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Ataque de fúria por ter sido traído pode ter graves consequências

Ter um ataque de fúria ao descobrir uma traição trará apenas um prazer momentâneo, seguido de culpa - Orlando/UOL
Ter um ataque de fúria ao descobrir uma traição trará apenas um prazer momentâneo, seguido de culpa Imagem: Orlando/UOL

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

08/07/2013 08h08

Descobrir que a pessoa amada foi infiel é uma das dores emocionais mais fortes e difíceis de enfrentar. Além de ver o sonho de construir uma vida em conjunto ruir, o parceiro traído sofre uma queda na autoestima que pode prejudicar sua capacidade de confiar nos outros e em si mesmo. Com os sentimentos de rejeição e desamor acionados, vai precisar de um tempo de elaboração para voltar a lidar com os acontecimentos de maneira equilibrada.

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Muita gente, porém, transforma a mágoa em raiva e acha que que só pela vingança poderá se sentir melhor. "As pessoas são capazes, sim, de fazer loucuras quando descobrem que foram traídas", diz a psicoterapeuta Sandra Samaritano. 

O desejo de se vingar é algo inerente ao ser humano. Todos nós já imaginamos aquela pessoa que nos feriu sofrendo de alguma forma, mesmo que a situação não saia da fantasia. Esse desejo é sentido desde criança, quando somos contrariados ou nos sentimos frustrados.

Segundo a psicóloga Raquel Fernandes Marques, dar o troco costuma trazer prazer, porque aciona uma o núcleo caudado, parte do cérebro que é responsável pelo sentimento de recompensa. "No entanto, ao vingar-se, a pessoa normalmente age por impulso e quase sempre se arrepende e, pior, acaba pagando um preço alto por seu comportamento", afirma a especialista.

A psicóloga explica que o sentimento de vingança se assemelha ao efeito das drogas. "Na hora da ira, a adrenalina impulsiona a tomar determinadas atitudes e nesse momento sentimos um enorme prazer, mas depois nos arrependemos e caímos em depressão ao perceber que de nada adiantou nosso ataque de fúria", conta. A pessoa revoltada, então, retoma todos os sentimentos negativos para si mesma.

Insensatez criminosa

 
Trair para dar o troco ou jogar os filhos contra o parceiro traidor são algumas das atitudes movidas pelo ódio com resultados mais desastrosos para toda a família. No entanto, alguns tipos de vingança são considerados crimes pelo Código Penal.

Um caso conhecido que serve de exemplo é a gravação da conversa entre duas mulheres de Sorocaba quando uma descobriu que a outra estava tendo um caso com seu marido e reuniu provas –incluindo e-mails com conteúdos eróticos– para confrontá-la. A briga, que aconteceu em 2010, foi gravada em vídeo pela traída, compartilhada entre amigos e posteriormente postada no YouTube. No início de 2013, a traída foi condenada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo a pagar à ex-amiga uma indenização de R$ 67 mil pela conduta


De acordo com o advogado Alexandre Atheniense, especialista em novas tecnologias, atrair um rival para uma armadilha com o objetivo de tomar satisfações não configura crime, a não ser que haja ameaça. A questão, no exemplo citado, foi o caso ter ido parar na internet –a humilhação pública é entendida como dano moral.

"Uma conduta que vem sendo recorrente e que também é criminosa é a perseguição online. Ela pode ser tratada como ameaça com um agravante quando a vítima é mulher tipificada pela Lei Maria da Penha", lembra o advogado.
 
Xingar, difamar e caluniar são atitudes que podem ser entendidas como crime contra a honra. "O mesmo vale para quem vai até a porta da casa ou a empresa do antigo parceiro para fazer escândalo pelo simples prazer de ver o outro passar vergonha. Conforme o conteúdo das declarações, pode caracterizar crime contra a honra", diz o advogado Vladimir Balico, da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo (SP).

Destruir ou estragar pertences do outro pode ser configurado como dano ao patrimônio. Embora cada conduta tenha uma pena específica prevista pelo Código Penal, não há como estimar uma média de anos de reclusão ou definir se ela poderá ser cumprida com serviços comunitários. Cada caso é um caso. Mas a consequência é sempre desastrosa.
 
Antes de tomar uma atitude extrema ou movida pela raiva, vale a pena tentar fazer um esforço e parar para refletir. Detonar o "ex" ou a "ex" pelas redes sociais pode parecer uma boa ideia a princípio, mas e depois? Qual ganho você terá com isso? Para a psicóloga Raquel Fernandes Marques, assumir parte da responsabilidade pela traição, para muita gente, ajuda a ver a situação sob uma ótica diferente.

"Em uma relação conjugal não existem culpados e inocentes; a responsabilidade de sucesso e fracasso é dos dois. Mesmo que de forma inconsciente, em muitos casos, somos nós que permitimos que as traições aconteçam, pois certas vezes deixamos o relacionamento de lado", afirma Raquel.

Buscar entender os motivos da infidelidade é um bom exercício para não se fixar no desejo de vingança. "Com raiva, não existe abertura para compreender a outra parte. A pessoa não enxerga, assim, se contribuiu ou não para a traição nem consegue fortalecer a autoestima para seguir adiante", afirma a psicóloga.

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