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Reforma deixa apê de 150 m² dos anos de 1950 com planta moderna e interiores "vintage"

10/08/2011 07h00Atualizada em 22/04/2015 19h15

Em 1957, enquanto Lucio Costa ganhava o concurso público para o plano piloto de Brasília, muitos residenciais das redondezas da Avenida Paulista eram construídos. De inspiração modernista, surgiam os clássicos apartamentos de dois ou três dormitórios, com grandes janelas -e, logo, muito ensolarados-, e pisos charmosos, em taco de “perobinha”, 7cm por 21cm.

O apartamento Antônio Carlos, com seus 150 m², e nova lapidação pelo arquiteto Maurício Arruda, não é diferente. A duas quadras do ponto que se tornaria o maior centro financeiro do país, o imóvel era dividido em áreas de serviço, social e íntima, esta última com três dormitórios e dois banheiros.

Naquela época, São Paulo tinha apenas 2,6 milhões de habitantes; hoje, são mais de 20 milhões de pessoas que, de uma forma ou de outra, acabam tendo alguma relação com a Av. Paulista, via movimentada, emblemática e que se esforça em manter sua personalidade, sem deixar de ser super contemporânea e dinâmica.

Maurício Arruda também fez este esforço. “Nesta reforma, reutilizei azulejos, luminárias, maçanetas, portas e pisos de madeira; todas essas peças foram retiradas e tratadas, algumas delas restauradas, como arandelas e maçanetas, e depois recolocadas”, conta. 

Material de demolição

As dificuldades em reaproveitar revestimentos e acessórios com mais de 50 anos de uso não intimidou o arquiteto: “Minha equipe de mão de obra está acostumada com este tipo de tratamento de peças de demolição. Em geral, todo o material é retirado, selecionado e sua viabilidade de reaproveitamento estudada segundo as características que o imóvel adotará com a reforma”, complementa.

“Além disso, nem tudo é reutilizável, porque às vezes não encontramos uma peça menor que precisa ser reposta.”

Trabalhosa, a solução pode, mesmo assim, pesar menos no bolso. Os azulejos verdes da área de chuveiro saíram “de graça”, porque foram selecionados e limpos antes de reassentados. Até maçanetas restauradas podem ser mais baratas.

“As peças e revestimentos antigos resgatam a memória do espaço e dão identidade ao projeto; fazem combinações únicas, que não encontramos em qualquer obra.”

  • Arte UOL

    As paredes dos dois quartos (no centro da planta "Antes") foram demolidas formando um amplo setor social. Os dois banheiros tornaram-se apenas um, que serve à suíte. O banheiro da área de serviço agora atende aos convidados, e o quarto de empregada virou área de serviço

Com a reforma, praticamente todas as paredes foram demolidas e, apesar de conservar o velho, trouxe a proposta de um novo apartamento dentro do espaço que sobrou. “Apenas a parede que separa a sala de jantar do quarto é original; todas as instalações hidráulicas e elétricas tiveram de ser refeitas”, explica o projetista.

Onde há hoje um home theater (que vira quarto de hóspedes, quando é preciso), era antes a cozinha; a nova cozinha fica, agora, onde antes era um dos quartos.

Planta contemporânea

Todas as paredes puderam ser demolidas porque as colunas de hidráulica passam pela fachada: conceito modernista de projeto que volta a ser usado recentemente pelas construtoras e que flexibiliza muito o trabalho de interiores.

O pilar central, mantido, nunca foi um empecilho, e pôde ser estudado como ponto de partida para a linguagem geral do projeto e distribuição dos cômodos, “que visou valorizar ao máximo a área social de convívio”.

Os dois banheiros que serviam aos quartos foram transformados em um único, exclusivo para a suíte principal, e o banheiro original de serviços foi ampliado para atender tanto a visitantes quanto a hóspedes. A atual área de serviços foi deslocada para o velho quarto de empregada.

Revestimentos para pisos, bancadas e paredes também remetem ao período modernista, com toque contemporâneo. “Exemplo é o granilite de banheiros e lavanderia”, cita Maurício Arruda.

O piso de madeira maciça, por sua vez, apesar de restaurado, teve de ser ebanizado, a fim de manter a unidade do espaço ampliado, mesmo nos pontos de piso onde, antes, estavam as paredes divisórias dos ambientes.

Piso ebanizado

O piso preto, combinado às paredes totalmente brancas, criou área neutra, de onde mobiliário, objetos de decoração, obras de arte e protótipos de móveis se destacam.

“Tive de fazer muitos remendos no desenho dos tacos: os originais eram de peroba-rosa, e os novos vieram em cumaru; então optei por ebanizar tudo, para conseguir a unidade pretendida.”

Junto da porta de entrada, desfilam móveis da José Collection, que anunciam o estilo “hi-low” brasileiro do morador – todos desenhados pelo próprio Maurício Arruda.

“A inspiração para meu trabalho vem muito da rua: das pessoas que trabalham e circulam nela. Gosto de observar os camelôs, os catadores de lixo, as pessoas no metrô e lojas populares. O brasileiro é um povo bem humorado, sabe improvisar, é simples, colorido e diverso. Busco essas qualidades no meu trabalho.”  (Giovanny Gerolla, colaboração para o UOL)

Ficha técnica

Apartamento Antônio Carlos, São Paulo

Projeto de Maurício Arruda Arquitetura e Design

Detalhes do projeto
  • Área Construída 150 m²
  • Conclusão da Obra 2011
  • Projeto Maurício Arruda