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Com139 m², casa em praia chilena associa conforto com preservação do meio ambiente

29/09/2010 06h00Atualizada em 26/02/2016 20h14

O Cerro Tunquén, no Chile, limita a terra e a água com suas falésias. O terreno escarpado dá àquele que se aventura sobre as rochas ferrosas, que oxidam com a brisa marinha, uma visão privilegiada do Oceano Pacífico. No topo de um de seus picos está uma casa retangular chamada “Cuatro”.Talvez, o mais impressionante seja o que está fora dela, por isso, os profissionais do escritório Foster Bernal Arquitectos (fbA) tenham optado por construí-la de forma integrada à paisagem local, tanto estética, quanto funcionalmente.

  • Arte UOL

    No pavimento térreo da Casa Cuatro estão o ambiente de estar, jantar e cozinha, todos integrados, e dois quartos, um em cada extremidade do desenho. O deck na base da planta é o de acesso; o do alto é o "deck vespertino", volado ao Pacífico.

A casa de veraneio foi pensada de maneira a resultar o menos agressiva possível ao terreno pedregoso e de vegetação frágil de Tunquén. Com dois pisos, a construção se sustenta sobre colunas de madeira alinhadas e ancoradas à uma parede de pedra suportada por vigas. “Saber que a casa tem uma ‘âncora’ ajuda a dormir quando se ouve o oceano logo abaixo”, brinca a arquiteta Barbara Bernal, da fbA.

  • Arte UOL

    Planta do pavimento inferior da Casa Cuatro. Nesse pavimento há apenas uma suíte servida
    pelo "deck vespertino". A construção se sustenta sobre colunas de concreto armado alinhadas
    e ancoradas à uma parede de pedra suportada por vigas

A escolha pela elevação do bloco construtivo se deu pela necessidade de preservar as características da falésia, bem como deixar que a água da chuva corresse livremente pelo solo, sem que a casa também se prejudicasse. Outro fator foi o alto custo e a dificuldade de execução que um alicerce convencional demandaria.

A estrutura da Casa Cuatro prevê o nível “térreo” como o de entrada e conjunção de quase todos os ambientes. O acesso se dá pelo Morning Deck – ou deck matutino, que antecede os espaços das salas de jantar e estar e da cozinha – todos integrados como em um tipo de loft. Adentra-se à casa por um jogo de seis portas de vidro encravados na parede de pedras voltada ao nascer do sol.

O corpo central (estar, jantar e cozinha) é ladeado, à direita por um dos três quartos que a casa comporta. À esquerda, estão um banheiro e mais um dormitório e, também, uma escada que dá acesso ao nível mais baixo da construção, acomodado ao declive da falésia.

No piso baixo, uma suíte máster antecedida pelo terceiro deck da casa. O segundo, chamado pelos arquitetos de Afternoon Deck – deck vespertino, ladeia toda a face do andar “térreo” voltada ao mar.

Duas faces de uma mesma morada

A arquiteta Barbara Bernal, da fbA, enfatiza que há duas faces distintamente pensadas para a Casa Cuatro. A primeira, “matutina” é composta pela parede de pedras que “ancora” a casa e atua como uma massa térmica. O revestimento é feito com um mineral local, de cor amarelo-acinzentado, afim de dialogar com a paisagem. A pedra, com o tempo, deve adquirir o mesmo aspecto das rochas avermelhadas, ricas em ferro, que formam a falésia. O jardim é composto por cactos e o deck de acesso é recoberto por madeira clara e sem brilho.

Do outro lado, onde habita o mar, a fachada se descortina em placas de madeira superpostas às paredes rainscreen recobertas com fibrocimento, altamente resistente à salinidade. Rainscreen é um novo sistema que vem sendo aplicado em construções para protegê-las dos efeitos das mudanças climáticas, especialmente das chuvas fortes. As chapas horizontais de fibrocimento, sistema de revestimento em placas produzidas com cimento, areia e fibras de celulose que lembra ao aspecto de madeira, combinam com janelas e portas de vidros amplos e transparentes sustentados por caixilhos em padrão mogno. O deck amplo do andar “térreo” e o menor do piso inferior são revestidos por madeira mais clara e sem brilho, o que confere ao conjunto uma harmonia de tons.

O desenho da Casa Cuatro não deve nada à arquitetura contemporânea e tem êxito na proposta de integrar o espaço público da paisagem à privacidade requerida pelo bloco construtivo.

Autossuficiente

“A vida flui pelo espaço central da casa, do sotavento para barlavento, proporcionando um conjunto de espaços interiores e ao ar livre para relaxar e entreter, dependendo da hora do dia, dos ventos predominantes e do sol” definem os arquitetos Nick Foster e Barbara Bernal, do escritório fbA.

Isso porque a brisa do mar flui através das grandes janelas e portas da casa estreita, o que facilita a manutenção do conforto térmico. Conforto esse também conseguido por meio do aquecimento feito por piso radiante – sistema formado por serpentinas de água aquecida em boilers, em circuito fechado (não há troca de água) e dispostas em espiral sob o revestimento do piso, no caso, uma madeira avermelhada.

A madeira, aliás, é um dos materiais mais caros ao projeto, conforme Barbara Bernal. “A madeira é sustentável, facilita a construção em locais remotos, isola termicamente e ainda tem bom desempenho e resistência em caso de terremotos, além do custo ser compensatório”.

A casa é alimentada por energia solar obtida por placas dispostas no telhado “verde”. Há também o aproveitamento da energia eólica que auxilia no abastecimento da casa e na impulsão de água de um poço.

A Casa Cuatro é o primeiro projeto no Chile em que a equipe do escritório aplicou recursos para minimizar o impacto da construção sobre o ambiente. O fbA tem experiência com obras desse tipo na Austrália, Canadá e Reino Unido. (Daiana Dalfito, colaboração para o UOL)

Ficha técnica

Casa Cuatro, Tunquén, Chile

Projeto de fbA-foster bernal Arquitectos

Detalhes do projeto
  • Área do Terreno 5.000 m²
  • Área Construída 139 m²
  • Início do Projeto 2007
  • Conclusão da Obra 2009
  • Projeto Barbara Bernal S.