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Em blocos perpendiculares, casa tem vista para o Pão de Açúcar e para o centro do Rio

29/03/2011 07h00Atualizada em 22/04/2015 20h00

"Quando vi o terreno tive um grande impacto", conta o arquiteto Angelo Bucci, do escritório SPBR Arquitetos, autor do projeto desta casa, localizada no bairro de Santa Tereza, Rio de Janeiro, RJ. “Subi numa árvore e fiquei entusiasmado com a beleza da paisagem do Rio”, lembra. Daquele momento em diante, apesar das dificuldades por causa das características do terreno, o projeto constituiu-se num grande desafio para Bucci. No fim, recebeu menção honrosa na 7ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, em 2007.

A casa, de 500 m², foi construída em um terreno de 5 mil m² no topo de um morro com 25 metros de declividade. Na cota mais alta (27 m) fica a sala de estar, a mesma da copa de uma árvore. É da sala que se desfruta as melhores vistas: ao norte, o centro da cidade, ao sul, para o Pão de Açúcar. “Tratava-se de uma oportunidade excepcional, a de ter uma casa toda esparramada no terreno”, relata o arquiteto.

A construção tem dois blocos lineares e perpendiculares entre si, dispostos em níveis diferentes: o dos ambientes de estar e o dos dormitórios e escritório. Ambos estão apoiados sobre pilotis com o propósito de destacar a independência da casa em relação ao terreno. O bloco mais alto, com a sala de estar, tem 15 m por 17 m; o inferior, dos quartos, 6 m por 24 m. Apesar do clima da cidade propiciar ambientes abertos, as circulações são abrigadas em todos os ambientes da casa.

A área sob o volume mais alto, na cota 24,5 m, é um espaço predominantemente livre, com piscina, churrasqueira, garagem e cozinha. A piscina está totalmente assentada no solo, mas se estende até a crista de um talude construído para consolidar a situação, originalmente precária, de um barranco com desnível de 5 m.

 

Brises, varandas e empenas de concreto

O volume dos dormitórios (que abriga cinco suítes e um escritório) situa-se abaixo, em um platô existente no terreno, 18,5 m acima do nível da rua, constituindo um pátio contínuo no sentido leste-oeste. "Não fizemos movimentação de terra", esclarece Bucci. Nesse mesmo nível, mas na porção sul do terreno e próximo de um talude, fica o escritório.

Para proteger as faces leste e oeste dos dormitórios, o arquiteto criou um sistema corrediço de brises de madeira, acionados por controle remoto, similar aos utilizados em portões de garagem. Cada quarto é fechado por uma única folha de vidro e protegido por um único painel de brise. Assim, é possível deixar o quarto completamente aberto, transformando-se em terraços nas duas fachadas. As portas dos quartos são também de correr e, quando recolhidas na frente dos banheiros, deixam completamente vazados todos os ambientes.

A insolação sobre as fachadas do bloco social foi mais fácil de controlar. A face norte é protegida com um beiral de 2,5 m e na sul há uma pequena varanda. As fachadas leste e oeste, sem uma vegetação que pudesse protegê-las e sem vistas privilegiadas para desfrutar, foram fechadas com uma parede dupla de concreto que, além de sua função estrutural, abriga lavabo e escada. "Esse é o truque: tudo junto e, ao mesmo tempo, separado", diz Angelo Bucci.

Beleza estrutural

Como de hábito na obra do arquiteto, é flagrante a ênfase dada à estrutura. As lajes dos pisos dos dois blocos são planas, desprovidas de vigamento, tanto por sua execução muito rápida, quanto pelo fator leveza. As lajes das duas coberturas são apoiadas em vigas invertidas, duas no bloco social e uma no de dormitórios e escritório.

O bloco social conta com cinco apoios: dois em cada extremidade que estão semi-ocultos pelas empenas laterais, formando pórticos de 15 m de extensão, e um central, que recebe a carga do piso da sala. O bloco dos dormitórios conta com apenas três apoios, dispostos no eixo longitudinal; dois suportam o corpo dos dormitórios e um único o do escritório.

Apesar do tamanho da casa e da área do terreno, eu acho que ela só poderia ser feita para uma família muito desprendida", diz o arquiteto. Prova disso está no fato de os proprietários terem se mudado para a casa antes da conclusão da obra. “Acho muito significativo porque, num primeiro olhar, pode parecer que eles se mudaram para uma situação precária, quando na verdade, é um claro indício de desprendimento”, conclui.   (Ledy Valporto Leal, colaboração para o UOL)

Ficha técnica

Casa em Santa Tereza, Rio de Janeiro

Projeto de SPBR Arquitetos

Detalhes do projeto
  • Área do Terreno 4.488,65 m²
  • Área Construída 481,44 m²
  • Início do Projeto 2004
  • Conclusão da Obra 2008
  • Projeto Angelo Bucci
  • Equipe Angelo Bucci, Ciro Miguel, João Paulo Meirelles de Faria, Juliana Braga, Maria Isabel Imbronito, Susana Jeque, Tatiana Ozzetti
  • Projeto de Paisagismo Fernando Chacel e Sidney Linhares ? Cap Consultoria Ambiental Paisagística
  • Projeto Estrutural - Concreto Jorge Zaven Kurkdjian ? Kurkdjian Fruchtengarten Engenheiros Associados
  • Projeto de Instalações Elétricas Alberto Chagas Barreto
  • Projeto Luminotécnico Ricardo Heder - Reka