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Arrepender-se é normal, mas é preciso perdoar a si mesmo

Quem faz escolhas na vida está sujeito a se arrepender - Thinkstock
Quem faz escolhas na vida está sujeito a se arrepender Imagem: Thinkstock

Marina Oliveira e Rita Trevisan

Do UOL, em São Paulo

03/03/2014 08h00

Durante a vida, fazemos escolhas o tempo todo. E é natural que, com o amadurecimento, e sentindo na pele as consequências de algumas decisões, surja o arrependimento por alguns dos rumos tomados.

“Todas as pessoas se arrependem de suas escolhas em algum momento da vida, sem exceção”, declara a psicóloga Angelita Corrêa Scardua, doutoranda em Psicologia Social pela USP (Universidade de São Paulo).                                                                                                                                   

Assim, podemos nos sentir insatisfeitos, e até sofrer muito, por conta de decisões que afetaram a vida pessoal ou profissional. Há quem se arrependa de não ter dado tanta atenção a um relacionamento afetivo que terminou precocemente, de ter escolhido o parceiro errado para uma relação mais duradoura, de ter arriscado muito ou pouco durante a trajetória profissional, desperdiçando oportunidades.

“O arrependimento em si não é bom ou ruim. Mas ele pode nos ajudar a crescer e a melhorar”, diz a psicoterapeuta Dorli Kamkhagi, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).

Ela explica que o arrependimento sincero pode ser o primeiro passo para um processo que nos ajudará a entender a razão da atitude tomada que nos prejudicou tanto ou a outras pessoas. No entanto, esse deve ser um processo com início, meio e fim.

“É necessário olhar para a vida em perspectiva, na tentativa de entender porque agimos daquela forma. A partir daí, temos que tirar uma lição do erro e seguir em frente, levando aquele aprendizado conosco. Isso é o que vai evitar que a gente volte a cometer o mesmo deslize”, explica Angelita.

Para algumas pessoas, a fórmula não é tão simples assim, por conta da culpa que geralmente acompanha a constatação do erro.

“Quando a pessoa não consegue se perdoar, o arrependimento ganha um peso imenso. Fala-se muito de perdoar o outro, mas poucos praticam o autoperdão, que é importante para ser feliz”, diz a psicóloga Lilian Graziano, diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento e doutora em Psicologia pela USP .

Tortura mental

A culpa geralmente se instala quando julgamos uma atitude do passado com a cabeça e o amadurecimento do presente. O que, além de ser cruel, não leva a transformação pessoal alguma.

“As pessoas fazem o melhor que podem com o conhecimento que têm na hora em que estão passando por determinada situação. Depois de um tempo, é justo que elas voltem a avaliar o cenário e que cheguem à conclusão de que poderiam ter feito diferente. Só é preciso lembrar que, naquela época, elas não tinham a experiência que têm hoje”, diz a psicóloga Denise Pará Diniz, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Da mesma forma, é preciso uma dose de humildade para aceitar o erro e para readequar nossas expectativas que, em geral, são altas demais. “É fundamental saber que, em algum momento das nossas vidas, erramos ou vamos errar. Somos humanos e suscetíveis a cometer diferentes enganos”, diz Dorli.

Ficar triste, chorar e remoer o ocorrido, por um tempo, faz parte do processo de se arrepender. Mas prolongar esse quadro pode levar a uma depressão e, pior, à repetição do mesmo erro.

“Perdoar-se é fundamental para seguir em frente. Ao ficar preso emocionalmente ao que já passou, a tendência é repetirmos o erro, porque não conseguimos parar para refletir sobre a importância que ele teve em nossas vidas”, explica Angelita.

A psicóloga diz que é preciso ter em mente que os erros são tão importantes quanto os acertos. “Se uma pessoa pudesse jogar fora todos os seus erros, ela deixaria de ser quem ela é”, diz Angelita.

“Quando aceitamos as boas e más decisões que tomamos em nossas vidas, estamos em um processo verdadeiro de crescimento, enxergamos muito além dos acontecimentos, sob uma ótica mais ampla e abrangente”, declara Dorli.

Quanto ao passado, só nos resta mudar a forma de enxergá-lo, já que os acontecimentos não podem ser alterados. O presente, em compensação, pode ser modificado. “Manter-se no papel de vítima é se colocar como alguém que não tem recursos para ser feliz. E todos temos autonomia. Ficar preso ao passado é ignorar tudo o que você pode construir daqui para a frente”, diz Denise.