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Homens também praticam pole dance, mas enfrentam preconceito

Andrezza Czech

Do UOL, em São Paulo

21/10/2013 15h43

Quando eles contam qual esporte praticam, costumam receber em troca um olhar crítico. Mas, embora ainda seja tratado por muitos como uma dança sensual feminina, o pole dance tem ganhado cada vez mais adeptos homens no Brasil. Em 2011, a categoria masculina foi colocada pela primeira vez no Campeonato Paulista de Pole Dance, mas apenas três competiram. Em 2012, o número de participantes aumentou para oito e, em 2013, dez.

Segundo a educadora física e especialista em pole dance Mari Silva, diretora da Vertical Fit e presidente da Federação Paulista de Pole Dance, os próprios homens têm vergonha de praticar o esporte. "Como a maioria das praticantes é mulher, poucos têm coragem. Ainda há muito preconceito e eles temem ouvir piadinhas dos amigos", diz ela.

O estudante de educação física Jon Meneghel, 28 anos, de Presidente Prudente, interior de São Paulo, sabe bem que as pessoas estranham homens que praticam pole dance. "As pessoas ainda não entendem o esporte, acham que é algo de boate. Para resolver isso, ando com vídeos no celular para mostrar que o que eu faço é uma atividade física que exige muita força e flexibilidade", diz.

Segundo Mari, até as mulheres sofriam preconceito por praticar pole dance, pois havia a ideia de que quem praticava era stripper. Ao perceber que amigos homens queriam praticar pole dance e as escolas não ofereciam o curso, Mari abriu, em 2010, uma turma exclusivamente masculina. No entanto, ela acabou sendo invadida por mulheres, que perceberam que a aula para eles trabalhava mais a força muscular.

A aula para homens é bem diferente da feminina. Não costuma ter movimentos sensuais e a força exigida é bem maior. "Senão o estilo fica mais próximo ao dos 'go go boys'", justifica Mari. Mas o número de alunos ainda é pequeno, se comparado ao de mulheres. Segundo Mari, em 2012, a escola teve uma média de 150 alunos. Deles, apenas 12 eram homens. 

"Antes de virem até a escola, eles fazem muita pesquisa, ligam fazendo várias perguntas e só então assistem a uma aula para ver como é a atividade. Tive um aluno que, mesmo depois de assistir, demorou meses até ter coragem de se matricular", diz Mari.

Campeão brasileiro de 2010 e 2011, o professor de pole dance Julio Peixoto também percebe que os homens vão às academias à procura do esporte com o pé atrás. "Quando peço para que eles testem um movimento, eles percebem o quanto é difícil e o quanto de força o esporte exige. No fim, acabam ficando", diz ele. Mas nem todos aguentam a dor típica do início de uma atividade que exige força e resistência. "Já tive casos de desistência, pois não é fácil", afirma.

Professor de turmas masculinas em duas escolas do Rio de Janeiro, o Studio Anna Bia e o Up Dance Studio, Peixoto afirma que seus alunos têm entre 19 e 25 e procuram o esporte para se divertir, sem o intuito de competir. E todos costumam não gostar de frequentar a academia tradicional.

Seu aluno Thiago Abdalla, 23 anos, formado em moda, tem esse perfil. Depois de fazer aulas de dança e musculação, decidiu praticar um novo esporte. "Acho academia algo meio chato, sempre gostei de dança. Já fiz muito hip hop, street dance. Uma amiga me mandou um videoclipe de pole dance e me apaixonei". Para ele, que já havia feito três anos e meio de kung fu e tinha um bom preparo físico, o mais difícil foi travar as pernas na barra. "Dói muito, parece que está rasgando a perna", diz.

 

Mesmo com a vantagem de, geralmente, terem maior força física, os homens que se arriscam no pole também enfrentam desafios. O cabeleireiro e estudante de educação física Fernando Pereira, 33 anos, de Cotia, Grande São Paulo, pensou que não conseguiria fazer muitas aulas por conta da falta de flexibilidade. "Eu sempre pratiquei atividade física, mas tive muita dificuldade com o pole no começo. Achava que não ia completar o movimento, mas consegui, e isso me motivou a continuar", diz.

Apaixonado por esportes que trabalham a força muscular, Ulisses Fenix, 29 anos, era fisiculturista quando conheceu o pole. Pesando 96 kg e com 1,75 m de altura (hoje ele está 6 kg mais magro, por conta do pole dance), Ulisses assustou sua treinadora com seu tamanho. "Os homens que fazem pole dance são bem mais magros. Quando participo de um campeonato, acham que não vou conseguir subir na barra ou que vou parecer um ogro", diz ele.

Fenix já estava acostumado com atividades físicas diversas quando conheceu o pole: era professor de dança de salão, lutador de jiu-jitsu e capoeira, e dançava balé. “Gosto de quebrar paradigmas, de conhecer coisas novas. O fisiculturismo não tem nada a ver com pole, nem com balé, mas isso te deixa preparado para coisas novas. O preconceito ainda existe, mas é uma besteira que está se perdendo", diz. 

O fisioterapeuta e artista circense Luiz Lobassi, 28 anos, hoje professor de pole dance do Studio Art Fit, também acredita que o estranhamento que os homens enfrentam ao fazer o pole dance é algo passageiro. "O pole é um esporte que eleva muito a autoestima e a confiança, porque a pessoa percebe que é capaz de fazer algo complicado e vê o corpo mudar muito rapidamente. Acredito que, em alguns anos, o pole vai ser uma das atividades físicas mais conceituadas, pelo beneficio corporal que proporciona", diz.