Topo

Casa cubana com 743 m² tem arquitetura moderna e paisagismo tropical

Casa de 1956, em Cuba, tem projeto de Richard Neutra e é exemplo de Modernismo - Leonardo Finotti/ UOL
Casa de 1956, em Cuba, tem projeto de Richard Neutra e é exemplo de Modernismo Imagem: Leonardo Finotti/ UOL

Giovanny Gerolla

Do UOL, em São Paulo

14/01/2015 07h02

Situada em um terreno de aproximadamente 30 mil m2, a residência Schulthess (com 743 m²)  foi o único projeto desenvolvido pelo austríaco Richard Joseph Neutra (1892-1970) para a cidade de Havana, capital de Cuba. Datada de 1956 e com paisagismo assinado pelo brasileiro Roberto Burle Marx, a casa foi premiada pelo Instituto de Arquitetos Cubanos, em 1959.

“Este foi um dos projetos mais importantes para Neutra”, analisa a professora doutora Patricia Pimenta Azevedo Ribeiro, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design da Universidade Federal de Uberlândia (FAUeD-UFU). “É o único dele na ilha. Neutra buscou informações com construtores sobre sistemas construtivos locais e pesquisou como os materiais se comportavam naquele clima, principalmente a madeira”, diz.

A estrutura da obra é em concreto armado, com vigas em espaçamentos modulares. Outros materiais predominantes são as madeiras tropicais, o vidro e pedra e a pintura é branca, descreve a professora.

A Schulthess tem dois pavimentos: o térreo, com espaços de convivência social em alas distintas, além de serviços e um quarto de hóspedes, fica definido por uma planta de desenho cruciforme (em forma de cruz). Isso facilita a iluminação natural e a ventilação cruzada, além de setorizar o programa de uso residencial e promover a eficiência da circulação interna. No piso superior, em formato retangular, estão as suítes além de um solário. Todos os quartos têm uma saída para o terraço linear com vista para a piscina.

Tom do modernismo

Richard Neutra veio ao Brasil em 1945, patrocinado pelo Departamento de Estado Norte Americano, a fim de participar do programa conhecido como “política de boa vizinhança”. Nesta ocasião, conheceu o paisagista e artista plástico brasileiro Roberto Burle Marx. Juntos, desenvolveram dois trabalhos no ano de 1956, sendo um deles a Casa Schulthess.

Não é à toa a semelhança de tal construção com o desenho típico da arquitetura brasileira dos anos de 1950. Neutra foi um arquiteto de suma importância para o movimento Moderno Internacional. “Seu trabalho, juntamente com os de Ludwig Mies van der Rohe, Walter Gropius e Le Corbusier, esteve presente na famosa exposição 'International Style', de 1932, no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA)”, afirma a professora.

O austríaco, nascido em Viena em 1892, tinha espírito investigativo, estudou propostas inovadoras para o desenho de cidades, edifícios educacionais e muitas residências, além de alguma mobília. Suas casas tiveram organização espacial definida pela “quebra” da caixa compartimentada, muito modular, em plantas caracterizadas pela relação entre planos que nem sempre se tocam. “Quando tais planos se alinham, apresentam-se em materiais diferentes, para que se diferenciem e destaquem”, explica Ribeiro.

Para além da preocupação com a técnica, Neutra buscava criar afinidade com seus clientes, observava-os e dialogava para entender que tipo de casa queriam ter. “Não são raras as fotos em que o arquiteto aparece com o morador, sentado na sala de estar, depois de terminada a obra”, completa a professora.

Por fim, a determinação tecnológica de Neutra não se limitou a racionalizar processos construtivos, buscou também inovar na plasticidade de suas composições com a intenção de fazer economia, de encontrar na paisagem o domínio da natureza e de fazer da arquitetura uma verdadeira poesia.  A Schulthess é um exemplo histórico disso.