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Liberdade é respeitar as próprias escolhas e o limite dos outros

Embora o conceito tenha se transformado através dos anos, liberdade continua implicando em responsabilidade - Thinkstock
Embora o conceito tenha se transformado através dos anos, liberdade continua implicando em responsabilidade Imagem: Thinkstock

Marina Oliveira e Rita Trevisan

do UOL, São Paulo

13/05/2013 12h43

O conceito de liberdade sempre esteve ligado à ideia do livre-arbítrio, ou seja, o poder de decidir sobre o próprio destino. Contudo, por mais que a raiz desta concepção permaneça a mesma desde a Grécia Antiga, houve uma grande mudança de lá pra cá. "Hoje a liberdade é entendida na esfera individual e não coletiva, ou seja: lança-se o olhar para o indivíduo e não mais para o homem inserido na sociedade", explica a filósofa e professora Adriana Maamari. "Com isso, ao invés de liberdade, no singular, passamos a ter liberdades no plural, pois cada indivíduo teria direito a expressá-la", completa. 

Hoje, a busca pela liberdade é um caminho para a felicidade, mesmo que fugaz e temporária. "Há uma ideia de que ser livre é poder agir para desfrutar de um prazer imediato. Isso se traduz no aparecimento de relações menos estáveis, tanto profissionais quanto pessoais", acredita a antropóloga e professora Sonia Maria Giacomini. Rogério da Costa Santos, professor e doutor em história da filosofia, concorda que ser livre atualmente também significa poder desfrutar dos prazeres da vida e do corpo. "Isso era impensável nos primeiros anos do cristianismo, em que a liberdade estava associada à superação das tentações da carne e do corpo pecador", afirma. 
 
Apesar disso, a liberdade continua restrita à necessidade de se adequar à vida em sociedade. "No contexto social, é livre quem exerce sua liberdade até o limite da liberdade alheia", esclarece Adriana. Quem não se importa com os outros só se sentiria mais livre se estivesse vivendo isolado em uma ilha. "Caso contrário, acabaríamos por nos privar da liberdade que temos, já que os outros também se sentiriam no direito de exceder os nossos limites", pondera. 
 
Considerando que toda ação chama uma reação, fazer o que quer sem pensar nas consequências não torna ninguém mais livre nem garante a conquista da felicidade. Exemplo claro disso é o desabafo. "Você pode até falar o que quer para o outro, exercitando a sua liberdade de expressão. Porém, desta maneira, estará se tornando um prisioneiro da sua emoção descontrolada", opina o psicólogo e professor Claudio Paixão.
 
 
Autoconhecimento é fundamental
Segundo Paixão, só é livre quem conhece a si mesmo e ao mundo em que vive. "Quanto mais conscientes estamos dos conflitos internos e, ao mesmo tempo, quanto mais maduros estamos para lidar com a pressão dos outros e da sociedade, mais livre seremos. A questão não é não ter limites e restrições, e sim conhecê-los e saber trabalhar dentro deles", identifica. 
 
Neste exercício de autoconhecimento não há espaço para o individualismo. "Você precisa do outro para ser você mesmo. O mundo de fora proporciona aprendizados e lições, que o fazem tomar consciência dos seus limites e da sua capacidade de falhar", aponta o filósofo e professor Jorge Claudio Ribeiro. Estar bem informado sobre o que acontece de fato no mundo também é uma condição essencial para se sentir mais livre. "A informação barata e rasa que algumas mídias transmitem mascara o mundo. Com isso, as pessoas enxergam poucas possibilidades para a vida e o futuro, o mundo delas se torna pequeno", justifica. 
 
A responsabilidade de cada um
Há quem tenha dificuldade para lidar com a liberdade, já que ela traz como consequência a necessidade de se assumir a responsabilidade pelos próprios atos. "As pessoas erram mais quando se sentem mais livres. Por outro lado, também aprendem com seus erros e, em etapas seguintes, elas acertam mais", atesta Ribeiro. "A liberdade é um atributo exclusivamente humano, que nos lança à condição de incerteza, de capacidade de escolha e de ruptura com um destino predeterminado" acrescenta Adriana. 
 
A liberdade também é um mau negócio para quem desconhece seus interesses, necessidades e vontades pessoais. Para a filósofa, quem não é capaz de decidir sobre os rumos de sua própria vida acaba fazendo escolhas ruins. "Só quando nos tornamos senhores da própria consciência e recuperamos a capacidade de raciocínio, discernimento e reflexão sobre as coisas, que exercermos positivamente o nosso livre-arbítrio", finaliza.