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Escritora introvertida publica livro para provar que quietos não precisam mudar de temperamento

O livro "O Poder dos Quietos" mostra ao mundo como os introvertidos também podem ter voz ativa - Thinkstock
O livro "O Poder dos Quietos" mostra ao mundo como os introvertidos também podem ter voz ativa Imagem: Thinkstock

Rafael Roncato

Do UOL, em São Paulo

23/06/2012 08h00

Facilidade de comunicação, simpatia e receptividade são características marcantes dos extrovertidos. Pessoas com esse tipo de comportamento, muitas vezes, são consideradas mais interessantes e atraentes, chamando os holofotes para si e cativando quem está ao redor. Já a introversão é encarada como um traço de personalidade menor e desinteressante, quase uma patologia.

Para a escritora norte-americana Susan Cain, o comportamento do extrovertido foi transformado em um padrão opressivo que muitos, mesmo contra sua natureza, se acham obrigados a adotar. Foi pensando em dar voz aos introvertidos --categoria que Susan diz fazer parte-- que a autora decidiu escrever o livro "O Poder dos Quietos" (Ed. Agir, R$ 29,90). E, na contramão da introversão, Susan chamou a atenção e seu livro tornou-se um dos mais vendidos na lista do "The New York Times".

Quem acredita que a pessoa introvertida é um ser antissocial, está enganado, segundo a autora. "Não consigo viver sem minha família e amigos próximos, mas também anseio por solidão", explica Susan. A escritora ainda comenta que tanto os extrovertidos quanto os introvertidos possuem a capacidade de fazer qualquer coisa, mesmo com suas diferenças. "Os extrovertidos tendem a ser naturalmente exuberantes, falantes e afirmativos, enquanto os introvertidos são reflexivos, persistentes, com foco e concentração", explica.

Leia a entrevista que Susan Cain concedeu ao UOL Comportamento.

  • Com base em pesquisas e na própria experiência, Susa Cain mostra ao mundo o poder dos introvertidos

UOL Comportamento:  como você define os introvertidos?
Susan Cain: introvertidos têm a preferência por ambientes mais tranquilos, com pouco barulho, com menos ação. São nesses lugares que eles se sentem vivos e energizados. Em contraste, extrovertidos anseiam por mais estímulos para se sentirem melhor. Um introvertido, portanto, prefere apreciar uma boa taça de vinho num local tranquilo e acompanhado de um amigo próximo a uma festa barulhenta, cheia de desconhecidos. Muitas pessoas acreditam quea introversão está relacionada com ser antissocial, isso é um equívoco; introvertidos são apenas socialmente diferentes.

UOL Comportamento:  no livro, você comenta que a sociedade possui um ideal de extroversão. Como é isso?
Susan Cain: Na nossa sociedade, o "ideal self" [aquilo que você gostaria de ser, como você se imagina ser] está em negrito, gregário e em posição confortável, sendo o centro das atenções. Nós gostamos de pensar que valorizamos a individualidade, mas admiramos, princialmente, os tipos de indivíduos que se sentem confortáveis sob os holofotes. As escolas, empresas e instituições religiosas são todas projetadas para extrovertidos. Os introvertidos, comparados com as pessoas extrovertidas, são como as mulheres americanas dos anos 1950: cidadãs de segunda classe com quantidades gigantescas de talentos inexplorados.

UOL Comportamento:  existe diferença entre introversão e timidez?
Susan Cain: timidez, em oposição à introversão, é o medo do julgamento social negativo --ser excessivamente preocupado com o que as pessoas pensam de você. Introversão é simplesmente a preferência pela calma. A timidez é desconfortável; introversão não é. Assim, você pode ser introvertido sem ter medo; como pode ser tímido, mas extrovertido. Os traços se sobrepõem, embora psicólogos debatam em que grau. Na prática, introvertidos também podem ser tímidos --mas não são muitos.

  • "O Poder dos Quietos" virou um dos livros mais vendidos nos EUA

UOL Comportamento:  você diz ser uma pessoa introvertida. Como lidou com isso ao escrever e promover o livro?
Susan Cain: As pessoas, às vezes, ficam surpresas quando digo isso [que é introvertida], porque sou uma pessoa muito amigável. Não consigo viver sem minha família e amigos próximos, mas eu também anseio por solidão. Sinto-me imensamente sortuda por meu trabalho como escritora me proporcionar horas do dia sozinha com o computador. Também tenho um monte de outras características introvertidas, como pensar antes de falar, não gostar de conflitos, e concentrar-me facilmente. Introversão tem suas características irritantes, também, é claro. Alguns introvertidos são perfeitamente confortáveis em falar em público, mas o medo do palco nos aflige em números desproporcionais. Mas também acredito que a introversão é a minha maior força. Tenho uma vida interior tão forte que nunca estou aborrecida e apenas ocasionalmente me sinto solitária. Não importa o caos ao meu redor, eu sei que posso sempre contar comigo.

UOL Comportamento: quais conselhos você daria para as pessoas introvertidas? Elas deveriam mudar para se adaptar?
Susan Cain: acho que o segredo da vida é viver de acordo com seu temperamento natural --com uma carreira e uma vida social que realmente combinem com você. Mas, como o psicólogo Brian Little diz, todos nós precisamos abrir mão, às vezes, por causa do trabalho e as pessoas que amamos. Os extrovertidos precisam ser mais introvertidos na hora de sentar e escrever (mesmo se eles prefiram estar conversando com seus colegas). Assim também os introvertidos precisam abrir mão ao participarem de coquetéis e reuniões.