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Solteirice não é sinônimo de solidão nem motivo para tristeza

Estatísticas mostram que cada vez mais as pessoas optam por viver sem se casar - Thinkstock
Estatísticas mostram que cada vez mais as pessoas optam por viver sem se casar Imagem: Thinkstock

Julliane Silveira

Do UOL, em São Paulo

12/06/2013 07h00

O escritor irlandês Oscar Wilde já disse que os solteiros ricos deveriam pagar o dobro de impostos, porque não era justo eles serem tão felizes. Provavelmente, ele se referia às oportunidades aparentemente melhores de quem não se casou: sair mais, ter mais tempo para os amigos e mais dinheiro para gastar.

Ninguém pode afirmar que é sempre assim, mas alguns estudos indicam que Wilde tinha razão. Um deles, realizado por uma socióloga da Universidade de Cornell, nos EUA, mostra que solteiros com mais de 35 anos têm mais chances de passar uma noite com amigos ou vizinhos do que os casados. O trabalho tem uma amostra bastante representativa: foram analisados dados de mais de 55 mil americanos, entre 2000 a 2008.

Em fevereiro de 2013, o Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) divulgou uma pesquisa sobre a vida social de solteiros e casados feita com brasileiros de nove capitais e também do interior dos estados do Sul e do Sudeste. Realizado entre fevereiro de 2011 e fevereiro de 2012, o estudo entrevistou pessoas de 12 a 75 anos revelou que, por aqui, os solteiros também se encontram mais com amigos (45% deles, contra 38% dos casados), vão mais a shows (32% contra 22%) e saem mais para dançar (25% ante 17%). 

"Estar solteiro propicia uma vida social mais dinâmica. Não tem nada a ver, mas as pessoas deixam de chamar os casados para sair por medo de atrapalhar a relação e a rotina deles", avalia o dentista Rodrigo Campos, 36, que morou com a namorada por três anos e está solteiro novamente.

Rodrigo acredita que é bobagem criar rótulos para os dois grupos e que a solteirice não está necessariamente ligada a uma vida solitária. "No momento, estou solteiro por opção. E acho que qualquer pessoa pode ser feliz sem um par".

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Solteiros e felizes

Acreditar que a vida de solteiro é sempre acompanhada de solidão é um equívoco que está sendo deixado para trás. As estatísticas mostram que cada vez mais as pessoas optam por viver sem se casar.

Os últimos dados da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio), feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apontam que o número de solteiros ultrapassou o de casados no país pela primeira vez: em 2011, 48,1% se declararam solteiros e 39,9%, casados.

"Talvez haja hoje um descrédito na relação conjugal e, por isso, o número de solteiros cresça dessa forma", afirma o psicólogo Marcelo Labáki Agostinho, responsável pelo Serviço de Atendimento a Famílias e Casais do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo).

Um estudo realizado por outro grupo da Universidade de Cornell foi desenvolvido para comparar casais oficialmente casados com os que vivem juntos sem validação oficial. Mas, em um momento do trabalho, os pesquisadores constataram que foram os solteiros que acabaram manifestando uma relação mais intensa com familiares e amigos.

"É um mito pensar que estar casado evita a solidão. A verdade é que ninguém garante que um casamento traga bons vínculos. E o solteiro também pode criar ótimas relações de amizade, circular por grupos e ter uma boa qualidade de vida", diz Agostinho.

Ainda assim, quem não se casa sofre pressão da família e de outros grupos sociais para constituir família, sob risco de ficar abandonado na velhice. E a tensão acaba pesando para quem vive a solteirice. "Eu ainda quero casar e ter filhos, mas a gente sabe que não acontece para todos", diz Juliana Precioso, 34, analista de faturamento hospitalar.

"Antes, eu tinha muito medo de me sentir só. Hoje eu vivo cada dia de uma vez e faço valer a pena. Saio com amigos e adoro ficar sozinha em casa, curtindo um filme, lendo um livro. É muito raro eu ter um momento de solidão, de tristeza", diz.

  • Leandro Moraes/UOL

    "Saio com amigos e adoro ficar sozinha em casa, curtindo um filme, lendo um livro. É muito raro eu ter um momento de solidão", Juliana Precioso, 34

Para Juliana, a internet também é uma grande aliada dos solteiros, sobretudo de quem mora sozinho. As redes sociais ajudam a manter as relações na correria do dia a dia e facilita os encontros. "Além de ajudar a marcar programas, é muito mais fácil manter os assuntos em dia. Nem parece que fico sem ver alguns amigos por muito tempo", diz.

A qualidade de vida do solteiro está muito ligada à forma como encara seu estado civil, segundo a psicóloga Adriana Zilberman, diretora do Centro de Estudos da Família e do Indivíduo de Porto Alegre.

Se o assunto não é bem resolvido, os sentimentos de solidão e abandono podem surgir. "A pessoa pode ter medo da intimidade com outra, fugir e evitar relações mais duradouras. E pode estar sozinha por receio de ser rejeitado, e não por opção. Esses processos muitas vezes não são fáceis de identificar e geram sofrimento", diz.

Por isso, é importante a pessoa tentar entender o motivo pelo qual está solteira e aprender a lidar de maneira leve e descontraída com essa fase da vida. "Existe, sim, um preconceito velado. Para fazer frente a isso, é preciso ter uma autoestima bastante estabelecida e uma boa vida social", diz Agostinho, da USP. "Não existe só um modelo na sociedade. Ser solteiro é uma escolha e um modo de vida".