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Pesquisadores contestam eficácia do site eHarmony; empresa reage

eHarmony defende seu algorítimo, mas não revela muitos detalhes sobre o funcionamento - Viktor Koen/The New York Times
eHarmony defende seu algorítimo, mas não revela muitos detalhes sobre o funcionamento Imagem: Viktor Koen/The New York Times

John Tierney

New York Times News Service

17/02/2013 10h00

Na busca para encontrar o verdadeiro amor, preencher um questionário em um site seria eficaz? Sim, segundo os psicólogos da eHarmony, uma empresa online que alega que seus algoritmos computadorizados ajudarão você a encontrar sua "alma gêmea". Mas essa alegação foi criticada em uma revista de psicologia no ano passado por uma equipe de pesquisadores acadêmicos, que concluiu que “não existem evidências convincentes de que as alegações dos sites de relacionamento de que algoritmos matemáticos funcionam”.

Em resposta, o cientista sênior de pesquisa da eHarmony, Gian C. Gonzaga, foi até a cova dos leões acadêmicos conhecida como SPSP –o grande encontro anual da Sociedade de Psicologia Social e de Personalidade, realizada em Nova Orleans (EUA). Armado com uma apresentação em PowerPoint, Gonzaga enfrentou um salão lotado de pesquisadores ávidos em espiar os segredos da eHarmony.
 
Diferentemente de muitos outros sites de relacionamento pela Internet, a eHarmony não permite que os clientes busquem os parceiros por conta própria. Eles pagam até US$ 60 por mês para receberem opções baseadas em suas respostas a um longo questionário, que atualmente conta com cerca de 200 itens. A empresa reuniu respostas de 44 milhões de pessoas e diz que suas combinações levaram a mais de meio milhão de casamentos desde 2005.
 
Gonzaga, um psicólogo social que antes trabalhou em um laboratório de pesquisa de casamento na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, disse que a eHarmony não lhe autorizou a revelar suas fórmulas, mas ele apresentou algumas revelações. Ele disse que os algoritmos mais recentes combinam os casais por meio do foco em seis fatores:
 
– Nível de afabilidade –ou, colocando de outro modo, quão briguenta uma pessoa é;
 
– Preferência por proximidade –o quanto de intimidade emocional cada um deseja e quanto tempo cada um gosta de passar com o(a) parceiro(a);
 
– Grau de paixão sexual e romântica;
 
– Nível de extroversão e abertura a novas experiências;
 
– Quão importante é a espiritualidade;
 
– Quão otimista e feliz cada um é.
 
Quanto maior a semelhança que duas pessoas apresentarem nesses fatores, maiores serão suas chances, disse Gonzaga, apresentando evidência, ainda não publicada, de vários estudos dos eHarmony Labs. Um estudo, que acompanhou mais de 400 casais unidos pela eHarmony, apontou que as notas de seus questionários iniciais estavam correlacionadas à satisfação do casal com seu relacionamento quatro anos depois.
 
"É possível obter empiricamente um algoritmo de relacionamento capaz de prever a relação de um casal antes de se conhecerem", disse Gonzaga.
 
Não tão depressa, responderam os críticos no salão. Eles não duvidam que fatores como afabilidade possam prever um bom casamento. Mas isso não significa que a eHarmony encontrou o segredo para encontros e casamentos, disse Harry T. Reis, da Universidade de Rochester, um dos autores da crítica do ano passado. "Essa pessoa afável que por acaso seria combinada comigo se daria bem, na verdade, com qualquer pessoa nesta sala", disse Reis para Gonzaga.
 
Ele e seus coautores argumentam que os resultados da eHarmony poderiam simplesmente refletir o conhecido “efeito pessoa”: uma pessoa afável, não neurótica, otimista, tenderia a se sair melhor em qualquer relacionamento. Mas a pesquisa demonstrando esse efeito também mostrou que é difícil fazer previsões com base no chamado efeito diádico –quão semelhantes os parceiros são um do outro.
 
"Na literatura existente, componentes de semelhança são notoriamente fracos em responder pela satisfação no relacionamento", disse Paul W. Eastwick, da Universidade do Texas, em Austin. "Por exemplo, o que realmente importa para minha satisfação com o relacionamento é se eu sou neurótico e, em grau ligeiramente menor, se minha parceira é neurótica. Nosso semelhança em neuroticismo é irrelevante".
 
Gonzaga concordou que pesquisadores anteriores não foram capazes de prever a satisfação com base nas semelhanças dos parceiros. Mas ele disse que foi porque eles não se concentraram nos fatores identificados pela eHarmony, como o nível de paixão sexual, onde era especialmente importante que os parceiros fossem compatíveis. E apesar de algumas características, como afabilidade, poderem ser de ajuda em qualquer relacionamento, ele disse, ainda ajuda os parceiros serem semelhantes.
 
"Se os efeitos diádicos são reais, e se a eHarmony consegue estabelecer a validade desse ponto, então isso seria um grande avanço em nossa ciência", disse Reis. Mas ele e seus colegas disseram que a eHarmony ainda não realizou, e muito menos publicou, o tipo de estudo rigoroso necessário para provar que seu algoritmo funciona.
 
"Eles realizaram alguns poucos estudos, sem revisão por pares, que examinam os casais existentes", disse Eli J. Finkel, da Universidade do Noroeste, o principal autor do artigo crítico do ano passado. "Mas é crucial lembrar que não é isso o que o algoritmo deles supostamente faz. O algoritmo supostamente pega pessoas que nunca se conheceram e as combina".
 
Para verificar a eficácia do algoritmo, disseram os críticos, seria necessário um teste clínico controlado semelhante aos realizados pela indústria farmacêutica. Escolher aleatoriamente alguns indivíduos para serem casados pelo algoritmo da eHarmony, e alguns em um grupo de controle combinados arbitrariamente, e então monitorar os relacionamentos resultantes para ver quem está mais satisfeito.
 
"Ninguém no mundo conta com os recursos para pesquisa de relacionamento que a eHarmony dispõe, de modo que não podemos imaginar por que ela não realizou o estudo", disse Finkel.
 
Gonzaga disse ter escrúpulos éticos a respeito de unir pessoas arbitrariamente, e que esse teste parece desnecessário diante dos outros estudos da eHarmony.
 
"Nós temos o que considero como evidências singulares mostrando que os casais com alta compatibilidade se mostram mais satisfeitos em seus relacionamentos”, disse Gonzaga. “Isso nos deixa confortáveis de que estamos fazendo bem nosso trabalho".
 
Mesmo se a eHarmony não estiver interessada em realizar o teste clínico, o trabalho supostamente poderia ser realizado por outros. Os críticos acadêmicos estimaram que o teste poderia custar entre US$ 250 mil e US$ 1 milhão, e disseram que o realizariam pessoalmente caso conseguissem o dinheiro.
 
Até lá, eles permanecem céticos a respeito de algoritmos secretos, mas oferecem algum encorajamento aos solteiros que buscam conhecer pessoas online. Independentemente dos algoritmos funcionarem ou não, os sites de encontros oferecem muitos parceiros potenciais, e há uma triagem por meio de auto-seleção. Afinal, exige um esforço passar pelo processo de registro, particularmente se ele exige responder duas centenas de perguntas.
 
"Se eu fosse solteiro, eu usaria um serviço como o eHarmony, mas com olhos atentos”, disse Reis. “Qualquer pessoa que achar que o eHarmony realmente sabe o que é melhor para você está cometendo um grande erro. Mas ele fornece acesso a pessoas que estão realmente interessadas em um relacionamento, em vez de apenas um namoro. Eu diria a mim mesmo que conheceria 100 mulheres nos próximos seis meses, e se encontrasse uma, então ficaria feliz. Onde mais eu conheceria 100 mulheres?”