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Parede em ângulos é peça-chave em reforma de mais de US$ 1 milhão

Nas salas integradas, o forro e as paredes entre as janelas ganharam volumetria - Bruce Buck/ The New York Times
Nas salas integradas, o forro e as paredes entre as janelas ganharam volumetria Imagem: Bruce Buck/ The New York Times

Alastair Gordon

The New York Times, em Nova York (EUA)

16/11/2014 09h00

“Como este espaço pode se tornar um acontecimento?” foi a questão colocada por Scott Bruckner aos arquitetos que ele contratou para remodelar o apartamento de 350 m² comprado em Tribeca, em 2007, por US$ 6,5 milhões. Bruckner, financista que passou boa parte de sua carreira trabalhando no exterior e voltou para Nova York estava na residência há cerca de um ano: embora “ele fosse grande e arejado e eu gostasse da localização”, afirma, era pouco mais do que um espaço estático em branco.

O escritório de design Voorsanger Architects, em princípio, apresentou uma proposta relativamente conservadora. Porém, quando os arquitetos perceberam que seu cliente gostava de se arriscar, resolveram criar um projeto que transformava o espaço quadrado em um “apartamento de solteiro” com paredes e batentes inquietantemente inclinados, uma entrada no estilo Dr. Caligari e uma parede longa e texturizada de pedra calcária que começa em uma entrada relativamente apertada, envolve um canto e se expande pela área de estar. A borda estreita que se assemelha a uma fenda geológica percorre uma leve diagonal na parede, sutilmente sugerindo um manto enquanto passa sobre uma lareira profunda.

Agora não há praticamente uma linha perpendicular no lugar e “cada vez que você vira sua cabeça, alguma coisa acontece”, diz Bruckner. “Todos os meus amigos chegam e ficam imediatamente surpresos com a parede. Todo mundo que entra vai até ela para tocá-la”, acrescenta.

Escultural

Feita a partir de uma série de planos em ângulo – cerca de 40 peças no total, cada uma com quase três centímetros de espessura – cortados por computador e que se encaixam com precisão, a parede é tanto um mecanismo de organização quanto um ponto focal, explica o designer Martin Stigsgaard, que trabalhou no projeto com Bartholomew Voorsanger: “A parede conecta todos os espaços e cria um caminho visual através do apartamento”, frisa.

Apartamento em Tribeca - reforma (Imagem do NYT, usar apenas no respectivo material) - Bruce Buck/ The New York Times - Bruce Buck/ The New York Times
A parede angulosa que parte da entrada é a peça que norteia a arquitetura de interiores
Imagem: Bruce Buck/ The New York Times
A parede é tão escultural que algum tipo de resposta era necessário para o lado oposto da sala, onde janelas em arco dão vista para a Rua Greenwich. Por isso “barbatanas” prismáticas – como os arquitetos as chamam – foram moldadas em resina translúcida e colocadas nos espaços entre as janelas.

O teto foi constituído por placas de gesso finalizadas com massa fina e pintadas de branco, em seções que, quando posicionadas em diferentes alturas e ângulos, ecoam a geometria fraturada da parede. Mesmo os móveis, a maioria dos quais projetada por Stigsgaard e Voorsanger, acompanham os padrões angulosos das superfícies da estrutura.

Um mar de ângulos

O morador também esteve “muito envolvido com todo o processo do projeto” a ponto de insistir numa mudança de ângulos das superfícies de pedra calcária e simplificar o tratamento do teto, que considerou muito ondulado: “Quase me deixou mareado”, revela Bruckner. No escritório completamente branco, uma placa de aço revestida com esmalte branco se projeta para fora da parede para servir como mesa. Isto também foi ideia do financista: “Eu queria o móvel se parecesse com a extensão de uma asa de avião. Eles tiveram que abrir a parede e prendê-la a vigas de aço”.

A paleta de cores é neutra porque “toda a cor é muita cor, na minha opinião”, diz Bruckner. Os pisos são feitos de madeira porosa e escura e os parapeitos das janelas são de pedra que fornecem assentos informais e escondem o sistema de aquecimento e resfriamento do apartamento. Quando entrou pela primeira vez no imóvel, após a obra – que custou pouco mais de US$ 1 milhão – Bruckner se sentiu oprimido: “Fiquei ali parado e pensei, ‘Meu Deus, o que eu fiz’?” . Contudo, um minuto depois, ele se apaixonou pelo lugar. “Ele assume uma dimensão diferente cada vez que eu olho para ele”, resume.