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Sentir-se sempre inferior aos outros demonstra insegurança e não contribui para a sua evolução

Quanto mais insatisfeitos estamos com o que somos ou temos, mais a comparação vai incomodar - Thinkstock
Quanto mais insatisfeitos estamos com o que somos ou temos, mais a comparação vai incomodar Imagem: Thinkstock

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

04/10/2012 07h14


As comparações fazem parte da natureza humana e servem, de certo modo, para definir papéis e particularidades: fulano é mais alto do que beltrano, meu salário é maior que o seu, a empresa em que trabalho é tão boa quanto a sua. Até certo ponto, se comparar com os outros é normal –o problema é que muita gente transforma essa ação em hábito, o que pode ser prejudicial. Principalmente se a conclusão sempre sinaliza uma posição de desvantagem para quem se compara. Se isso vem acontecendo com você, confira a opinião de especialistas sobre o que esse comportamento e saiba como lidar com ele.

Autoestima baixa
De acordo com a psicóloga Miriam Barros, especialista em terapia familiar, psicodrama e coach, quanto mais insatisfeitos e infelizes estamos com o que somos ou temos, mais comparações fazemos –e elas incomodam. Para a psicóloga Denise Pará Diniz, coordenadora do Setor de Gerenciamento de Estresse e Qualidade de Vida da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a ação de comparar está ligada à competição. "Quem sempre se vê em desvantagem em relação aos demais se coloca no papel de vítima, de eterno perdedor. É um sinal de extrema insegurança, de quem não sabe valorizar o que tem, pois nem sabe o que tem", afirma.

Dica: o primeiro passo é ter um olhar mais carinhoso e menos exigente sobre si mesmo. "Em vez de observar somente o que o outro tem e você não, concentre-se nas suas conquistas e qualidades", afirma Denise. O truque de colocar essa lista em um papel dá certo, pois escrever funciona como uma espécie de validação inconsciente.

Inveja sutil
Todo sentimento de inveja é motivado por uma comparação –o invejoso quer determinada coisa que o outro tem porque a julga melhor do que aquilo que possui. A diferença é que o invejoso padrão não sabe lidar direito com a própria frustração, mas se mexe para combatê-la. Para atingir seus objetivos, pode apostar em atitudes positivas, como fazer da dor de cotovelo uma motivação, ou em ações nocivas, como tentar prejudicar o alvo de quem lhe desperta ressentimento. Já quem vive à base de comparações, às vezes nem sabe se quer algo que pertence a outra pessoa –só tem certeza de que o que tem é pior, menos valioso ou de pouca importância.

Dica: segundo o psiquiatra José Raimundo Lippi, do IDHL (Instituto de Desenvolvimento Humano Lippi), vale tentar transformar a inveja em admiração. "Admirar algo ou alguém cria uma motivação para evoluir, enquanto se comparar produz um sentimento de inferioridade", diz. Essa evolução pode começar a partir de uma simples pergunta: como faço para obter ou desenvolver aquilo que vejo de bom na vida de outra pessoa?

Autoconhecimento
Pode acreditar: enquanto seu olhar estiver direcionado para o que acontece na casa do vizinho, nada vai melhorar. Por que? Porque você sabe mais sobre a vida dele do que sobre a sua. "Colocar-se somente em desvantagem revela que você vem valorizando apenas os aspectos negativos da sua trajetória pessoal", afirma Denise. Algumas frases típicas: "nada dá certo para mim”, “todo mundo ganha bem, menos eu", "nunca vou ter um carro decente" e por aí vai. É uma visão genérica e superficial que despreza os acontecimentos bons do caminho e as facetas positivas da própria personalidade.

Dica: lembre-se das conquistas que teve e das circunstâncias nas quais se saiu bem. Em vez de compará-las com as experiências de outra pessoa, analise o que você fez –e como fez– para que essas situações tenham dado certo.

Desvalorização do esforço alheio
Quem se compara demais costuma desenvolver um olhar fantasioso em relação ao próximo –na maior parte das vezes, as conquistas alheias são creditadas à sorte, e não ao merecimento. "A pessoa com a mania de comparação não consegue enxergar o mérito e o empenho dos outros, simplesmente porque não desenvolve tais características em si mesma", diz a psicóloga Denise. "Ela se sente tão para baixo e tem uma visão tão distorcida dos fatos que julga que as coisas caem do céu para todos, menos para ela".

Dica: pergunte-se: o quanto de esforço tal pessoa empregou para conquistar seus objetivos? Será que tenho disposição para fazer o mesmo? Ou só estou enxergando os benefícios? Vale, também, ter a humildade de chegar no outro e perguntar: "o que você fez?". Aproxime-se e aprenda.

Comodismo
Há quem envenene tanto a própria vida com a comparação que deixa de tomar atitudes importantes, que poderiam mudar sua rotina para melhor. Um bom exemplo é o do executivo inseguro que tem um bom projeto na cabeça, mas desiste de apresentá-lo ao chefe depois de ouvir as ideias de um colega –muito mais originais e criativas, segundo sua perspectiva distorcida.

Para os especialistas, as pessoas que vivem se comparando às outras parecem não sair do lugar justamente porque preferem ser conformadas– reclamam demais e se ressentem com aquilo que não é delas, mas não fazem nada para mudar. "É cômodo ficar olhando para a vida alheia, já que a mente tenta, o tempo todo, evitar o sofrimento. Mas essa atitude impede de encararmos a nós mesmos e resolver os problemas e dificuldades que temos", diz Miriam.

Dica: trace uma estratégia. Se deseja uma promoção no emprego, por exemplo, avalie se precisa fazer algum curso, passar por algum outro cargo primeiro, melhor o nível do inglês etc. "Não deixe de analisar as necessidades emocionais e os recursos disponíveis para atendê-las, como desenvolver a autoconfiança, ser mais otimista, ver o lado bom das coisas", diz Denise.