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Nômade digital: rapaz joga tudo pro alto e vai viver em casa na árvore

Foster Huntington posa do lado de fora da "Octagon", uma de suas "casas na árvore"  - Kyle Johnson/ The New York Times
Foster Huntington posa do lado de fora da "Octagon", uma de suas "casas na árvore" Imagem: Kyle Johnson/ The New York Times

Steven Kurutz

The New York Times, em Washougal, Washington, EUA

11/07/2015 09h00

As pessoas sempre falam sobre como largarão seus empregos, deixarão para trás a loucura da cidade e colocarão o pé na estrada. Uns poucos drinques e elas começam a contar sobre a épica trilha que farão em Sierra Nevada ou quão mágico o surf é em Baja Califórnia Sur, México. Mas quase ninguém faz isso, ao contrário de Foster Huntington.

Foster costumava trabalhar em Nova York, tinha um futuro brilhante na indústria da moda, mas um dia resolveu romper com tudo. Você sabe onde ele vive agora? Em uma casa na árvore. “Eu poderia ter comprado uma casa convencional, mas isso é tão melhor. É como realizar um sonho de infância”, conta, parado na base de um abeto com o rosto escondido atrás de uma barba mal feita. Foster usa camiseta preta, jeans surrados e All-Stars, as mesmas roupas que vestiria nos dois dias seguintes.

Desde o último outono, o rapaz de 27 anos, vive em meio a um aglomerado de árvores em uma colina gramada, no sudoeste do estado de Washington. O ponto é privilegiado: amplo, plano e com vista para um verdejante vale e distante poucos quilômetros do cânion de Columbia River Gorge. À noite, lá de cima na casa da árvore, você consegue enxergar o brilho de Portland, no Oregon, a pouco mais de 30 km na direção oeste.

As casas de madeira são ligadas por pontes e acessadas por escadas - Kyle Johnson/ The New York Times - Kyle Johnson/ The New York Times
As casas de madeira suspensas são ligadas por pontes e acessadas por escadas
Imagem: Kyle Johnson/ The New York Times
Cone das cinzas

Na verdade, há duas casas na árvore: aquela que Foster chama de Estúdio - uma cabana de cedro vermelho, 'abrigada' entre três árvores, suspensa a seis metros do chão e que parece flutuar - e o Octógono, que tem a forma de seu nome e se agarra ao tronco de um abeto solitário a dez metros de altura. Duas pontes – uma delas feita de corda e parecendo ter saído da vila dos Ewoks – conectam as estruturas aéreas. Lá em baixo, há uma onda sinuosa de concreto: uma pista de skate no estilo "bowl".

O rapaz construiu as casas durante vários meses em 2014, com a ajuda da amigos e contratou construtores para fazerem a pista de skate. “Eu penso neste lugar como um acampamento para garotos grandes”, afirma Tucker Gorman, amigo de infância de Foster. Tucker é construtor e projetou as estruturas de madeira em parceria com Michael Garnier, especialista em casas em árvores. “É bem parecido com a Terra do Nunca, lá em cima”, arremata.

Foster deu um nome ao local: “Cone das Cinzas”, uma alusão à localização em uma antiga área vulcânica. Pode parecer, mas o “Cone” não é um parque de diversões 24 horas, seu proprietário pode ter deixado Nova York para trás, mas não abandonou a ambição ou o mundo da moda.

Amigos de Foster ajudam na construção de um chuveiro ao ar livre - Kyle Johnson/ The New York Times - Kyle Johnson/ The New York Times
Amigos de Foster ajudam na construção de um chuveiro ao ar livre
Imagem: Kyle Johnson/ The New York Times
Distante, mas nem tanto

Por um tempo, Foster foi pago para ser consultor de mídia social da marca de vestuário “outdoor” Patagônia e colaborou com a Allianz e a HP estrelando anúncios “online” que mostravam seu estilo de vida nada convencional. Ele também trabalha como fotógrafo “freelancer” e publica, desde 2008, o blog de viagens de aventura “A Restless Transplant”.

O empresário, que gosta da vida ao ar livre, inventou sua própria carreira. As casas na árvore servem como sua moradia e como um cenário sedutor para sua propaganda pessoal. Foster publica fotos e vídeos de seu lar para o deleite dos seus 965 mil seguidores no Instagram e está trabalhando em um livro sobre o projeto – parte guia de como fazer, parte tomo de arte ricamente ilustrado – que ele planeja publicar e comercializar pelo seu site.

Na realidade, uma das razões de Foster ter construído as casas nas árvores, foi o fato dele estar tendo problemas para trabalhar em sua casa anterior: um motorhome, que ele dirigiu pela região oeste. “Estive na estrada por três anos. É fantástico. Um jeito incrível de viver, mas é difícil fazer algumas coisas. Por exemplo, a internet não é confiável”.

Foster diverte-se em sua pista de skate particular em meio à natureza - Kyle Johnson/ The New York Times - Kyle Johnson/ The New York Times
Foster diverte-se em sua pista de skate particular em meio à natureza
Imagem: Kyle Johnson/ The New York Times
A mudança

Quatro anos atrás, o jovem trabalhava como designer de moda masculina para a grife Ralph Lauren e fazia parte de uma equipe que cuidava do design conceitual, criando as histórias, temas e apresentações por trás de cada coleção. Este foi seu primeiro trabalho fora da faculdade e ele, inicialmente, achou divertido e desafiador, mas depois de um ano e meio, percebeu que não ligava muito para roupas. Foster reconhece que sabia que cada ano que passasse na Ralph Lauren, tornaria mais difícil sua saída: “Estaria ganhando mais dinheiro, o que significa poder ter um apartamento mais legal e mais coisas”.

Ele pensou em economizar o suficiente para comprar uma van usada e largou o emprego em dois anos. Mas então, a editora HarperCollins pagou a ele uma quantia considerável antecipadamente, para que ele fizesse um livro a partir do “The Burning House”, o blog que ele criou em 2008 e onde perguntava às pessoas “o que elas levariam com elas se suas casas pegassem fogo”. “Nunca tive muito dinheiro. Pensei que poderia viver um ano com aquele valor e comprar uma van”.

Foster encontrou outros espíritos livres vivendo na estrada. A subcultura existia desde os anos 60, mas agora tinha sua própria hastag, #vanlife, que ele colocou nas fotos que publicou nas mídias sociais. Estar conectado foi o que lhe permitiu, de fato, viver fora dos padrões. As fotos eventualmente se tornaram um livro, “Lar é Onde Você Estaciona”, cuja publicação foi auto-financiada através de uma campanha no Kickstarter que arrecadou mais de US$ 65 mil. Ele vende o livro por US$ 65 em seu site.

Mas quando se cansou dos burritos de feijão e do Wi-Fi intermitente, ligou para Tucker, seu amigo de infância, que estava vivendo em um veleiro na baía de San Francisco.

Detalhe de uma prateleira com livros no "Estúdio" suspenso feito de madeira  - Kyle Johnson/ The New York Times - Kyle Johnson/ The New York Times
Detalhe de uma prateleira com livros no "Estúdio" suspenso feito de madeira
Imagem: Kyle Johnson/ The New York Times
As casas

Em uma tarde, Foster recebia alguns amigos. Ned Siegel e Kai Korsmo, membros da galera, ajudavam a construir o projeto mais recente: um chuveiro ao ar livre para acompanhar a banheira aquecida à lenha. ned e Kai planejavam trabalhar mais no chuveiro, mas porque Foster queria filmá-los, estavam descansando: só trabalhariam com a luz perfeita.

Enquanto isso, o dono da casa subia nas árvores. No topo de uma escada cada vez mais íngreme há uma plataforma feita de cedro vermelho. Abrindo a porta do Estúdio, Foster diz que ambas as casas têm fogões à lenha, permitindo que ele se abrigue confortavelmente, mesmo durante noites frias e tempestuosas da costa noroeste do Pacífico.

O interior é quentinho e iluminado. Em uma prateleira ao lado da porta ficam as câmeras e lentes. E o iMac está sobre uma mesa simples, contra uma parede onde uma prancha de surf está apoiada. Grandes janelas dão vista direta para os galhos cheios de agulhas verdes. O Estúdio é o espaço de trabalho e o Octógono, o quarto. A pequena casa que sua mãe construiu a 30 metros de distância é a fonte de energia elétrica do sistema hidráulico.

No frio cortante naquela noite, Foster cortava lenha antes de acender a banheira. Com o vale e as suas casas envoltas em uma névoa fria, o rapaz relaxou e refletiu sobre seu tempo em Nova York: o caro apartamento em Upper West Side, o trabalho corporativo e a pressa cada vez maior de tudo isso. E concluiu: “Aquele mundo parece tão distante”.