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Com dançarinos quarentões, Clube das Mulheres atrai mocinhas e coroas

Anderson SWAT, o preferido das mulheres, já chegou a receber R$ 1600 na cueca em uma noite - Fernando Donasci/UOL
Anderson SWAT, o preferido das mulheres, já chegou a receber R$ 1600 na cueca em uma noite Imagem: Fernando Donasci/UOL

Andrezza Czech

Do UOL, em São Paulo

22/06/2012 20h23

"Quem gosta de homem aqui levanta a mão! Quem gosta de homem pelado levanta as duas mãos!". Foi com muita euforia que as cerca de 350 mulheres responderam às provocações de Marcos Manzano, 49 anos, apresentador e sócio do Clube das Mulheres. Na quinta-feira (21 de junho), a festa comemorou seus 22 anos na versão "premium" da casa, na Vila Olímpia, em São Paulo.

Nas mais de seis horas de festa foram realizados dois shows, um às 19h, que começou com apenas três mesas ocupadas, e outro às 21h, com o espaço lotado de mulheres sentadas ao redor da passarela, de pé nos corredores e rebolando em cima do palco com os rapazes. A festa de aniversário contou com apresentações de personagens que já não fazem parte do clube, o Sadomasoquista, o Príncipe e o Zorro --o último, interpretado por Manzano.

Em performances individuais, de cerca de 15 minutos cada, os dez dançarinos chegam a levantar as mulheres no colo, com direito a uma prensada na parede.  A maioria dos dançarinos já está na faixa dos quarenta --e boa parte completa mais de 20 anos no clube. "As mães que acompanham as filhas gostam do almirante, do policial rodoviário, de outros personagens um pouco mais velhos", diz o empresário Focca Barreto, 54 anos, criador do clube. Não há nudez --os rapazes terminam o striptease de sunga-- e há regras claras: beijos, conversas e tirar a roupa das mulheres ou levantá-las no colo se estiverem de saia são proibidos. Manzano já avisa no início do show que vale passar a mão nos peitos, costas, coxas e bumbum dos personagens. "Menos pegar no bilau. Aqui é um espaço de família", afirma.

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    Criador do clube, o empresário Focca Barreto, 54 anos, teve a ideia do espaço em Nova York

A ideia do clube partiu de um show que Focca assistiu em uma boate em Nova York. Com formação em dança, seu sonho era trabalhar lá. "Não tinha a menor chance. Os caras eram muito bonitões". Em 1989, foi promotor de uma boate no Brasil, na qual realizava desfiles de mulheres. Ele tentou incluir homens nas apresentações, mas os rapazes que frequentavam o espaço para ver as modelos o fizeram desistir. Foi aí que ele decidiu montar um show voltado para as mulheres.

Com a ajuda financeira de sua irmã, Cintia, que escolheu os primeiros dançarinos, os shows começaram pequenos, com, no máximo, 60 mulheres, e apenas uma vez por mês. Pouco tempo depois, Focca chamou para substituí-lo como apresentador do clube o então modelo e ator Marcos Manzano --que participou dos capítulos finais de "Vale Tudo", no papel do príncipe que se casou com Maria de Fátima (Glória Pires).

O auge do Clube foi em 1992, graças à novela "De Corpo e Alma", de Gloria Perez, que tinha o espaço como grande parte da trama e dançarinos como atores. "Nessa época, chegamos a fazer 28 shows em um mês, viajamos, andamos de limusine, as mulheres nos esperavam no aeroporto. Fizemos shows para 2,5 mil mulheres", diz Focca. Hoje, as apresentações com mais público são em Campos do Jordão, onde chegam a receber 800 mulheres por noite. Em São Paulo, há uma média de 200 mulheres por noite em cada um dos clubes. "O da Henrique Schaumann [avenida de São Paulo] é mais brega, mais barato. O da Vila Olímpia é mais chique, tem champanhe e rum, mais glamour", diz Focca.

Frequentadoras assíduas
A maioria das frequentadoras está comemorando algo: aniversário, bota-fora, despedida de solteira ou de casada . A médica Anna Paola Petrelli, de 45 anos, fez sua primeira visita ao clube há 20 anos, em sua despedida de solteira. Depois disso, já comemorou aniversário e outras datas no local. Atualmente, vive na Itália, mas vai ao clube toda vez que volta ao Brasil, mesmo sozinha, como no dia da festa. "Nos clubes para homens o alvo é sexo. Aqui, as mulheres procuram brincadeiras. É uma terapia. Melhor vir ao Clube das Mulheres do que tomar antidepressivo", diz. 

Mesmo sendo frequentadora desde 2007, Pamela, de 26 anos, tem vergonha de revelar o sobrenome, como a maioria das garotas. "Aqui o clima é bacana, a mulherada se solta. A gente apenas se diverte e vê homens bonitos e com pouca roupa”, diz.

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    A médica Anna Paola Petrelli, de 45 anos, é uma das clientes mais antigas e animadas da casa

É muito comum encontrar mulheres da mesma família no local. Focca conta que uma cliente foi fazer a despedida de casada e levou mãe e filha com ela. Aos 70 anos, a mãe gostou tanto do lugar que, atualmente, frequenta o espaço até três vezes por mês. Nesta quinta, a auxiliar administrativa Juliana Okamoto foi comemorar seu aniversário de 23 anos ao lado da mãe, Meire. Mesmo sem nunca ter ido ao clube, a mãe topou logo de cara. "É bom ver os homens como objeto", diz Meire.
 

Vida de stripper
Aos 37 anos, Anderson é o preferido das mulheres. O "Vin Diesel brasileiro", nas palavras de Manzano, orgulha-se de dois recordes: já ter recebido R$ 1.600 na sunga em uma única apresentação e ter feito oito shows em uma noite –a maioria contratado por clientes, o que é comum entre eles. Basta ser anunciado por Manzano e elas gritam, pulam e formam fila para subir e dançar com ele no palco.

"O striptease que dá certo é aquele que a mulher para de respirar quando você a traz para perto de si", diz ele. Nos bastidores do show, próximo ao camarim, Anderson dava entrevistas de sunga e com naturalidade, exibindo sua tatuagem com a inscrição SWAT no peito. Com voz grossa, 95 kg em 1,80 m de altura, é difícil imaginar que ele é formado em balé clássico. Além de stripper e bailarino, ele é coreógrafo, cantor e ator –seu último musical foi "Coração de Uma Estrela", há dois anos.

No clube, começou fazendo o personagem Médico e, há oito anos, começou com o SWAT, que atingiu o auge do sucesso ao ter seu personagem associado ao filme "Tropa de Elite". Anderson é um dos poucos que vive apenas do que ganha como stripper.

Desde 1994 no Clube, o cowboy Lula, de 43 anos, já conciliou o trabalho noturno com uma loja de roupa, lava-rápido e hoje tem loja de suplementos, mas garante que o trabalho de stripper é lucrativo. Há 15 anos interpretando um policial rodoviário no palco, Antônio Sérgio de Paula, de 45 anos, leva vida dupla. Engenheiro mecânico, ele já trabalhou em uma grande montadora e hoje tem um centro automotivo. "Os caras do trabalho sabem, acham bacana. Muitas mulheres de amigos meus até assistem aos meus shows”, diz. 

A maioria dos strippers acaba namorando com suas admiradoras. Anderson é casado há 13 anos com uma professora que conheceu dançando. Hoje, ele tem duas filhas, de nove e cinco anos. O cowboy também já namorou muitas mulheres que conheceu na boate. O interesse, muitas vezes, acaba gerando propostas sexuais, mas fazer programa é proibido por Focca.

"O assédio era muito grande. Eles não podem fazer programa, mas não posso proibi-los de pegar o telefone delas e sair para jantar", diz Focca, que revela que também sai com mulheres que conheceu no clube.