Paqueradores profissionais ensinam técnicas da conquista

WILSON DELL'ISOLA
Colaboração para o UOL

Hoje em dia é cada vez mais comum vivenciarmos ambientes de descontração em que o momento é voltado à satisfação e ao desligamento de obrigações. Bares, festas, baladas, shows, encontros. Situações em que a ordem é relaxar. Mas nem todos conseguem curtir com desinibição e ter bom humor para estabelecer amizades ou partir para a conquista. Para auxiliar as pessoas que têm este bloqueio, surgem novos profissionais especializados, os chamados “personal paquera” ou “personal lover”. Se por um lado não prometem transformá-lo em um Don Juan (conquistador), eles dão dicas para ao menos sair das sombras de um Cyrano de Bergerac (extremamente tímido).

Quem assistiu ao filme “Hitch - Conselheiro Amoroso” (2005), dirigido por Andy Tennant, tem uma ideia de como um “personal paquera” trabalha. Interpretado por Will Smith, ele parece saber os segredos que você desconhece, tem as táticas que você nunca imaginou colocar em prática e ainda conta com a boa e velha cara de pau para investir em situações em que tudo que você quer é sumir. Daniel Madeira (www.personalpaquera.com.br) é um desses profissionais do mundo do flerte e do jogo de sedução. Ele mesmo se considera um paquerador profissional - faz isso há três anos - e constantemente desenvolve novas técnicas para facilitar a vida dos alunos.

Hoje Daniel - que tem namorada - alimenta sites voltados ao público feminino e masculino - mas considera que o ato da paquera é implicitamente atribuído aos homens. No mundo virtual, oferece dicas importantes, mas é nos cursos presenciais e acompanhamentos que tudo fica mais claro. O curso de paquera funciona assim: primeiro o aluno assiste a uma aula teórica (que dura por volta de cinco horas) quando recebe todas as ferramentas necessárias para usar em diferentes circunstâncias, além de explicações sobre as aplicações e sinais neurolinguísticos. Depois disso, o aluno é acompanhado pelo professor em uma balada para aplicar o aprendizado. Ali, o instrutor corrige os possíveis deslizes.

Afinidade com o meio

Numa balada – ou quando há a expectativa de que haja uma – a maior parte das pessoas se sente no dever de participar, sob pena de perder um universo maravilhoso de oportunidades. Mas em qualquer faixa etária ou classe social existem as preferências, de modo que nem todos são exatamente fãs de barulho e agitação, e, claro, prefiram ambientes e programas mais direcionados. “Quando a pessoa frequenta o seu universo de afinidades, o ato de paquerar se torna mais instintivo, mais tolerante. Mas quando esses indivíduos se aventuram nas baladas, que respiram diversão e pressão pela conquista, muitos se mostram desconcertados e sem habilidades sociais. Estes, inclusive, podem cultivar a angústia de ficar excluídos de uma festa na qual todos seriam muito sociáveis e vitoriosos”, pondera o psicanalista carioca Paulo Sternick. 

Esse é o caso do contador M.T.*, 42 anos, que depois de se aventurar sem sucesso em lugares mais agitados do que os que estava acostumado, resolveu procurar a ajuda de paqueradores profissionais: “Me sentia deslocado e tinha a imaginária sensação de que as pessoas me olhavam com certa reprovação. Depois que fiz o curso, aprendi a ter mais confiança em mim e comecei a me divertir mais, o que trouxe ótimos resultados com as mulheres”. 

Oportunidades

“Não há fórmulas ou receitas prontas, então a dica é estudar todas as condições e contextos da aproximação para não ser surpreendido”, opina o também “personal lover” Fernando Fernandes (www.corporal.com.br/lover), de São Paulo. De acordo com o profissional, é preciso estar preparado porque não é possível prever quando as técnicas de sedução serão testadas: “Não existe lugar certo, qualquer local é local e temos de aproveitar as oportunidades para, quando encontrar alguém interessante, agir”.

Para corroborar essa linha de pensamento, um estudo capitaneado pelo professor de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Ailton Amélio da Silva, concluiu que 37% dos casais iniciaram um namoro com pessoas que já conheciam (trabalho, faculdade, clube); 32% foram apresentados por amigos; 20% flertaram com desconhecidos; e 4% tiveram encontros acidentais (pediram informações, sentaram-se ao lado na poltrona durante uma viagem, esperaram juntos numa fila). Apenas 1% dos relacionamentos começaram por meio de serviço de aproximação de casais, como agências, anúncios, redes sociais pela internet. Desta forma, quem não tiver o mínimo de talento para conquistar, pode deixar escapar o par ideal na frente do nariz.

Para Fernandes, a mulher tem inteligência emocional maior do que o homem, que é regido pela linha da razão. Assim, o “personal lover” ajuda a entender como a cabeça feminina funciona e como iniciar um processo de persuasão. A meta do profissional é, de fato, fazer com que o aluno ganhe autoconfiança para não se intimidar quando a pessoa-alvo estiver por perto. "É igual a regime. As pessoas já sabem o que deve ser feito. Fazer mesmo é outra coisa e, às vezes, é necessário um empurrãozinho", finaliza.

* O nome foi mantido em sigilo a pedido do entrevistado

 

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