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'Pedi para meu marido procurar outra', conta jornalista após ficar tetraplégica

Colunista sofreu acidente de cavalo há cinco anos e não consegue aceitar a deficiência - BBC
Colunista sofreu acidente de cavalo há cinco anos e não consegue aceitar a deficiência Imagem: BBC

Lee Kumutat

BBC News, Ouch

25/08/2015 12h09

A jornalista Melanie Reid ficou paralisada em um acidente de cavalo há cinco anos. A casa de Melanie, autora da coluna "Spinal Column" no jornal britânico "The Times", fica escondida no interior da Escócia.

Apesar de o acidente a ter deixado com movimento mínimos nos braços e nas pernas, o imóvel permanece sem adaptações que costumam ser consideradas úteis para deficientes: não há bancadas baixas na cozinha ou tomadas adaptadas.

Reid acha que fazer essas mudanças significaria que ela aceitou sua deficiência --e ela continua lutando para superá-la.

Há cinco anos, Reid tinha chegado ao ponto exato de sua vida em que, diz ela, queria estar, fazendo exatamente o que queria fazer.

Era uma jornalista de sucesso, com um marido carinhoso e um filho que estava indo bem na vida. Eles se mudaram para uma casa no campo, com uma bela vista e estábulos para os seus amados cavalos.

Reid era quem costumava pensar no futuro e liderar --era conhecida como uma mulher prática, resolvedora de problemas.

Acidente

Foi cavalgando que o acidente aconteceu.

Galopando em direção a um obstáculo, o cavalo empacou. Ela tentou se agarrar ao pescoço dele, mas foi jogada para o alto e caiu sobre o obstáculo com os braços para trás. Seu rosto bateu no chão e o corpo foi torcido.

Quem viu o acidente diz que a queda pareceu inofensiva e em câmera lenta. Ela não perdeu consciência e diz que experimentou sensações inacreditáveis no momento.

"Senti calor e beleza em meu corpo, e vi um brilho vermelho em meus olhos. Era o computador desligando", diz.

Ela passou quase um ano no hospital, trabalhando com determinação para ganhar o máximo de movimento possível. A ideia para a nova coluna no jornal de fim de semana foi concebida durante uma ressonância magnética.

"Preciso contar para as pessoas sobre isso, preciso descrever isso", ela se lembra de ter pensado.

Escrever sobre a sua deficiência, frustrações e batalhas para fazer atividades diárias virou uma forma de terapia. Ela diz que também foi uma forma de recuperar parte de seu poder, até porque precisava pagar as contas --Reid sempre foi o arrimo da família.

'Presa'

Ela sabe que declarar publicamente que não consegue aceitar suas limitações físicas irrita e causa indignação entre alguns de seus leitores deficientes. Reid sabe que eles se ressentem dela, porque diz que lamenta "estar presa à deficiência".

Ela já escreveu sobre as sessões de fisioterapia constantes, que permitiram que ela arrastasse seus pés por alguns passos, e sabe que alguns deficientes se sentiram traídos, como se não estivessem se esforçando suficientemente.

"Alguns têm a sensação de que estou decepcionando por 'ser uma pessoa que anda'", diz ela.

A ruptura na espinha de Reid não foi completa, o que significa que ela tem algum movimento no corpo e vive com o que chama de "tortura da possibilidade" todo dia.

Ela se pergunta por que não consegue se mover um pouquinho mais ou melhorar um pouco mais, e imagina que as pessoas com lesões completas na coluna não precisam viver com essa tortura.

Pouco depois do acidente, Reid reconheceu que não poderia mais ser a "resolvedora de problemas" da família. Ela diz que o marido, Dave, que era o divertido, teve de assumir o papel dela. Foi uma grande mudança.

'Pedaço de carne'

Reid deu a Dave a chance de desfazer o casamento. Ela disse que ele poderia ficar com outra mulher, alguém que pudesse fazer sexo com ele, alguém para conversas e ser feliz, alguém que não fosse apenas "um pedaço de carne". Ele respondeu: "não seja idiota. Não vou a lugar nenhum".

Ele também sentiu grande parte da perda e sofrimento de Reid, admitindo que, às vezes, ficava triste vendo um casal caminhando na rua.

De forma semelhante, ela pediu ao filho que se afastasse, para evitar que se sentisse preso. Agora, ele mora na Nova Zelândia, e Reid tenta não escrever e só fala com ele quando está tendo um dia ruim. Ela quer que ele pense nela como "a mãe que conseguia fazer as coisas".

Reid pensou que não haveria mais assunto para a sua coluna quando voltasse para casa, mas devido à demanda popular continua escrevendo.

Ela acha difícil falar sobre qualquer coisa positiva que tenha decorrido do acidente.

Para ela, continuar sendo a mulher teimosa em sua casa não adaptada é, no momento, muito importante. Mas ela não descarta algumas mudanças no futuro, talvez quando tiver selado a paz com a própria deficiência.