que dão sustentação às paredes de placa cimentícia (externa) e gesso cartonado (interno).

Exemplos de alvenarias autoportantes são as compostas por tijolos de solo cimento ou as estruturais com blocos cerâmicos, de concreto ou sílico-calcáreos. Desenvolvidos para se autossustentar, esses tijolos/blocos - auxiliados por pequenas vigas e pilaretes, bem como por concreto e aço em pontos estratégicos - dispensam vigas e pilares convencionais. No caso de obras com tijolos de solo cimento, por exemplo, o consumo de cimento/concreto é diminuído, bem como a necessidade das formas de madeira para moldar pilares e vigas. Outra vantagem é que os furos nas peças permitem a passagens das instalações hidráulicas e elétricas, eliminando a necessidade de quebra posterior para a feitura dos rasgos para embutir tais sistemas.

“Vale lembrar, contudo, que o custo com uma obra não acaba quando termina a construção. Assim, projetos bioclimáticos [ou sustentáveis desde a prancheta] reduzirão todo o gasto sobressalente que a construção irá proporcionar ao usuário ao longo do tempo em relação à manutenção. Um projeto bem elaborado previne ainda futuras intervenções durante a obra”, defende Hütner.

Como o citado, a arquitetura feita para dar conforto ao usuário, mas levando em conta o impacto negativo em relação ao ambiente é aplicável a qualquer aspecto construtivo e, idealmente, deve abranger a edificação como um todo. Porém, para exemplificar alguns aspectos da abordagem sustentável o UOL Casa e Decoração escolheu três fatores: a fachada, o telhado e o reaproveitamento de água. Veja!

Fachadas

O tratamento das fachadas leva em conta uma série de fatores externos e internos e deve ser definido já nos primeiros estudos do arquiteto. Quando bem trabalhada, a fachada pode ajudar, por exemplo, a conter o excesso de iluminação natural no interior da residência.

Uma saída muito empregada pela arquitetura Modernista é a adoção de brises, que permitem que a luminosidade alcance o ambiente, mas barram a entrada de raios solares diretos. Na mesma linha, os cobogós - elementos vazados - oferecem a livre circulação de ar e controlam a incidência de sol. "Essas alternativas devem, porém, ser evitadas em espaços com pouca iluminação natural", pondera Hütner.

Sendo ou não usados os brises e cobogós, a regulagem do grau de incidência de luz (e ventos) depende - primeiramente - da orientação das fachadas em relação à localização geográfica da obra, prevista desde os primeiros esboços do projeto. "No Brasil e em todo hemisfério sul, as soluções ‘vazadas’ costumam ser utilizadas nas faces norte e oeste das casas. Porém, como qualquer material e sistema construtivo de uma edificação, é preciso que atendam aos procedimentos de uso e operação, que devem ser fornecidos pelo fabricante e instalador", alerta o arquiteto.

Os cobogós são comumente fabricados de cerâmica, enquanto os brises podem ser feitos com os mais diversos materiais, como madeira, alumínio ou concreto. Os cuidados de instalação e manutenção, portanto, vão variar de acordo com o material e as condições ambientais onde está inserida a edificação.

Outro sistema ecologicamente interessante são as paredes verdes, que ajudam a manter constante a temperatura interna, além de auxiliar na filtragem dos poluentes externos. Há estudos que indicam a possibilidade de diminuição em 30% da concentração da poluição em grandes centros através de paredes verdes. Bons para a cidade e para o morador, esses jardins verticais, quando associados esteticamente ao paisagismo, são capazes de produzir efeitos interessantes, além de garantir espaços de cultivo até mesmo para hortaliças.

O cultivo em fachadas é simples, bom para a cidade e para a dieta

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Telhados

Na mesma linha dos jardins verticais, o uso de telhados verdes (cobertura com aplicação de substrato e vegetação sobre uma camada impermeável) contribui para a eficiência energética da casa e melhora as condições térmicas internas da edificação, tanto em épocas de frio como de calor, bem como ajuda na proteção da própria laje. Além disso, tais estruturas podem oferecer um espaço de convívio a mais, quando é possível utilizá-las como terraço.

"Para garantir bons resultados, é sempre necessário contratar um engenheiro calculista e um arquiteto especializado para fazer o trabalho, que não é simples. Os riscos envolvidos são sobrecarga ocasionada pelo peso adicional da terra e das plantas e infiltrações, caso, por exemplo, a impermeabilização seja feita de maneira incorreta", argumenta a arquiteta Alexandra Lichtenberg, do escritório EcoHouse. Ela lembra ainda que as plantas devem ser de raízes curtas e, de preferência, não demandar muita irrigação ou manutenção.

Caso não queira ou não possa instalar um telhado-verde, opte por pintar a cobertura com cores claras que refletem os raios solares, reduzindo assim a transmissão de calor para dentro da residência. Atualmente existem tintas especiais para tal serviço, porém os matizes claros exigem manutenção regular, porque se a pintura ficar suja, deixará de refletir eficazmente os raios de sol. Falando em tintas, há opções para fachadas e ambientes internos que são menos agressivas tanto para as pessoas e animais domésticos, quanto para o meio. São as soluções que não possuem o solvente como base e, sim, a água e/ou é pigmentada por elementos naturais, como minerais puros e solo.

Reaproveitamento da água

A água de chuva pode ser aproveitada para irrigação de jardins -  inclusive os verticais -, limpeza de calçadas, alimentação de vasos sanitários e até mesmo para a lavagem de roupa. Os sistemas de captação e abastecimento são vários e a especificação de cada um dependerá da necessidade do morador.

Os mais simples demandam apenas a instalação de calhas, coletores e reservatório inferior não-enterrado e oferecem o uso direto da água para rega de jardins e a higienização do passeio. Esses sistemas básicos podem ser instalados em edificações pré-existentes, onde se coloca um filtro na saída da calha e um galão para armazenamento no fim do condutor, fazendo com que a água da chuva seja acumulada para ser utilizada.

Já para uso da água pluvial em vasos sanitários, sugere-se a aplicação de equipamentos mais complexos com  filtros que façam o descarte do primeiro fluxo de água da chuva (chamado “first flush”), pois essa primeira leva carrega muitas impurezas. Nesse sistema, é necessário ainda uma cisterna enterrada no jardim e uma bomba para encher a caixa d’água instalada sobre a edificação. Tal reservatório superior deverá ter um sistema complementar de abastecimento de água potável a ser utilizado em épocas de estiagem.

  • Arte UOL

É possível ainda inserir um filtro UV no complexo, que faz a desinfecção da água e a tornar ideal para a lavagem de roupas. O tratamento do líquido também pode ser feito com cloro ou ozônio.

"O principal cuidado quando se fala em aproveitamento de água de chuva é não ter qualquer ponto de cruzamento entre a água pluvial e a potável, para evitar contaminação. Para isso, o projetista deve atender aos termos da norma NBR 15.527/2007", explica Hütner.

Para a instalação de um sistema que utilize a água da chuva em banheiros e lavanderias em uma residência existente, é necessária a revisão de todo o equipamento hidráulico, podendo, dessa forma, ser necessária a reforma dos ambientes para adequação dos distintos encanamentos (de reuso e potável).

Nesse caso, pode haver uma variação expressiva de custo, porque inclui demolição e alteração da tubulação existente. Já em uma nova residência, o sistema de aproveitamento da água de chuva estará previsto no projeto hidráulico, o que demanda o aumentando de apenas algumas conexões, reservatório para água de chuva e filtros em relação ao encanamento habitual.