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Aprenda a transformar reclamação em ação e mude sua vida

Reclamar demais pode levar a brigas com o parceiro, além de afastar pessoas - Thinkstock
Reclamar demais pode levar a brigas com o parceiro, além de afastar pessoas Imagem: Thinkstock

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

24/05/2012 07h00

Existem dias em que tudo parece dar errado: você derramou café na camisa escolhida para a reunião, o trânsito parece ainda mais caótico, um distraído bate na traseira do carro, o projeto em andamento é temporariamente suspenso, o computador trava, a diretora da escola chama para uma conversinha sobre o filho, o ser amado pede um tempo para pensar. Diante de tais tragédias cotidianas, não tem jeito: nada melhor do que xingar, soltar uns palavrões, descarregar no Facebook e até derramar algumas lágrimas para aliviar a raiva, a decepção, a frustração. Reclamar é bom e dá uma sensação de leveza, mas, como quase tudo na vida, requer equilíbrio.

Há quem pareça incorporar as reclamações como parte de seu estilo de vida em vez de adotá-las em momentos oportunos, como forma de desabafo. E mais: lamentam não só problemas pontuais, rotineiros, mas falam o tempo todo de mazelas pessoais. Saldo bancário no vermelho, falta de tempo, brigas com o par e solidão são itens de um interminável cardápio de motivos de queixas. "As pessoas que reclamam muito nem se dão conta disso, elas já saem reclamando. É uma maneira de chamar atenção para si mesmas. O pior é que, normalmente, nem percebem o efeito que isso tem em suas vidas e na de quem está perto", diz a psicóloga Heloisa Schauff.

Segundo especialistas em comportamento, a reclamação é um hábito bastante destrutivo, pois acaba em poucos instantes com a possibilidade de se fazer coisas criativas e com o entusiasmo de abraçar um novo projeto e dificulta, e muito, tarefas simples do dia a dia. "Reclamões", em geral, são tidos como desagradáveis, chatos e acabam afastando as pessoas por seu desânimo, amargura, falta de foco e desmotivação. Não param muito nos empregos e/ou costumam perder boas oportunidades na carreira, em parte porque não têm um grande círculo de amigos e vão ficando isolados. "São pessoas com baixa autoestima, por se sentirem inseguras, e que encontram na reclamação uma justificativa para não se expandir nem para se esforçar", explica Heloisa. Há um receio de ser julgado, inclusive por si mesmo.

Por essa lógica, a mania de reclamar funciona como uma espécie de zona de conforto. Em vez de agir e tomar uma atitude para lidar com aquilo que o chateia, quem costuma reclamar em excesso fica preso a velhos conceitos porque o novo gera medo e insegurança. E como a pessoa não consegue agir positivamente em busca de uma mudança, começa a perder a alegria de viver, sente-se cada vez pior com o fato de não conseguir perseverar e virar o jogo e pode caminhar para uma depressão.

Mas como se livrar desse hábito tão nocivo? "É preciso um esforço consciente para mudar os padrões mentais negativos, os pensamentos automáticos, o comportamento de vitimização", responde Heloisa Schauff. Para isso é preciso insistir e se dedicar firmemente. Sempre que o indivíduo se deparar com uma situação adversa, deve avaliá-la e pensar no que poderia fazer para, evitá-la, minimizá-la ou resolvê-la e, então, partir para a ação. Desenvolver e adotar atitudes e emoções mais positivas no dia a dia, pensando sempre no momento presente, ajuda muito.

Para a psicóloga Maria Célia de Abreu, um dos grandes ganhos em abandonar o costume é assumir o controle da própria vida. "Quem reclama não chama para si a responsabilidade por isso ou aquilo andar mal, o que pode abalar a própria autoimagem, nem toma a iniciativa de fazer algo para que as questões sejam resolvidas", afirma. Segundo Maria Célia, a pessoa "reclamona" se defende numa posição de estar imobilizada e joga toda a responsabilidade nos outros, ou nos fatos, coisas sobre as quais não tem controle. Só que essa posição estagnada não traz realização; traz insatisfação, aborrecimento. "É importante tomar conhecimento desse mecanismo, para partir para a decisão de parar de reclamar e agir, ou então parar de reclamar e aceitar", declara a especialista.

Terapia breve

UOL Comportamento pediu a especialistas algumas dicas para lidar com cinco reclamações bastante comuns entre aqueles que falam demais, mas não tomam nenhuma atitude. Confira:

'Não tenho tempo para nada'

"Algumas ações, de acordo com a psicóloga Sâmia Simurro, vice-presidente de Projetos da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), podem ser simples, mas eficientes: estabeleça prioridades, aprimore-se no planejamento de forma que ele seja realista e viável, evite desperdício de tempo com constantes interrupções, procure focar no que realmente importa e, principalmente, não adie tarefas e realize uma de cada vez. Outra dica, dessa vez da coach de saúde integrativa Melissa Setubal, é analisar quais são exatamente as coisas que você não tem tempo para fazer. Pergunte-se: elas são realmente prioridades em sua vida, ou são cobranças da sociedade? Quais são seus verdadeiros sonhos e desejos? Será que esta reclamação não é uma desculpa que você usa para si mesmo ou para evitar fazer coisas para ou com os outros?"

'Todo mundo se dá bem no amor, menos eu'

"Comece quebrando esse paradigma de que todo mundo que está em um relacionamento está mais feliz e satisfeito com a vida do que você. "A primeira crença que você deve quebrar é que somente com um relacionamento seremos felizes para sempre", diz Melissa Setubal. O primeiro passo para não cair nessas armadilhas é observar os próprios sentimentos. "E lembre-se: ninguém irá bater na sua porta se você não se dispor a ir buscar. Procure conhecer mais pessoas e mantenha a atenção às oportunidades", aconselha Sâmia Simurro. Vale a pena destacar que pessimismo e reclamações não são nem um pouco afrodisíacos."

'Vivo no vermelho'

"Esse é um problema que afeta muitas pessoas que entram em dívidas e não sabem sair. “A primeira coisa a fazer é um levantamento de toda a dívida para identificar onde estão os maiores gastos. Organize-se começando a pagar as contas mais urgentes, cancele seus cartões de crédito e parcele as faturas, abra mão do cheque especial o quanto antes e negocie com os credores as melhores condições de pagamento”, orienta Sâmia Simurro. É bom, ainda, analisar sobre o vazio interior que está tentando preencher consumindo coisas. “Será que é uma tentativa de ganhar amor, atenção, ou até encontrar algum sentido para a própria vida? Uma vida focada em gastar e ganhar dinheiro só alimenta ainda mais uma insatisfação interior que somente será ser aplacada exercitando nossa capacidade de interiorização”, afirma Melissa Setubal."

'Não aguento meu emprego'

"Se você está insatisfeito no seu trabalho, procure identificar qual é exatamente a fonte da reclamação (a tarefa, o salário, o ambiente ou a pressão que sofro?). As ações serão diferentes para cada problema. "Porém, se a conclusão for mudar de emprego, avalie bem para que a mudança não seja para pior", alerta Sâmia Simurro. Adote uma postura de busca ativa de oportunidades, esteja aberto para novos desafios, prepare-se bem para o mercado. Por fim, só mude se tiver certeza de que será melhor."

'Falta energia, sobra desânimo'

"Parar de reclamar e nos afastar de pessoas "reclamonas" talvez seja a forma mais simples e inteligente de preservar energia. Isso não significa que instantaneamente sua mente vai parar de pensar coisas negativas. Mas apenas fazendo a escolha consciente de não verbalizar suas reclamações e escolhendo não ouvir as dos outros você vai provocar uma revolução na sua vida. "Também é importante fazer uma lista dos fatores de estresse em sua vida, reconhecê-los e tentar desacelerar o pensamento negativo para manter o equilíbrio emocional procurando uma postura flexível e adaptativa", explica Sâmia Simurro. Considere todas as possibilidades e acredite na superação.