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Traição pode fazer bem ao relacionamento; assista ao vídeo

HELOÍSA NORONHA

Colaboração para o UOL

02/05/2011 12h41

O sofrimento provocado por uma infidelidade é uma das dores emocionais mais difíceis de suportar. E também é, de longe, o motivo principal pelo qual a maior parte das uniões termina em divórcio. No entanto, uma aventura extraconjugal pode ter um efeito benéfico em alguns relacionamentos, levando-os, inclusive, a ficar melhores. Acredite: a traição pode fazer bem ao casamento, sim!

A infidelidade pode ser positiva quando...

...existe um acordo entre o casal
Segundo a médica e psicanalista Soraya Hissa de Carvalho, de Belo Horizonte (MG), quando a traição é combinada anteriormente por ambos ou liberada para um dos dois, é possível que não haja discussão ou sofrimento.

Assim como no filme “Passe Livre” (2011), em que dois sujeitos cansados da rotina matrimonial são liberados pelas esposas para farrearem durante sete dias, a publicitária Ana*, de 31 anos, deu sinal verde para o marido para fazer tudo – tudo mesmo! – o que quisesse em um fim de semana.

Era a despedida de solteiro do melhor amigo dele e a turma (composta somente por homens, evidentemente) alugou um sítio para fazer a festa com direito à participação “especial” de algumas garotas de programa.

“Não quis ser a chata que ia cortar o barato e forçá-lo a não ir, mesmo porque ninguém manda em ninguém. Preferi liberá-lo para transar se tivesse vontade a ficar com a dúvida na cabeça. Sofri, é claro, mas optei por nem saber o que aconteceu, e hoje nem penso mais nessa história”, conta Ana*.

Para a psicanalista e sexóloga carioca Regina Navarro Lins, autora de “A Cama na Rede” (Ed. Best Seller), fidelidade não tem nada a ver com sexualidade e deveria ser colocada em prática apenas por livre e espontânea vontade do casal, e não por conta de regras ou obrigações. “Reprimir os verdadeiros desejos não significa eliminá-los”, ressalta.

De acordo com Regina, o parceiro que tem excessiva consideração pelo outro e não faz o que tem vontade tende a se sentir credor de uma gratidão especial, se considerar vítima e se tornar intolerante. “Quando a fidelidade não é natural nem a renúncia gratuita, o preço se torna muito alto e pode inviabilizar a própria relação”, explica.

*O nome foi trocado para preservar a identidade da entrevistada.

...promove uma mudança de atitude
“Um erro, em se tratando de ser humano, é normal acontecer, e, dependendo da situação que o provocou, cabe o perdão e a reconciliação”, afirma a psicanalista Soraya Hissa de Carvalho.

Nesse caso, a traição pode ser motivada pelo desinteresse de um dos dois – um bom exemplo é o do casal que acaba de ter filhos e a mulher se envolve totalmente com a criança, negligenciando a relação com o parceiro que, por sua vez, fica suscetível a outros encantos. Ou, então, cansada da excessiva atenção que o marido dá à carreira, a esposa pode curar a sua carência nos braços de outro homem. Em ambos os casos, a infidelidade pode ser considerada apenas um sintoma de uma relação doente.

Se ainda existir amor e vontade de construir uma vida juntos, é possível que o casal não apenas supere o fato como modifique algumas atitudes em prol de um casamento melhor. As mudanças de comportamento podem incluir desde um esforço comum para ficarem mais tempo juntos até maior cuidado com a aparência.

  • Thinkstock

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...não há diálogo entre o casal
Para a psicóloga e terapeuta Erica Brandt, de São Paulo (SP), a traição também pode ser benéfica quando promove reflexão sobre o que vem ocorrendo de errado na vida dos dois, gerando, assim, uma crise conjugal.

“Infelizmente, as pessoas não estão preparadas para viver o casamento. Elas vivem uma relação idealizada sem perceber que uma união precisa ser cuidada diariamente. É preciso ter tempo e disponibilidade para o outro. Normalmente, essas atitudes estão presentes no início do namoro e no começo da paixão”, comenta.

A crise conjugal funcionaria, então, para que ambos abram o jogo com franqueza sobre medos, desejos, mágoas e sentimentos guardados.

...coloca um ponto final na idealização
Segundo Erica Brandt, é comum que a pessoa perca aquele “brilho romântico no olhar” ao notar que o cônjuge é menos maravilhoso do que pensava. “Quando se casam, os casais acreditam que o parceiro é aquele que cada um idealizou. Porém, com a convivência do dia a dia, se deparam com o jeito de ser de cada um e o desencantamento ocorre. As pessoas que eram, aparentemente, apaixonantes e perfeitas revelam fragilidades, hábitos, manias e preocupações que interferem na dinâmica do casal, inclusive na intensidade da vida sexual”, afirma a psicóloga.

A decepção, então, pode levar à traição que, no entanto, não resolve o problema, pois o amante também faz parte de uma idealização. Nesse caso, a infidelidade pode ser o estopim para que ambos conversem sobre o que eram antes e o que se tornaram depois do casamento.

“A confiança é um dos sentimentos mais difíceis de ser reconstruído. O amor pode ser reconstruído, mas a confiança precisa de muita compreensão e tranquilidade”, diz Soraya. Segundo a psicanalista, após a descoberta e o perdão de uma traição, é possível que o casal se cobre. Nesses casos, a terapia de casal pode ajudar bastante.