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Construção pré-fabricada garante beleza e poupa recursos em projeto para fabricante de cosméticos

18/08/2010 06h00Atualizada em 26/02/2016 20h23

Transparência, com proteção. Natureza. A sombra de uma grande árvore convida a entrar. Assim, a Casa Natura em Santo André (SP) se realiza numa brincadeira de cheios e vazios, para comunicar a filosofia da marca que representa: sustentabilidade, respeito ao ser humano e muito prazer na convivência. A Casa Natura foi idealizada pela fabricante de cosméticos como um local para receber as consultoras da marca, onde elas assistem a palestras, aprendem e testam novos produtos e até recebem consumidores em busca de informações. Não se trata, no entanto, de um ponto de venda.

 

"Quando iniciamos o projeto desta unidade para Santo André, já vínhamos de uma experiência anterior de cinco Casas Natura, três em São Paulo (Rua Vergueiro, Av. Santo Amaro, Itaquera), uma em Osasco e outra em Guarulhos", lembra o arquiteto Lourenço Gimenes, da Forte, Gimenes e Marcondes Ferraz Arquitetura (FGMF). Os arquitetos trabalharam junto da Epigram, empresa responsável pela comunicação sensível – tátil, visual e olfativa – da marca neste projeto. "A Epigram definiu como os produtos seriam organizados, identificados e comunicados, desde a configuração interna dos espaços, até a iluminação das prateleiras", explica Gimenes.

A ideia era desenvolver uma construção que mostrasse os princípios de respeito à natureza que a empresa defende, e pudesse ter seu projeto adaptado e reproduzido em outros terrenos. "O lote de Santo André é alugado, e isso nos incentivou a buscar uma solução modular, que fosse facilmente montável e desmontável, ou totalmente reciclável", descreve o arquiteto.

Construção seca

"Era possível que a Natura avaliasse, futuramente, a implantação dessas casas em outras cidades brasileiras; propusemos então que fossem menores e pré-fabricadas, de maneira a aperfeiçoar o projeto, manter maior controle sobre os custos de construção e agilizar sua implantação. Além disso, era uma forma mais adequada de atingirmos, por um projeto certificado, as premissas de responsabilidade ambiental requisitadas pelo cliente."

Gimenes diz que o sistema construtivo mais indicado para a situação foi o chamado seco, em que algumas peças, como a estrutura metálica, chegam ao canteiro de obras prontas para serem encaixadas umas nas outras, como em uma linha de montagem. "Caixilhos de alumínio, placas de drywall e cimentícias – tudo foi fixado com parafusos", diz o arquiteto. Esse sistema de construção a seco é mais rápido e gera muito menos desperdício de material, um sério problema dos métodos convencionais, com alvenaria e concreto.

O jogo conceitual entre o cheio e o vazio é o que mais se destaca: a impressão é a de um bloco suspenso por pilares metálicos. O bloco (cheio), no andar superior, atende ao principal item do programa de uso da casa: nele estão duas salas de auditório, utilizadas como espaço para treinamento de consultoras. A Natura não tem lojas nem distribui seus produtos para o comércio: aposta exclusivamente na venda direta.

Na parte de baixo da casa, onde pilares e vigas metálicas ficam à vista, há muito vidro (vazio) nos fechamentos – através dos quais se percebe a existência de um grande esqueleto de elementos encaixados. A transparência atrai os olhos e comunica. Através do vidro, o “dentro” é verde, assim como o lado de fora, e o “vazio” se preenche de lazer, pessoas, convivência, circulação e integração de espaços.

Sustentabilidade high-tech

Mais tecnologia inteligente, para maior respeito à natureza: "É uma empresa de tecnologia de ponta, e daí a razão pela qual optamos por um sistema construtivo limpo, milimétrico e versátil." Era importante ainda fazer a escolha que gerasse uma menor quantidade possível de resíduos e desperdícios, e que tivesse ótimo desempenho de operação – o que significa menores gastos de manutenção predial.

Com isso, a Casa Natura Santo André recebeu a certificação ambiental AQUA (Alta Qualidade Ambiental), concedida pela Fundação Antônio Carlos Vanzolini, que é credenciada pelo francês Certivéa – dos mais respeitados e acreditados órgãos certificadores do mundo.

"O AQUA é sensível a cada projeto, e muito aberto a discutir as soluções propostas para o local em questão", aponta Lourenço Gimenes. Dentre os critérios para a certificação, foram avaliados a relação com o entorno, a escolha de materiais e dos sistemas construtivos, o impacto ambiental do canteiro de obras, a gestões de água, de energia, de resíduos, a manutenção, o conforto térmico, acústico, visual, olfativo, além de qualidade sanitária do ar e da água.

"Ter bom desempenho termoacústico, tomando partido das sombras que vêm da vegetação circundante, da ventilação cruzada e da iluminação natural (com economia de eletricidade para luz e ar condicionado) não era só uma necessidade de certificação, mas também um requisito financeiro-econômico para este projeto", diz.

A mesma postura se verifica na simplicidade de apresentação dos materiais, onde o que é metal, é metal; e o que é vidro, aparece como tal. "A arquitetura tem de ser honesta; não pode ter nada que finge ser, como um plástico que imita madeira. Na Casa Natura, tudo é."

Com vedações muito mais leves (não há paredes de alvenaria), o impacto foi 70% menor sobre as fundações – outro ponto que barateou a execução do projeto. "Não tem ferragem estrutural, nem concreto, nem lajes; a interferência no solo é bem pequena e, portanto, menor ainda o seu impacto ambiental."

Assim, a Casa Natura Santo André não representa apenas um equilibrado estudo interdisciplinar, do qual participaram consultores ambientais, arquitetos, designers e comunicadores de marca, mas é, também, uma casa brasileira legítima, e um olhar sobre o possível futuro da arquitetura. (Giovanny Gerolla, colaboração para o UOL)

Ficha técnica

Casa Natura, Santo André (SP)

Projeto de Epigram+FGMF Arquitetos

Detalhes do projeto
  • Cliente Natura
  • Área do Terreno 250 m²
  • Área Construída 300 m²
  • Início do Projeto 2009
  • Conclusão da Obra 2010
  • Projeto Marcelo Bicudo, Daniel Lifschitz, Fernando Forte, Lourenço Gimenes, Rodrigo Marcondes Ferraz
  • Colaboradores Tatiana Machado, Ana Paula Barbosa (coordenação); Naya Adam, Juliana Nohara, Paola Bianchi (arquitetos); Flavio Faggion, Alexandre Martins (estagiários)
  • Projeto de Paisagismo Studio Ilex - Leandro Schenk (diretor), Daniela Hladkyi, Mailton Sevilha, Lisandra Casagrande (arquitetos)
  • Projeto Estrutural - Aço Opeea Engenharia
  • Construção BR Construções
  • Projeto de Instalações Elétricas Pex Projetos Elétricos
  • Projeto Luminotécnico Marcos Castilha Iluminação