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Aliado ao design contemporâneo, artesanato dá identidade à decoração

A poltrona Caçuá, criada pelo designer Sérgio J. Matos, foi inspirada nos cestos de vime usados no interior - Carolina Vasconcelos/Divulgação
A poltrona Caçuá, criada pelo designer Sérgio J. Matos, foi inspirada nos cestos de vime usados no interior Imagem: Carolina Vasconcelos/Divulgação

Juliana Nakamura

Do UOL, em São Paulo

11/10/2013 07h03

Graças à sua diversidade étnica e cultural, o Brasil é um país de artesanato rico e variado. Só que, por muito tempo, trabalhos manuais como tricô, bordados, cestarias, marchetaria, apenas para citar alguns, estiveram dissociados do design sofisticado e de alto padrão.

Nos últimos anos, porém, tal panorama vem se alterando por um movimento de valorização daquilo que é histórico, tradicional e familiar. Mobiliários e objetos de decoração produzidos por profissionais consagrados e reconhecidos internacionalmente, como os irmãos Campana, Marcelo Rosenbaum e Zanini de Zanine, comprovam isso.

“De raíz”

"Por um tempo, muitos acreditaram que a industrialização acabaria com o artesanato. Mas isso não se confirmou. Pelo contrário, o lugar do artesanal na sociedade moderna está se expandindo", afirma a curadora, escritora e professora de história do design Adélia Borges, autora do livro "Design + Artesanato: o Caminho Brasileiro", da editora Terceiro Nome.

Segundo Borges, esse crescimento não se baseia apenas na capacidade que os objetos produzidos manualmente têm de exercer suas funções, mas também em sua dimensão simbólica. Afinal, os elementos artesanais podem agregar valores, como calor humano, individualidade e personalização, história e sensação de pertencimento a um lugar, tanto à peça em si, quanto ao ambiente no qual o objeto se insere.

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  • Divulgação

Para o designer Sérgio J. Matos, que trabalha com comunidades de artesãos da Paraíba na confecção de suas peças, a valorização do artesanato também tem a ver com a afirmação da identidade e com um ganho em autoestima do brasileiro recentemente.

"No passado o que tinha valor para o consumidor era o design importado. Hoje, tem-se orgulho do desenho mais tropical, que reflete a nossa brasilidade", acredita. Matos ainda lembra que há técnicas, artesãos e materiais riquíssimos país afora que precisam de maior visibilidade: "Muitas dessas formas de trabalho, inclusive, correm o risco de se extinguirem, porque as novas gerações tendem a não ver vantagens em perpetuar esse conhecimento e seguir com o ofício dos pais", lamenta.

Use com moderação

Se a incorporação de elementos artesanais pode imprimir personalidade e autenticidade aos ambientes, também é preciso sabedoria para atingir o equilíbrio. "O maior risco é transformar a casa ou o espaço em um amontoado de objetos sem conexão ou coerência", alerta a arquiteta Valquíria Almeida.

Uma sugestão para evitar erros é usar elementos artesanais que acrescentem cor e textura sobre bases neutras. "Podemos ter, por exemplo, uma cama coberta com uma colcha de renda, um sofá com almofadas de tricô, um pufe de crochê ou luminárias feitas de palha", comenta a arquiteta Camila Klein. Segundo ela, de forma geral, crochês e tricôs estão em alta e podem ser usados com sofisticação. Uma dica é utilizar esses trabalhos manuais para cobrir cadeiras, poltronas e chaises com formas mais contemporâneas.

Outro recurso que ajuda a evitar a armadilha de criar um ambiente visualmente confuso e poluído é adicionar o trabalho manual em peças grandes, dando destaque para elas. Além disso, aproveitar materiais étnicos, bem como as texturas e vazios dos trançados pode render ótimos resultados. Sobretudo quando se quer proporcionar um ar rústico e natural à decoração, o trabalho bem executado com fibras vegetais (cipós, juncos, rattan, vime, fibra de bananeira, sisal, etc.) é uma boa pedida.

As mesmas dicas valem para o uso da palhinha. Muito empregado na feitura de assentos e encostos de cadeiras, cabeceiras de camas e portas de armários nos anos 1960 e 1970, o trançado pode ser aproveitado com sucesso em móveis com linhas mais limpas, adicionando uma atmosfera nostálgica e familiar a uma decoração de tom moderno. "Em comparação ao mobiliário fechado, fruto da produção industrial em massa, as peças produzidas artesanalmente com cordas, que permitem criar vazios, são mais interessantes e têm muito mais a ver com o nosso clima tropical", complementa o designer Sérgio J. Matos.

  • Daiana Dalfito/ UOL

    Luminárias de macramê feitas pela artesã Maria Finatto Geremia, de Bento Gonçalves (RS). A artesã participa do projeto "Cantina Benta" que, sob a tutela do tecelão e designer Renato Imbroise, reuniu talentos em diversas técnicas manuais na cidade gaúcha. Em agosto de 2013, uma exposição com as peças artesanais teve lugar na Casa Brasil, feira bienal de design e mobiliário de luxo