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Da vitrola ao bico de jaca: elementos desprezados viram "hits" de decoração

Vitrolas nunca foram abandonadas pelos aficionados em vinis, mas agora elas são "cool" - Getty Images
Vitrolas nunca foram abandonadas pelos aficionados em vinis, mas agora elas são 'cool' Imagem: Getty Images

Juliana Nakamura

Do UOL, em São Paulo

05/01/2015 07h03

Quem tem mais de quarenta anos pode testemunhar: acessórios e objetos de decoração, como samambaias, jarras bico de jaca e geladeiras coloridas fizeram a cabeça de muita gente no passado. Com o decorrer dos anos, o que era considerado ícone do bom gosto passou a ser associado a um estilo ultrapassado e datado. 

Só que, como acontece com a moda, na decoração as tendências vão e vêm a todo o momento. Por isso, em pleno século 21, impulsionados por uma onda “revival”, eis que alguns desses elementos ressurgem, mas agora com status “cool” e “hipster”. Confira abaixo alguns desses itens que voltaram com força total e dicas para incorporá-los a projetos de interiores contemporâneos.
 
Samambaia - Getty Images - Getty Images
Nas décadas de 1970 e 80 que casa não tinha uma samambaia?
Imagem: Getty Images
Samambaias
 
No passado - Na década de 1970, as samambaias de metro eram quase unanimidade no paisagismo. Por crescer rápido e ser relativamente fácil de cuidar, essa variedade era mantida em vasos suspensos em varandas e interiores bem iluminados de casas e, até, apartamentos.
 
Hoje em dia - Mesmo com a concorrência de outras plantas, as samambaias reconquistaram espaço na decoração, sobretudo com o surgimento dos jardins verticais. Entre as espécies mais utilizadas estão a renda portuguesa (Davallia Fejeensis), a paulistinha (Nephrolepis pectinata) e a samambaia de metro (Polypodium subauriculatum). A paisagista Marisa Lima lembra que as samambaias devem ter regas constantes, mas não toleram vento, sol e maresia. Além disso, precisam de terra úmida (nunca encharcada), adubo líquido a cada três meses e poda da folhagem amarelada sempre que necessário.
 
copos e taças bico de jaca - Divulgação Domi - Divulgação Domi
Os cristais e vidros com lapidação bico de jaca foram ícones da finesse
Imagem: Divulgação Domi
Cristal bico de jaca
 
No passado - Coloridas ou não, as taças de cristal (ou vidro) com lapidação bico de jaca vieram de Portugal e, por muito tempo, foram sinônimo de elegância, tratadas como verdadeiros tesouros que passavam de mães para filhas. Todavia, especialmente a partir dos anos 1970, esse tipo de acabamento passou a ser considerado antiquado e as taças e copos de design mais atemporal ganharam espaço.
 
Hoje em dia - As taças lapidadas de modo geral, e em especial as versões coloridas, voltaram com tudo com a onda retrô. Atualmente, mais vale ter personalidade marcante do que ser neutro, assim, ter cristais com cara de herança de família novamente passou a ser considerado "chique".
 
Mobiliário anos 1950; pés palito - Getty Images - Getty Images
1950: móveis coloridos de vinil ou couro quase sempre eram apoiados por pés palito
Imagem: Getty Images
Móveis com pés palito
 
No passado - Móveis coloridos com pés palito em madeira foram moda nos anos 1950 e simbolizavam o “American Way of Life”. Com o passar do tempo, esse tipo de design foi sendo deixado para trás, dando lugar ao mobiliário de aparência mais neutra e confeccionado com outras matérias-primas, como aço e vidro.
 
Hoje em dia - Muita coisa retornou ao posto de tendência, como se houvesse um resgate, uma necessidade de humanização em tempos que a tecnologia domina e deixa os relacionamentos mais frios, dizem o arquiteto Marcos Biarari e o designer Marcio Rodrigues, sócios do escritório Biarari & Rodrigues. Os pés palito ressurgiram nesse "levante 'vintage' e emotivo", ganhando espaço em apês de gente urbana, jovem e descolada. Tais suportes, ainda, dão leveza e um toque retrô a peças como bufês e poltronas coloridas.
 
[FINALISTA] O Melhor da Arquitetura 2014 - categoria "Casa Urbana - Mais de 300 m²": Casa B+B - Studio mk27. Neste projeto em São Paulo (SP), os ambientes sociais ocupam o pavimento superior e as áreas privativas, o térreo. Para viabilizar essa inversão, uma rampa de concreto conecta diretamente o jardim de entrada ao living. Uma extensa parede de cobogós cria sombras circulares nesse acesso - Divulgação - Divulgação
Projeto contemporâneo do Studio mk27, para uma casa em São Paulo, leva cobogós
Imagem: Divulgação
Cobogós
 
No passado - Ícones da arquitetura brasileira, os cobogós são elementos vazados, normalmente feitos de concreto, cerâmica ou resina, usados para a construção de paredes e divisórias e que favorecem a entrada de luz e a ventilação naturais. Os cobogós são associados ao movimento modernista brasileiro, mas com o desenvolvimento de novos materiais, como o vidro, ficaram um pouco esquecidos.
 
Hoje em dia - O interesse por soluções que garantam sombreamento e ventilação aos espaços, aliado ao trabalho de arquitetos contemporâneos badalados, como Marcio Kogan, fizeram com que os olhos se voltassem novamente aos cobogós. O material vem ganhando espaço e alternativas de aplicação não só nas fachadas, mas também nos interiores das construções. Para áreas internas os cobogós podem ser feitos de madeira ou resina, mais leves. Já nas fachadas, vale o emprego de peças mais robustas de concreto, cerâmica e, até, de vidro.
 
máquina de escrever antiga - Getty Images - Getty Images
As máquinas de escrever têm aura poética: que tal uma dessas na sua sala de estar?
Imagem: Getty Images
Relíquias de antiquário
 
No passado - Decorar a casa com objetos antigos sempre foi chique e elegante, mas nos últimos tempos, o hábito de exibir um exemplar de uma peça que não têm mais uso, apenas por seu design e valor nostálgico, ganhou força. Nesse grupo enquadram-se maletas com estampa "vintage", máquinas de escrever e de costura, câmeras fotográficas analógicas, aparelhos de telefone, rádios, etc..
 
Hoje em dia - É preciso tomar cuidado para que o ambiente não fique parecendo uma extensão de um antiquário ou a casa de um acumulador de tralhas antigas. "A peça deve estar dentro do conceito do ambiente, que não precisa, necessariamente, ter decoração completamente retrô", diz a designer Márcia Brunello. Uma dica para quem gosta de colecionar objetos antigos é concentrá-los em um móvel tipo cristaleira, esse cuidado deixa a inserção de tais itens na ambientação mais natural.
Material reaproveitado
 
No passado - Garrafas de vinho, caixotes de madeira e pallets são materiais que, no passado, não tinham qualquer valor decorativo. Nos anos 1980, por exemplo, transformar um garrafa de azeite em um vaso para flores soaria como uma excentricidade ou, no mínimo, como algo que partia de alguém sem recursos para decorar.
 
Hoje em dia - As coisas mudaram, e muito. Agora, o chique é demonstrar consciência social e ambiental. Por isso, na casa de uma pessoa antenada, não pode faltar uma solução original de reaproveitamento de material. Algumas ideias: colocar pequenas lâmpadas natalinas dentro de garrafas de vinho para criar enfeites luminosos, transformar garrafas de vidro mais robustas em base para abajures ou, simplesmente, aproveitar tais itens (pequenos e incolores) como vasos para flores. Mas atenção: ainda que o estilo da sua decoração tenda para o rústico, tome cuidado para que o trabalho artesanal não fique com cara de solução "barata". Originalidade, matéria-prima e acabamento diferenciam o descolado e o interessante do banal.
 
Luminária moderna/ luminária com lâmpadas aparentes - Getty Images - Getty Images
As lâmpadas "de bulbo" tiveram sua beleza descoberta e tornaram-se vedetes
Imagem: Getty Images
Lâmpadas à mostra
 
No passado - Por muito tempo, designers e fabricantes de equipamentos para iluminação trabalharam exaustivamente em soluções, como lustres, plafons e arandelas, destinados a esconder as lâmpadas, eliminá-las de nossas vistas. Isso porque os bulbos em si, transparentes e incolores ou leitosos, nunca foram vistos como objetos bonitos e, quando aparentes, estavam associados à falta de dinheiro para a decoração.
 
Hoje em dia - As lâmpadas fluorescentes compactas surgiram e, além do benefício da economia de energia, elas nos fizeram perceber o quanto as antigas lâmpadas incandescentes eram esteticamente interessantes. O mercado vem oferecendo produtos nessa linha e muitos designers têm se aproveitado disso em seus projetos, por exemplo, com pendentes que exibem lâmpadas em todo o seu esplendor.
 
Cadeira com estofamento/ estampa animal (animal print) - Getty Images - Getty Images
Padrões "animal print" devem ser usados com cuidado ou podem pesar na decoração
Imagem: Getty Images
Estampas de animal
 
No passado - O termo "animal print" nasceu nos anos 1950 e se refere às estampas que reproduzem peles de animais selvagens. Com inspiração étnica, o estilo divide opiniões. Há quem ame e há quem ache exótico (e/ou exagerado) demais. A verdade é que, de tempos em tempos, essas padronagens voltam à tona, impulsionadas por estilistas e designers que não têm medo de usá-las.
 
Hoje em dia - Quando se usa "animal print", há uma linha tênue entre a sofisticação e o brega. Para obter sucesso com esses padrões, uma dica é equilibrar a estampa animal com revestimentos e cores neutras ou sóbrias, como branco, preto e bege. Outra regra (que só pode ser quebrada se você tiver extremo bom gosto) é jamais misturar as estampas. Assim, para obter um resultado mais elegante, melhor investir em poucas peças com padronagens chamativas.
 
Geladeira retrô; geladeira antiga; geladeira colorida - Getty Images - Getty Images
Geladeiras cor "ar retrô" podem ter tecnologia de ponta
Imagem: Getty Images
Geladeira colorida
 
No passado - Nos anos 1950 e 1960 era comum encontrar nas casas das famílias eletrodomésticos coloridos. Com o passar dos anos, a indústria substituiu esses equipamentos por modelos com pintura branca ou acabamento de aço inoxidável, que passaram a ser associados à modernidade. 
 
Hoje em dia - As geladeiras coloridas são cada vez mais utilizadas em cozinhas de apartamentos "cool". A boa notícia é que há modelos com cara de antigos, mas modernos, ou seja, com bom funcionamento e baixo consumo de energia. Vermelho, preto, amarelo e azul são as cores mais recorrentes por quem busca a alternativa.
 
Fontes consultadas: Maximiliano Crovato, designer de interiores, Guilherme Torres, arquiteto, Marcos Biarari, arquiteto, Marcio Rodrigues, designer, Marisa Lima, paisagista, designer de interiores Márcia Brunello.