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Sonha em não ter chefe? Saiba o que pesar antes de ser freelancer

Disciplina, concentração e persistência estão entre características fundamentais para ser um freelancer - Thinkstock
Disciplina, concentração e persistência estão entre características fundamentais para ser um freelancer Imagem: Thinkstock

Patrícia Ribeiro

Do UOL, em São Paulo

07/06/2013 07h00

O webdesigner Rafael Moura, 34 anos, tem horários flexíveis, tempo para executar projetos paralelos e ganha mais do que quando trabalhava em uma empresa. E não tem chefe. "Minha vida mudou pra melhor desde que virei freelancer", afirma ele. "Em uma empresa você tem salário garantido e benefícios. Mas há uma falsa sensação de estabilidade e outras desvantagens", afirma.

Pesaram para que Moura tomasse essa decisão o trabalho excessivo, a remuneração defasada, abusos e assédios morais, a falta de dedicação de membros da equipe e a falta de planejamento e metas. "Ficou claro que meu perfil não era de funcionário e sim de empreendedor. Não me via mais trabalhando dentro de uma empresa. Decidi então que era o momento de trabalhar e me dedicar mais aos meus projetos pessoais e profissionais", afirma.

Muitos profissionais insatisfeitos no trabalho sonham em ter a mesma força de vontade de Moura e poder trabalhar por conta própria, com flexibilidade de horário, sem um chefe fazendo pressão o tempo todo e ganhando mais por menos horas trabalhadas. Antes de entregar a carta de demissão, porém, é preciso refletir sobre as vantagens e desvantagens de trabalhar por conta própria. Mais do que isso, é necessário entender se você realmente tem perfil para começar sua carreira solo.

 

As primeiras questões para avaliar se você deve ou não se tornar um freelancer são: esta insatisfação é com a profissão ou com a empresa? Ser freelancer é uma situação temporária ou definitiva? Tenho disciplina para enfrentar os altos e baixos e as dificuldades do começo? Para responder a elas é preciso ter autoconhecimento e fazer uma avaliação crítica do momento profissional e do perfil pessoal para não tomar uma decisão precipitada.

Perfil de freelancer

Além de conhecimento e boa experiência na área de atuação, existe um perfil para ser freelancer. E, infelizmente, não são todas as pessoas que têm as características de empreendedor. "Trabalhar com autônomo requer as mesmas competências, habilidades e atitudes de quem tem emprego regular. No entanto, há alguns elementos a mais, como disciplina, concentração e persistência, além de habilidades comerciais para atuar no mercado", afirma o coach e consultor de empresas Homero Reis. 

Segundo o freelancer Rafael Moura, para começar uma carreira como freelancer o profissional precisa ter um plano de negócio, bons contatos e alguns clientes para começar. "As maiores dificuldades são ter disciplina para manter uma rotina de trabalho. A falta de contato com colegas e troca de experiência também atrapalha, mas com a internet isso se resolve facilmente", afirma.

Para Stefania Mattos, gerente de projetos da consultoria de recursos humanos Boucinhas & Campos Stefania Mattos, o profissional também precisa avaliar se tem resistência à frustração, capacidade de automotivação e bom desempenho individual. Segundo ela, os profissionais que apresentam uma resistência a rotinas de escritório, à subordinação ou à cultura corporativa tendem a ter uma melhor adaptação como autônomos. 

 

Problemas com a empresa

Um ponto importante para reflexão é identificar se a vontade de se tornar um freelancer nada mais é do que fruto de uma insatisfação temporária em relação à empresa, ao chefe ou ao relacionamento com os colegas de trabalho. "Qualquer carreira terá momentos bons e ruins, e saber lidar com eles é um bom sinal. Algumas pessoas acham que não ter um chefe resolve todos os problemas. Isso é ilusão, pois sempre se terá alguém com quem trabalhar, seja um fornecedor ou um cliente. A capacidade relacional deverá ocorrer em qualquer tipo de carreira que se escolha", diz a psicóloga e consultora em recursos humanos Cíntia Bortotto. 

Para Stefania, o momento que o profissional está vivendo na empresa precisa ser avaliado com cautela. "É primordial avaliar a satisfação, as expectativas a curto e longo prazo e as perspectivas de crescimento versus os possíveis ganhos e a duração do trabalho na carreira como freelancer", diz .

Se mesmo assim as dúvidas persistirem, o ideal é compartilhar as dificuldades e incertezas no trabalho e na carreira com um aconselhamento profissional de um bom coach. "Muitas empresas têm a cultura de aconselhamento com o próprio RH, que deve conseguir ser imparcial na avaliação do perfil do colaborador e das possíveis situações de insatisfação diante do momento da empresa", diz Stefania. Segundo ela, a troca de experiências com amigos ou pessoas que já estão atuando como freelancer também auxilia na decisão.

Caso a decisão tenha sido seguir a carreira como freelancer, há alguns pontos que o profissional deve ter em mente. "É importante conhecer o mercado, conhecer qual o tempo de maturação do seu negócio e saber se tem reserva financeira para suportar esse período. Além disso, é preciso ter os pés no chão e contar com assessoria profissional", diz o coach Homero Reis.

Fugindo do chefe

De acordo com Cíntia, o principal ponto que leva as pessoas a deixarem as organizações é a gestão. "As pesquisas comprovam que os empregados deixam o chefe, e não a empresa. Portanto, uma boa gestão pode fazer a diferença entre querer ficar ou sair", diz. Segundo ela, também são fatores decisivos a identificação entre os seus valores e os da empresa e a possibilidade de aprender e crescer naquela instituição.

Outros motivos que levam o profissional a não querer mais trabalhar naquela empresa são o ambiente de trabalho negativo, pouco reconhecimento financeiro, falta de expectativas de crescimento e uma demanda excessiva de trabalho. 

Caso o profissional opte por sair da empresa, o mais importante é expor os reais motivos e ter uma conversa sincera com o chefe. "Sinceridade, transparência, troca de informações e experiências entre os profissionais e seus superiores é positiva, pois gera cumplicidade e pode inclusive criar futuros incentivos e laços comerciais. É importante uma preparação no momento de expor seu dilema ao seu gestor para que não seja interpretado de forma errada", diz Stefania.