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Para especialistas, consumismo gera estresse generalizado e faz Natal perder o significado

Paradinha para ver a  árvore de Natal do Ibirapuera, na zona sul de São Paulo, gera congestionamento - Eduardo Knapp/Folhapress
Paradinha para ver a árvore de Natal do Ibirapuera, na zona sul de São Paulo, gera congestionamento Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

18/12/2012 07h32

À medida em que o Natal se aproxima, um certo caos parece se espalhar por todo o país. A confusão, nítida em especial nas grandes metrópoles, ocorre na forma de engarrafamentos, motoristas impacientes, filas nos estacionamentos dos shoppings, supermercados cheios, ruas abarrotadas e centros comerciais apinhados de gente ansiosa, apressada, irritada e, principalmente, doida para comprar.

Segundo a psicóloga Suzy Camacho, comprar está relacionado à sensação de prazer. “Em períodos como o Natal, em que a compulsão por gastar aumenta, o bem-estar se intensifica. E tudo o que impede de obter essa sensação o mais rápido possível –filas nos caixas, trânsito, gente nos corredores dos shoppings– acaba irritando muito. E as pessoas se voltam umas contra as outras em um momento que deveria ser de respeito ao próximo, de confraternização, de pensar coletivamente”, afirma.

O estresse no período é tão intenso que as pessoas acabam se esquecendo que o Natal deveria ser um momento de confraternização. A data, para os cristãos, celebra o nascimento de Jesus Cristo. A tradição de presentear se origina na história dos três reis magos, que, segundo a Bíblia, levaram incenso, ouro e mirra ao visitarem o menino Jesus.

No entanto, o ato de comprar e presentear deve ser repensado, segundo o  psicólogo e teólogo Paulo Bessa, da Umesp (Universidade Metodista de Ensino Superior). "Muita gente compra coisas para mostrar um status e um estilo de vida que não tem", diz. Para ele, é impossível negar que vivemos em uma sociedade consumista e que a troca de presentes faz parte da natureza humana.

Não se estresse

  • Se você não fez tudo o que queria em 2012, pense que logo mais vem um ano novo, diz psicóloga

A mesma opinião é compartilhada por Helio Matar, diretor-presidente do Instituto Akatu, entidade com sede em São Paulo que prega o consumo consciente.

"Se você gasta com uma roupa de marca, por exemplo, ou qualquer outro item caro com a finalidade de impressionar, está na hora de rever esses laços afetivos, pois a relação não parece calcada em amizade verdadeira". Para ele, mais vale um presente simples, mas adquirido com carinho e para que seja útil, do que algo que trará apenas suspiros de admiração.

De acordo com a psicóloga Ana Maria Rossi, que é presidente da Isma Brasil (filial da International Stress Management Association), dezembro é mesmo um mês difícil.

"Ao mesmo tempo em que a época convida à reflexão, provoca melancolia. As pessoas estão cansadas de tanto trabalhar ou estudar, e ainda por cima algumas empresas exigem que os colaboradores tracem metas para o próximo ano em um momento de esgotamento físico e mental", conta. Isso explica, em parte, porque muita gente entra no piloto automático e, embora deseje comemorar o Natal, vá buscar alívio para o desgaste no consumo –e acaba se aborrecendo ainda mais.

Sobre o nervosismo generalizado de fim de ano, que só faz aumentar o estresse, o psicólogo Bessa conta que existem duas alternativas: tentar se isolar do trânsito e das lojas lotadas o máximo possível, optando por caminhos e horários alternativos, ou aceitar a confusão e encará-la como passageira.

"Não se contamine. Se no seu trajeto há muitos enfeites de Natal, você já sai sabendo que ali o trânsito vai parar. Em vez de xingar, admire a decoração também e pense na quantidade de pessoas, crianças principalmente, que se encantam com aquilo tudo", declara. “E se você não fez tudo o que queria em 2012, outro motivo que costuma estar por trás da agressividade e do nervosismo nessa época, pense que logo mais vem um ano inteirinho em branco para tentar novamente", diz a presidente da Isma Brasil.