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Casa em balanço contrasta com paisagem sinuosa e brinca com limites do "ver e ser visto"

Do UOL, em São Paulo

07/11/2012 11h30Atualizada em 21/04/2015 18h38

Linhas retas e volumes em balanço contrastam com os traços sinuosos e naturais da serra onde está implantada a casa EG, do escritório Play Arquitetura, em Nova Lima (MG). Exemplar moderno, com projeto datado de 2007 e obra finalizada em 2010, a construção faz parte de uma safra de ótimas arquiteturas na cidade, na grande Belo Horizonte. É, também, um exercício de opostos: a casa destaca a natureza, que – por sua vez - enfatiza a construção.

Concisa e ao mesmo tempo exuberante, a obra de linhas assertivas é – ao contrário do que talvez se espere – lúdica. Em meio à rústica topografia e provida do concreto nu, a dureza não se instala em seus blocos bem pesados e dimensionados.  O arquiteto Marcelo Alvarenga, responsável pelo desenho – se interessou em desenvolver um balanço estrutural dotado de uma sensação figurativa de movimento, enquanto a volumetria construtiva servia ao aproveitamento máximo das vistas.
 
Com um partido surgido da vontade de melhor aproveitar o lote íngreme e a paisagem, a casa EG é funcional ao tocar o solo em pontos diversos e permitir o acesso dos moradores ao terreno natural. “Assim, surgiu a ideia de blocos sobrepostos, o de baixo – contendo os quartos, o do meio – abrigando a área social – e o superior que reúne o estar íntimo e o escritório”, esclarece o arquiteto.
 
Acima dos quartos, ao lado dos dormitórios
 
Partindo de baixo para cima, os dois primeiros blocos foram dispostos de modo a criar uma laje de cobertura sobre os quartos que funcionasse como uma área plana e aproveitável, um espaço externo e gramado no nível dos ambientes de uso comum e social e que garantisse um “quintal”, um solário agradável.
 

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EM NOVA LIMA (MG)

  • Eduardo Eckenfels / Divulgação
 
Tal gramado, porém, serve para mais do que o lazer: a cobertura ajuda no controle térmico dos ambientes internos – especialmente os quartos – ao minimizar e controla as mudanças bruscas de temperatura, diminuindo assim os possíveis danos na manta asfáltica que foi usada na impermeabilização da estrutura da laje. 
 
O volume dos quartos ainda tem uma segunda particularidade interessante, ele foi implantado no mesmo nível das garagens. A iniciativa, explica Alvarenga, visava a diminuição do uso de escadas pelos moradores.  “O acesso dos veículos se dá primeiramente pouco abaixo do volume dos quartos para, através de uma rampa, conduzir à área íntima. Nas garagens só entram os carros da família e de alguns hóspedes 'mais chegados' e há previsão para instalação de uma cortina na janela baixa que dá para o abrigo dos carros, caso necessário. Ou seja, a privacidade está garantida”, pontua o arquiteto.
 
O “balanço no balanço”
 
“Um balanço no balanço”. A frase pode parecer estranha, mas essa brincadeira onde as palavras se repetem é tão correta em sua engenharia como se faz poética. Sob o volume social – meio apoiado no solo, meio sustentado pelos cálculos de contrapeso – está um balanço de brincar. É o detalhe (quase) singular do desenho. “Um elemento lúdico que se relaciona com a vista linda dos arredores”, declara Alvarenga. 
 
O balanço de brinquedo instalado no balanço arquitetônico, naquele vão sem pilares e pilotis, ironicamente apareceu também em uma construção distante e contemporânea, a Balancing Barn, do escritório holandês MDRDV.  “Geralmente colocado em árvores, achei que seria uma boa ideia implantar o brinquedo sob a laje. O projeto da casa EG foi anterior ao do MVRDV, foi uma coincidência que não me deixou muito feliz”, brinca Alvarenga.

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EM NOVA LIMA (MG)

  • Laonardo Finotti/ UOL
 
Estrutura
 
Fundada em um terreno difícil, a estrutura usada para dar sustentação à casa combinou tubulões e cortinas de concreto armado. Rés do chão, plenamente em contato com o solo, as alvenarias da garagem foram construídas afastadas cerca de 50 cm das cortinas de concreto, a fim de melhor ser feita a impermeabilização. 
 
Na fachada combinam-se o vidro laminado temperado, a massa de cimento, pedra e venezianas de alumínio anodizado, ou seja, resistente à corrosão. Para preservar a privacidade da família, a implantação da obra foi pensada para que a porção esquerda – na cota mais alta do terreno – ficasse voltada a uma área de preservação ambiental. 
 
Logo abaixo, a direita está preservada pela disposição construtiva que garante a permanência do vizinho sempre alguns metros mais baixo, já que a altura máxima das construções no condomínio onde as casas estão situadas é limitada em 9 metros. E assim, num jogo bem amarrado de esconde mostra, a casa atrai olhares, mas não se revela de todo. 

Ficha técnica

Casa EG, Nova Lima (MG)

Projeto de Play Arquitetura

Detalhes do projeto
  • Área Construída 823 m²
  • Início do Projeto 2007
  • Conclusão da Obra 2010
  • Projeto Play Arquitetura - Marcelo Alvarenga
  • Equipe José Ricardo Fois, Luciana Garcia e Gustavo Benthien
  • Projeto de Arquitetura Marcelo Alvarenga
  • Projeto de Paisagismo Marcelo Alvarenga
  • Projeto Estrutural - Concreto Luciano Rodarte
  • Construção Jamil Nacif
  • Projeto Luminotécnico Marcelo Alvarenga