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Colunas do Palácio da Alvorada se tornaram símbolos de Brasília

Ledy Valporto Leal

Colaboração para o UOL, de São Paulo

15/10/2015 07h01

Antes mesmo do Plano Piloto desenvolvido por Lúcio Costa (1957) para a futura capital federal sair do papel, Brasília (DF) havia ganhado um símbolo à altura de seu pretencioso conjunto. Uma espécie de sinal, capaz de sintetizar a ideia de progresso, tal qual uma “pedra fundamental”: era o Palácio da Alvorada, inaugurado em 30 de junho de 1958. O edifício foi implantado próximo às margens do futuro lago do Paranoá, distante cinco quilômetros do Palácio do Planalto (1960). Ali morou a maioria dos presidentes da República e, hoje, é residência de Dilma Rousseff.

O prédio, concebido por Oscar Niemeyer, viria a se transformar em uma das obras mais cultuadas da arquitetura internacional e era, nas palavras do arquiteto, “não uma grande residência, mas um palácio, com o espírito de monumentalidade e nobreza que deve marcá-lo”.

Com 11 mil m² de área construída (incluindo capela, piscina e anexo), o palácio compreende um grande retângulo envidraçado, medindo 3.300 m², ligado à capela em forma de caracol. A construção conta com duas varandas idênticas, a percorrer toda sua extensão. A varanda frontal e pública é guarnecida pela sequência das colunas em arco, revestidas de mármore branco apicoado, interrompida pela entrada que demarca a autoridade investida ao edifício.

A imponência desta composição, que se relaciona com as varandas coloniais das fazendas, também pode ser reconhecida no desenho das colunas, por vezes, comparadas às cariátides gregas. A cultuada colunata transcendeu sua função estrutural e tornou-se símbolo, uma logomarca de Brasília, sendo apropriada pela população, ganhando as fachadas de armazéns, os para-choques de caminhões e o imaginário coletivo.

A anatomia do Palácio

O programa do Alvorada é composto por três pisos. No térreo estão os espaços “de Poder”, considerados de uso público, como a sala de reuniões, o salão de banquetes e o gabinete do presidente. No pavimento superior fica a suíte presidencial e as dependências familiares, bem como o chamado setor de apoio com salas de massagem, cabeleireiro, barbeiro, copa e banheiros. No subsolo, os serviços: corpo de guardas, chapelaria, despensas e adegas, garagem, lavanderia, cozinha, refeitório, vestiários, copa e dormitórios dos funcionários, além de uma sala de cinema.

Segundo o arquiteto da Câmara dos Deputados, Élcio Gomes da Silva, autor do livro “Os Palácios Originais de Brasília”, os espaços internos se caracterizam pelos recursos decorativos utilizados - a exemplo das grandes superfícies espelhadas e do painel de latão dourado assinado por Athos Bulcão – a fim de assegurar nobreza, refinamento e elegância, enquanto a monumentalidade se dá pelo pé-direito duplo.

Niemeyer, porém, desejava criar o lugar imponente - dos grandes salões onde se reúnem os chefes de Estado e demais autoridades – sem abrir mão de uma residência aconchegante e intimista. “O arquiteto conseguiu criar espaços fluídos com transição natural, sem rupturas”, afirma Gomes da Silva.