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Arquiteto das megamansões constrói para ricaços, inclusive Gisele Bündchen

Steven Kurutz

The New York Times, de Los Angeles (EUA)

09/05/2015 09h00

Às vezes Richard Landry não acredita em quão bem sucedidas são sua vida e carreira. No final das contas, o que teria acontecido se ele tivesse ficado em Quebec e aceitado o trabalho de professor que lhe foi oferecido, após a faculdade de arquitetura? E se Alberta não tivesse entrado em recessão, levando-o a deixar a pequena empresa comercial, onde passou seus primeiros anos de profissão, para se aventurar em Los Angeles, cidade que escolheu por causa do clima e porque em 1984 todos falavam sobre os Jogos Olímpicos de Verão? E o que aconteceria caso Frank Gehry tivesse retornado sua chamada quando ele chegou à cidade e começou a procurar arquitetos na lista telefônica?

Gehry não retornou a ligação de Landry e ele acabou contratado pela firma R. Duell & Associados, especializada em parques temáticos como o Magic Mountain, um emprego descrito como “pura diversão, pura fantasia”. Querendo muito agradar, o arquiteto passou a trabalhar para uma pequena empresa que fazia projetos residenciais para um novo condomínio fechado chamado Beverly Park, com vista para Beverly Hills. Até então, um espaço cheio de sujeira e sem árvores, o condomínio viria a ser um resumo da bolha impenetrável das pessoas ricas, numa cidade cheia delas. Um paraíso particular, sem poluição, para investidores bilionários, atletas estelares e Sylvester Stallone como clientes.

Então, quando Landry balança a cabeça hoje em dia e diz “é difícil quando reflito sobre isso e me pergunto ‘Como acabei aqui?’”, você quase acredita que foi o destino que o trouxe ao oeste e lhe deu o temperamento e as habilidades para projetar casas de sonhos em uma época de exuberância econômica. Trinta anos depois de chegar com todas as suas coisas dentro de seu Honda, Landry, de 57 anos, é um dos arquitetos residenciais de alto luxo mais procurados no sul da Califórnia. Seus clientes são os superricos, os superfamosos e, muitas vezes, ambos.

Gisele Bündchen abre as portas de sua mansão para a revista "Architectural Digest" em 2013, projeto é de Landry - Reprodução/ Architectural Digest - Reprodução/ Architectural Digest
Gisele abre sua mansão para a revista "Architectural Digest" (2013), projeto é de Landry
Imagem: Reprodução/ Architectural Digest
Gisele e outras estrelas

Seus projetos fariam inveja às propriedades dos senhores feudais. Há a casa com 1.160 m²,  inspiração francesa e o quê a revista Architectural Digest descreveu como “um verdadeiro fosso”, em Brentwood, que ele projetou para Tom Brady e Gisele Bündchen. Há, também, a composta por 28 quartos, 32 banheiros, vidro, aço e pedra parecendo tombar em uma encosta da Bell-Air chamada de “Ultimate Home”, em 2011.

E como esquecer a mansão em estilo europeu com 2.800 m², uma quadra de basquete e duas Jacuzzis, para a qual o ator Mark Wahlberg mudou-se recentemente em Beverly Park? “Quando ele [Wahlberg] me ligou, disse: ‘Richard, tenho acompanhado seu trabalho há anos. Estou muito feliz por você poder fazer a minha casa agora’”, conta Landry, que arremata: “Que cara legal. Nos divertimos tanto!”

Prestando serviço para os prósperos, Landry também prosperou. Sua firma, a Landry Design Group, emprega cerca de 50 pessoas que trabalham em um prédio de escritórios, que ele comprou no ano passado e que tem dezenas de projetos, em vários estágios, no mundo todo. “Poderia me aposentar hoje e ficaria bem pelo resto da vida”, afirma.

Vida dura

É claro que a vida não é um total mar de rosas. Landry já não consegue obter peças de reposição para o seu carro esportivo elétrico de US$ 100 mil, porque a empresa que o fabricou foi à falência. Mais preocupante ainda é a crítica que vem com o título de “arquiteto favorito do 1%” [referindo-se à parcela da população norte-americana que detém a maior parte da renda do país]. Ou ser chamado de “arquiteto de mansão”, o “rei das megamansões de mau gosto” ou, como um comentarista online o apelidou, um provedor da “gigamansão”.

O blog imobiliário Curbed tem sido o seu crítico mais implacável, chamando casas desenhadas por Landry de “desnecessariamente exageradas” e “feias” e sugerindo que "se a plebe soubesse mais sobre o quê ele esta fazendo” poderia “desencadear a revolução populista da América”.

As casas que ele projeta são, realmente, exibições evidentes de riqueza, expressas em galerias e grandes entradas para veículos, home theaters e halls com pé direito duplo, mármore italiano e pedras calcárias especialmente envelhecidas e lavadas com ácido. Até mesmo os dois livros que ele publicou para compilá-las e exibi-las são tão grossos quanto placas de mármore.

Mas Landry, que teve uma infância de plebeu como o filho de um carpinteiro na Quebec rural (e que não aprendeu a falar Inglês até seus 20 anos), não está interessado em luta de classes. Se os ricos devem praticar a autocontenção para a melhoria da sociedade é uma questão para os sociólogos. "Será que é certo ou errado alguém construir uma grande casa? Não sou eu quem vai responder esta pergunta”, resume o arquiteto.

A abordagem de Landry não é dizer a seus clientes que ter uma horta sustentável atrás de uma casa gigantesca é um pouco ridículo ou impor a eles sua visão singular, ao estilo Frank Loyd Wright. Acima de tudo ele quer fazê-los felizes ao projetar casas que se adaptem às suas necessidades individuais e desejos.

Seu desejo é uma ordem

Se o fundo de investimentos que você administra está dando um retorno absurdo e você quer uma piscina coberta para os cinco dias do ano em que fica muito frio na Califórnia para nadar numa piscina externa, Landry adicionará isso ao projeto. Se você e sua terceira esposa, muitíssimo mais jovem, tiveram férias especiais na Itália e querem trazer aquele charme do Velho Mundo para Calabasas, Landry projetará uma 'villa' com o valor de um mosteiro de madeira recuperada. Se a série de comédia familiar que você criou foi vendida por muito dinheiro e tudo o que você quer é uma quadra de squash em casa, seu arquiteto tem isso planejado: “Vou começar a jogar squash”, conta Landry, rindo.

James Magni, um designer de interiores de Los Angeles que trabalha frequentemente com Landry, disse que ele é único em sua habilidade de mudar como um camaleão para atender aos desejos de seus clientes. “A maior parte dos arquitetos tem uma filosofia de estilo dentro da qual trabalham. O estilo de Landry muda de projeto para projeto e de cliente para cliente”, aponta Magni.

Embora seja conhecido principalmente pelos projetos que imitam o estilo europeu, ele não têm um estilo ou tamanho únicos. Sua firma tem feito muitos castelos gigantes do Vale do Loire, mas também casas de praia relativamente modestas em estilo espanhol, casas inspiradas na metade do século, celeiros vernaculares, habitações modernas, arquitetura austera e renovações de casas existentes.

As pessoas que o chamam de rei das megamansões e focam apenas na expansão das metragens, não estão cientes da amplitude do seu trabalho, defende-se Landry, e este rótulo está custando caro a ele: “Os clientes leem isso e acham que só fazemos mansões. Eles querem uma casa de 450 ou 900 m² e pensam ser muito pequena. Uma casa de 900 m² é uma casa grande”.

Landry descreveu a si mesmo como avesso à atenção da mídia e desinteressado pela fama. Contudo, para ilustrar o alcance do seu trabalho, ofereceu mostrar diversas casas projetadas por ele, se referindo a elas em termos de tamanho: “pequenas, médias, grandes e extragrandes”.

Quando perguntado sobre qual a conexão entre seus diversos projetos, Landry pensou por um momento. “Há alguma coisa... algo sensível na casa em termos de qualidade, dos detalhes. Não se trata do tamanho ou de ser formal, casual ou moderna. Eu acho que há uma essência que você pode identificar. Um não sei o quê”, acabou por falar.

A casa do arquiteto

E quanto à casa pequena que Landry queria mostrar? É a sua própria: 400 m² espalhados em três andares na praia ao norte de Malibu. “Pequeno”, assim como “luxo”, são termos relativos. A residência tinha piso de mármore rosa e pêssego, foi mal projetada e pertenceu a Hugh Hefner, conta Landry. Ele refez praticamente toda a construção e a transformou numa caixa moderna com mobília contemporânea e superfícies brancas. O interior tem um pouco de clube noturno de Miami Beach: espelhos, luzes que mudam do laranja para o roxo e o azul, um acessório de banheiro em forma de joystick e, no quarto principal, uma cabeceira de couro cabernet. “Muito calmante, muito puro”, diz ele sobre a casa e acrescenta: “O oceano é a estrela”.

O arquiteto mora sozinho, exceto quanto tem a custódia de sua filha adolescente, Samantha. A vida de Landry pode parecer solitária naquele estilo pessoa bem-sucedida de Los Angeles. Ele passa as noites na academia do outro lado da rua de seu escritório e come no restaurante da própria academia. O bar e a área de entretenimento externa que ele construiu no terceiro andar raramente recebem convidados. “Eu sou voltado para os amigos e a família”, afirma, mas seus pais e irmãos estão de volta a Quebec e ele e seu parceiro de longa data, Robert Carolla, se separaram há três anos.

Vida privada

Landry aprendeu a realizar projetos para as necessidades dos ricos e famosos. Duas cozinhas, uma para a família e outra para os empregados. Grandes foyers abertos com fluxo direto para dar fácil acesso ao quintal para a multidão. Alas que podem ser fechadas para que uma casa grande se torne uma série de outras menores, habitadas pelos proprietários, familiares e hóspedes e amenidades como home theaters e spas que são responsáveis por toda essa metragem quadrada.

Alguns podem dizer que isso é desorientador e faz com que as pessoas se enclausurem, mas para Landry não existe certo ou errado, apenas o desejo de que está pagando: “Algumas das celebridades com as quais trabalhamos não têm nenhuma privacidade fora de suas casas. Então, deixe-as ter um home theater ou uma pista de boliche. Não estou justificando a necessidade de alguém ter uma casa de quase 3.000 m²”. “Eu realmente acredito que ainda não fizemos nosso melhor trabalho”, arremata Landry enquanto dirige seu carro esporte de volta ao escritório. “Como arquiteto, estou amadurecendo com cada projeto, como um vinho especial que fica melhor com o passar dos anos”.