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Organizar uma coleção ajuda a fazer amigos e alivia o estresse

Fábio Oliveira

Do UOL, em São Paulo

22/03/2013 10h09

A arquiteta e decoradora paulistana Brunete Fraccaroli, de 48 anos, é conhecida não só por seus projetos ou por ter participado do programa "Mulheres Ricas", mas por sua coleção de 400 bonecas Barbie. Há exemplares da boneca inspirados nos ícones do cinema, como Marilyn Monroe e Elyzabeth Taylor, ou vestidas por modelos assinados por estilistas, como Clodovil. Ainda faz parte do incrível exército de bonecas uma feita em homenagem a ela pela Mattel, fabricante do brinquedo.

O mergulho no universo das bonecas começou em 1994. Brunete e alguns de seus colegas foram capa de uma revista semanal. Por meio da reportagem, ficou sabendo que era considerada uma espécie de Barbie pelos pares. "Porque não brigava com ninguém, só enfeitava, segundo eles", conta.

Como desforra, pendurou uma boneca com roupas de ginástica no quadro de agradecimentos do seu espaço na mostra Casa Cor daquele ano. O gesto foi encarado como prova de bom humor e, daí em diante, seus amigos passaram a presenteá-la com Barbies. Assim teve início a coleção. "Quando pensam na Barbie, pensam em mim".  

Já o comerciante Leandro Couto Nascimento, 42, de Aldeia da Serra, em Barueri, na Grande São Paulo, amealha tudo relacionado ao Batman, herói dos quadrinhos. De carrinhos no formato do Batmóvel a fitas VHS: já são mais de cinco mil peças catalogadas até agora.

A paixão pelo personagem surgiu na infância. Nessa época, Nascimento se divertia com o seriado de TV dos anos 1960 sobre Bruce Wayne. E foi reacesa na metade da década de 1980, quando o quadrinista americano Frank Miller lançou "O Cavaleiro das Trevas". “Daí, comecei a comprar gibis, canetas, relógios, camisetas...", recorda. 
 
Esse hobby, comum à arquiteta e ao comerciante, pode trazer diversos benefícios. “O hábito pode funcionar como uma porta de entrada para novos relacionamentos", explica a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da ISMA-Brasil, entidade internacional dedicada ao estudo do estresse.


A bancária Flávia Romanha, 37, de São Paulo, que coleciona papéis de carta desde os 10 anos, é um exemplo: "Conheci quatro amigas, que são muito íntimas, em um evento que reúne colecionadoras duas vezes por ano". Ela, que tem 40 mil papéis de carta guardados em 140 pastas pretas, é a organizadora do encontro. Em muitas situações, esses grupos podem fornecer algum tipo de apoio emocional para seus integrantes, diz a psicóloga Ana Maria Rossi.
 
E o hobby também é uma forma de aliviar as tensões cotidianas, porque possibilita um distanciamento delas. "Procurar itens para minha coleção foi uma válvula de escape quando estava com problemas no casamento", afirma o comerciante Leandro Couto Nascimento, hoje divorciado. Mas esse tipo de atividade pode se tornar uma fonte de distração se o indivíduo se concentrar somente nela. Moderação, portanto, é sempre bem-vinda. 
 
Mais um ponto a favor para quem curte fazer coleções: elas facilitam o aprendizado. "Quando uma criança coleciona algo, acaba fazendo uma categorização, que dá origem à noção de quantidade e de números", explica a pedagoga Maria Angela Barbato Carneiro, da PUC de São Paulo.  Além disso, o hobby favorece  a assimilação da história e amplia o conhecimento sobre o planeta. E isso é válido para crianças e adultos.
 

Colecionismo?


Não confunda colecionismo com colecionar. No primeiro caso, a pessoa não consegue jogar nada fora, temendo precisar do item um dia.

"Ela acumula de jornais a potes de plástico", descreve a psiquiatra Ana Hounie, do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo).

Ainda não se sabe por que isso ocorre. Acredita-se que existam componentes genéticos e psicológicos, como a tentativa de compensar uma carência. O tratamento pode envolver medicamentos e psicoterapia.
 

 
É que o colecionador se depara com dados como a época na qual o objeto de desejo foi produzido, seu país ou região de origem e por aí vai. A aprendizagem da língua nativa ou de estrangeiras é outra beneficiada.

"Conheço crianças que se alfabetizaram com álbuns de figurinhas de futebol", conta Barbato. Ao ver a foto e o nome do ídolo estampados ali, há uma associação da imagem à palavra, que é memorizada e mais facilmente identificada em outros textos. 
 
Não à toa, os donos de coleção acabam se tornando especialistas no assunto de seu interesse. “Um colecionador de selos fica a par de técnicas para saber se houve adulteração”, exemplifica a psicóloga Ana Maria Rossi.

Brunete Fraccaroli hoje se considera uma especialista em Barbie: "Fico sabendo dos lançamentos e já participei do júri de um concurso no qual as pessoas se vestiam como a boneca". Sem contar os dividendos financeiros quando se dispõe de uma peça rara e valiosa. Organizar uma coleção de verdade pode ser divertido e vantajoso.