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Você já se perguntou se o que sente é amor? Entenda a razão da sua dúvida

Você vive quebrando a cabeça questionando seus sentimentos? Não se preocupe, isso é natural - Getty Images
Você vive quebrando a cabeça questionando seus sentimentos? Não se preocupe, isso é natural Imagem: Getty Images

Marina Oliveira e Rita Trevisan

Do UOL, em São Paulo

26/11/2013 07h01


Você já se perguntou: será que o que eu sinto é amor? Se a resposta foi sim, fique sabendo que você não está só. Questionar os sentimentos é normal, mesmo para quem vive um relacionamento feliz. 

Explicar o amor é difícil mesmo para a psicologia e a psiquiatria. "É muito mais fácil emprestarmos atributos para o amor do que defini-lo", diz o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, doutor em ciências médicas pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo). 

Para o psicólogo Ailton Amélio, professor do Instituto de Psicologia da USP e autor do livro "O Mapa do Amor" (Editora Gente), essa insegurança só aparece porque temos uma tendência a comparar o nosso afeto com um sentimento idealizado, quando, na realidade, há várias maneiras de percebê-lo e demonstrá-lo.

"Tem muita gente que ama sem intensidade. Esses sentimentos avassaladores, que alteram os estados de consciência, não são para todos. Muitas pessoas ouvem falar desse tipo de amor e, por não sentirem nada tão forte, concluem que não amam", explica Amélio. 
 
O psicólogo esclarece ainda que, enquanto alguns estão mais abertos a se apaixonar e precisam de pouco estímulo do outro para se encantar com o relacionamento, pessoas extremamente pragmáticas tendem a examinar racionalmente as qualidades e defeitos do parceiro antes de se envolver.
 
Por conta dessa diferença, algumas pessoas podem não vivenciar o sentimento tão intensamente quanto outras, ainda que todas se sintam satisfeitas com a relação.

Do vendaval à calmaria

 
A inevitável passagem da paixão para o amor também pode causar dúvidas. Isso porque, durante um período, que geralmente varia de seis meses a dois anos, o apaixonado é movido por um desejo de estar o tempo todo com a outra pessoa.

Porém, quando essa fase acaba, os sintomas psíquicos e físicos ligados à paixão, assim como a intensa atividade cerebral e hormonal, típicas desse estado, diminuem.
 
É nesse momento que pode surgir a dúvida sobre a viabilidade de continuar com o relacionamento. "Algumas pessoas precisam estar constantemente apaixonadas. Outras vão permitir que o sentimento evolua, mudando suas características para, de fato, amar", diz Amélio. 
 
Com o final da paixão, até os mais românticos têm a oportunidade de conhecer o outro como ele é, o que pode transformar o encantamento em amor ou, então,em frustração.

"Quando você começa um relacionamento, é o melhor lado de cada um que se comunica. Mas a convivência evidencia as características reais de ambos, o que pode provocar estranhamento e a conclusão antecipada de que não vale mais a pena continuar", explica a terapeuta de casais Margareth dos Reis, doutora em ciências pela USP (Universidade de São Paulo). Porém, é a partir da decisão de persistir e de lidar com as frustrações que se começa a amar. "É preciso construir um relacionamento, ele não vem pronto", diz. 
 
O amor também pode variar de acordo com o momento que cada pessoa está vivendo. "Tem horas que amamos mais, outras que amamos menos. Quando você está com raiva ou muito preocupado com o trabalho, por exemplo, o cérebro libera espaço para que você consiga lidar com outras situações. Não devemos, portanto, tirar conclusões a partir dessas oscilações", explica Amélio. 
 

Afinal, o que é o amor?

 
O primeiro passo para identificar o amor é perceber em si mesmo outros sentimentos e motivações. Se for capaz de notar quando está com raiva, ódio e inveja, por exemplo, também terá mais facilidade para enxergar nitidamente a paixão, a atração sexual e, finalmente, o amor.
 
"Durante a vida toda, temos de distinguir o que sentimos do que pensamos. É preciso saber avaliar o que está ocorrendo internamente, a partir da observação e da reflexão", afirma Ferreira-Santos. 
 
A falta de autoconhecimento pode fazer com que muitos sentimentos sejam batizados de amor, mesmo sendo totalmente díspares, como é o caso do ciúme.

"Muitas pessoas acham que só porque sentem ciúme do outro estão amando. Mas isso indica carência, tentativa de controlar o outro e insegurança. Não é prova de amor”, diz o psiquiatra, que também é autor do livro "Ciúme: o lado amargo do amor" (Editora Ágora). 
 
Para ser amor, é preciso unir três ingredientes: amizade, paixão e compromisso. "Se for um relacionamento que só tem compromisso, é como um casamento arranjado. Quando existe só amizade, a atração está ausente. E na paixão pode faltar um dos outros dois ingredientes citados anteriormente, que são essenciais. Por tudo isso, dizemos que o amor é um sentimento complexo", diz Ailton Amélio. 
 
Segundo os especialistas, o amor não deve trazer sofrimento: ao contrário. "O amor pode estar relacionado ao cuidado, ao zelo e à proteção que um oferece ao outro. Sofre quem entrega ao companheiro o controle da própria vida", declara Margareth.

Por fim, vale saber que o amor só funciona quando duas pessoas inteiras se unem. "É preciso que cada um saiba da responsabilidade que tem na conquista da própria felicidade", diz a terapeuta.